Massacre

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Senti a chuva e o vento frio no rosto me trás de volta a realidade, eu queria continuar andando pra não ter tempo de pensar no que eu deixei pra trás, mais eu não aguentava, minhas pernas simplesmente me levaram ao chão perto de uma arvore. E agora todas as imagens voltam lentamente a minha cabeça... Toda a dor, o sangue, a perda, as pilastras que faltavam em minha mente, momentos em que eu sentia dor e não me lembrava por que. Como se eu tivesse perdido momentos da minha vida enquanto era torturada. Confesso que os malditos anjos fazem isso melhor do que os seres humanos, o que me levava sempre a inconsciência. Eu nunca achei que fosse sofrer tanto, e com se estivesse de volta ao cativeiro que vive boa parte da minha vida, os traumas ficaram mais intensos eu mal podia piscar que uma sena vinha como m flash e me levava ao arrepio e ao medo, a dor cortante que alastrava no meu estomago. Tudo ao meu redor agora parecia perigosamente ameaçador, dês da chuva que caia ate o escuro atrás e mim. Como se olhos me observassem. Me esgueirei entre os arbustos e galhos que pareciam mãos ossudas fechando atrás de mim e vi uma luz correndo um pouco mais a aferente, me aproximei e vi a rua, sentia o cheiro do asfalto molhado, olhei para cima e vi uma casa, a minha casa, eu estava de volta onde tudo começou. Toquei com a mão na rua e um carro passou correndo atirando água em mim os fios dos meus cabelos batiam no meu rosto como chicotes o que fez com que minhas costas se retorcessem só de me lembrar das laminas de prata me cortando.

Corri ate o outro lado da rua, criando força dentro de mim e me esgueirei na sombra para perto da casa, era como se e fosse um caçador – e eu me sentia como tal – e o que quer que estivesse ali dentro era minha presa. Eu queria, eu precisava do sangue deles, precisava sentir o calor humano, o poder fluir de novo por minhas veias secas, que pareiam lixas dentro do meu corpo. Por quatro meses – ou eu pelo menos acho que foram - eu fui chamada de monstro é e isso o que eu sou graças a eles. Eu voltei e não me lembro de muita coisa boa do meu passado, mais o que eu sei e que tenho que ser o monstro, todos devem temer a mim, não preciso ser amada e sim temida, o contrario eu seria um animal domável, e eu não vou voltar a ser, eu não vou ser torturada novamente como um animal em cativeiro, e se pra isso eu tiver que matar metade da raça humana eu vou.

Olho pela janela e vejo um homem uma mulher com cabelos ruivos preso em um coque e uma garotinha. E isso me trás lembranças, nada desagradáveis. Sinto m nó se coisas ruins se acumular na minha garganta. Bato na porta decidida do que estou prestes a fazer. A porta se abre e o primeiro rosto que vejo e o da garotinha, cabelos compridos e pretos, olhos grandes e azuis, bochechas rosadas, ela lembra a mim mesma quando pequena, e ela sorri, mais seu sorrio de volta, e minha aparência também não leve estar nada agradável para continua a faze – lá sorri, seu sorriso desaparece e ela da pequenos paços pra trás e se esconde atrás as pernas a mãe. Eu sei que o medo que ela sente, isso devia entrar e quebrar a barreira do meu coração, por que eu passei exatamente o que ela vai passar, mais eu não sinto nada, e não vou voltar atrás.

- Esta perdida? – a voz da mãe me leva a olhar para ela.

Balanço a cabeça levemente em negação.

- Então quem e você? – ela se mantém distante de mim.

Um sorriso quase imperceptível cresce – ao menos eu o sinto. Continuo em silencio e meus olhos me levam a garotinha novamente.

A mulher de cabelos presos e blusa lilás, me olha curiosa. – Você esta drogada?

Ou alguns paços para frente enquanto elas inconscientemente vão para trás. A mulher chama o marido Paul, ele sai de algum cômodo e vem para cima de mim, como se quisesse me deter

- Ei garota e melhor você ir embora. – ele disse com autoridade, mais vejo seu olhar vacilar ele esta apreensivo tanto quanto a mãe.

