Cidade das Estrelas

Capítulo 6

Eu já tinha arquitetado um plano perfeito e contava com a ajuda de Alex.

O primeiro imprevisto foi que quase todo mundo que morava temporariamente naquela casa voltou do hospital. Inclusive a minha mãe. Então tive que reorganizar o plano.

Era quase oito horas da noite quando a minha mãe veio falar comigo.

- Oi filha, queria conversar com você.

Eu estava conversando com a Laura e com o Alex sobre esse meu plano estupido. Laura estava no Brasil e não parava de me mandar mensagens. O que agradeço, pois com certeza se não fosse essas mensagens banais que ela me mandava, não sei como estaria. E posso afirmar que eu tenho a melhor amiga do mundo. É meio clichê? É, mas é a mais pura verdade. E o Alex estava na cozinha aqui, da casa da minha avó. Ele que teve a ideia de conversar por mensagem. Seria muito arriscado conversar pessoalmente, minha mãe seria a primeira a desconfiar. Eu tinha acabado de mandar uma mensagem pra ele, mandando ele ir embora. Por que daqui a pouco eu ia sair, pra gente se encontrar lá fora. E seria muito conspiratório se nós saíssemos no mesmo tempo.

- Fala mãe - disse enquanto digitava sem parar, falando pra Laura tudo o que aconteceu desde que eu cheguei aqui.

Mas ao invés da minha mãe falar o que queria comigo, um dos meus filhos do primo da minha mãe pegou o meu celular.

- Mãe! - gritei na tentativa de fazer a minha mãe xingar ele. Mas isso não aconteceu. Lucas olhou para o aparelho durante poucos segundos depois se virou para mim com um olhar divertido. Eu olhei pra ele com fúria, querendo correr até ele e lhe dar uns bons tapas. Que menino atrevido! E para minha humilhação ele começou a ler as minhas mensagens. Em alto e bom som.

- Cara, tipo quando eu vi o Alex meu coração acelerou de tal forma que eu pensei que fosse explodi. E tipo. Caraaaaa ele tá muitooo gosss... - não esperei ele terminar corri atrás dele com a cara vermelha de vergonha. Ele me fez correr atrás dele em volta do sofá. Quando eu estava quase alcançando o infeliz, ele jogou o celular na minha direção e se eu não tivesse um reflexo de gato ele estaria no chão. E é claro que eu não tenho um reflexo de gato. Peguei meu celular do chão e conferi pra ver se a tela não tinha quebrado. Por sorte ela nem trincou. Quando pensei em correr atrás dele, ele disparou pela cozinha e eu estaquei no lugar. Alex estava encostado na parede com as bochechas vermelhas e um meio sorriso no rosto. Isso foi a confirmação que eu precisava pra saber que ele escutou a bosta do menino lendo as minhas mensagens.

Ele limpou a garganta e se despediu. E eu olhei para os meus pés, não tive coragem de olhar na cara dele. Naquele momento eu só queria que um buraco se abrisse no chão... ou melhor precisaria de um buraco negro bem no meio do espaço, pra esconder o tamanho a minha vergonha.

Quando ele saiu, minha vontade era voltar na cozinha e bater a cabeça de Lucas na parede até ele ficar inconsciente. Mas o que eu realmente fiz foi subir as escadas correndo e trancando a porta do quarto. Isso seria a desculpa perfeita.

Conferi as horas no meu telefone e eram 23:37. Beleza, vai ser agora.

Abri o guarda roupa e minha quantidade limitada de roupas me fez fraquejar por um momento. Eu nem tinha roupa direito, e com que roupa as pessoas costumam usar para invadir alas hospitalares?

Coloquei uma calça jeans preta e uma blusa de lã preta com mangas compridas. O visual ficou estilo meio ninja. Então tirei e coloquei uma calça jeans qualquer e uma blusa escolhia a dedo. Acho que um visual mais despojado não vai chamar atenção. Ninguém vai suspeitar de uma garota usando roupas simples. Estava terminando de prender meu cabelo em um rabo de cavalo, quando meu telefone apitou com uma nova mensagem.

Corri para pegá-lo. Era uma mensagem do Alex. Pedindo pra convencer o Lucas a ir com a gente.

Não. Tá doido? A única coisa o Lucas vai fazer é chamar atenção e estragar o nosso plano.

A resposta demorou apenas alguns segundos.

Estou contando com isso.

Com um suspiro derrotado fui caminhando silenciosamente pelo corredor e bati na porta que eu julgava ser a porta do quarto do quarto dele. Que seja a porta dele, seria muito mico, se fosse sei lá a porta dos pais dele. Bati mais uma vez e nada. Estava pronta para ir embora, teria uma desculpa... Meus pensamentos foram embora igual fumaça quando ouvi o rangido da porta de madeira ser aberta. Um Lucas com cabelos os espessos cabelos negros bagunçados e uma cara de sono apareceu no vão da porta e quando me viu tornou a fechar a porta. Isso me encheu de raiva e antes que eu pudesse pensar duas vezes já estava esmurrando a porta do quarto dele novamente e nem um pouco discreta.

- O que você quer!?

Lucas abriu a porta de repente e aquela cara mal humorada dele me fez querer lhe dar um tapa.

- Você! - respondi instantaneamente. Péssima escolha de palavras. Vi pela pouca luminosidade um sorriso começar a aparecer. Credo. Antes que eu pudesse consertar o que havia dito ele começou a falar.

- Eu sabia! Sabia que você não resistiria aos meus encantos. - Aquele sorriso ainda estava no rosto dele. - E olha que eu nem tentei. Vamos! Entre, Entre! - E deu um passo para frente, me puxando pelo braço para a escuridão de seu quarto.

- Não é nada disso, seu imbecil! Eu preciso da sua ajuda. - disse quando coloquei os pés dentro daquele dormitório.

- Ah, claro. Eu já tinha suspeitado. As pessoas só me procuram quando querem a minha ajuda.

- Por favor, Lucas me ajuda. Eu... eu posso - O que eu poderia fazer em troca por ele?

- Posso...? - Ele me instigou a falar.

- O que você quer? - Perguntei.

- Fácil. Quero ser famoso. Ganhar na loteria. Ter uma namorada...

- Querido, eu não faço milagres. O Que você quer que eu possa te dar?

- Uma namorada? - ele perguntou, com as bochechas ficando um pouco vermelhas.

- Ah, toma vergonha nessa sua cara! Já falei que eu não faço milagres. Vai me ajudar ou não?

- Ajudar com o quê? Eu realmente não vejo como posso te ajudar.

- Bom, nesse ponto eu concordo com você, também não sei como você pode me ajudar. Mas o Alex sabe.

Nessa hora meu celular apitou com a chegada de uma nova mensagem.

Estão prontos?

O bicudo do Lucas já estava do meu lado e tinha lido a mensagem.

- Eaí, estamos prontos? - perguntei e ele apenas balançou a cabeça confirmando. Contive a vontade de bater palmas e abraça-lo. E enviei a resposta para o Alex.

Estamos.

Continua...