Mais não a garotinha. A garotinha esta curiosa pra saber o que eu vou fazer, ela não grita apenas observa. Fecho a porta atrás de mim, enquanto Paul segura meu braço e eu o jogo contra a parede com uma das mãos enfaixadas sem tirar os olhos da garota. Ouço suas costelas rangerem, vejo os braços da mãe em volta da filha agora.

- O que você quer? – ela pergunta histérica.

- Agora – volto meu olhar para a mãe – Que você cale a boca.

- Não temos dinheiro. – ela diz em meio aos choramingo olhando para mim agarrando a filha e depois para o marido desacordado no chão.

Minha mente pensa rápido em uma resposta, mais eu traço outros planos, falar só me faria perder tempo, tempo de forças e energia que eu já quase não tinha. Sinto a pele dos meus dedos se repuxarem, aperto minha mão contra o corpo e depois quando percebo que ela esta começando a ficar apavorada faço um sinal de silencio levando um dos meus dedos enfaixados ate o lábio. Ela engole o choro, olha pro marido e depois para o telefone em uma mesinha a sua direita, sigo seu olhar e me coloco perto dela enquanto ela da o primeiro passo, a garotinha se assusta e esconde o rosto no pescoço nu da mãe. Seus olhos estão cheios de água, o rosto vermelho e os lábios comprimidos enquanto ela treme com a filha nos braços. Meus olhos seguem o barulho e uma respiração fraca atrás de mim, e vejo um porta retrato, me concentro e vejo meu reflexo. Cabelo sujo comprido, cortes por todo rosto, sujeira, hematomas e lábios cortados, meus olhos se estreitam mais um pouco e vejo o vulto do homem. Faço um movimento rápido me colocando atrás dele e levando meus dentes afiados ate seu pescoço e arranco sua garganta ali mesmo, sentido o gosto do sangue quente fluindo rapidamente entre mim, minhas roupas e o chão, seu corpo amolece fazendo minhas mãos fraquejarem com se peso, o jogo no chão e sinto o excesso de sangue escorrer para fora dos meus lábios. Quente e acido. Meus olhos se voltam para a mulher que aperta a filha contra o corpo e olha para o marido. Passo por cima de Paul, sinto minhas pernas fraquejarem. Sinto que ainda estou com muita prata no corpo.

- Por que...? – ela disse em meio aos soluços.

Eu continuei encarando a garotinha não tinha reação, não olhava para o pai, apenas pra mim, eu via meu reflexo em seus olhos. Um monstro. No fundo eu não me sentia orgulhosa daquilo, mais eu tinha que fazer, eu não sei por que, era como se a dor e a fome, a ausência de algo dentro e mim pedisse para eu fazer aquilo. Então acabei com a mãe mais rápido do que com o pai. A garotinha estava agora sentada nos degraus da escada, observando os pais, mais não tinha nenhuma expressão aparente do que ela estava sentindo, ela olhou para mim enquanto eu respirava ofegante, sentindo o sangue tomar o lugar da prata que queimava dentro de mim, seus olhos piscaram lentamente como fosse uma boneca.

- O que você fez com eles? – sua voz era macia e baixa.

Olhei para os corpos estraçalhados e voltei a encarar ela enquanto limpava os lábios. – Os fiz dormir. – senti minha voz rouca.

- Eu estou com medo. – ela disse agora olhando para os pais. Abaixei-me perto dela com os braços apoiados nos joelhos. – Não estou com medo e você. – ela me encarou.

- Não? – perguntei tentando esconder a surpresa. – Então do que tem medo?

- Não quero ficar sozinha.

Pressionei meus dedos contra o joelho sentindo a dor ainda dentro de mim, e tentando me manter em pé. – Não se preocupe, você não vai ficar sozinha. – disse em voz baixa, e me sentei ao lado dela.

- Você também vai me fazer dormir? – ela tinha um pequeno sorriso.

Fiz que sim sem olhar para ela dessa vez. Eu não ia mata – lá como o resto, não teria sangue de uma criança inocente nas mãos, mais também não deixaria que ela fosse algo parecido comigo no futuro. Não deixaria que ela sofresse por minha casa. Passei o braço em volta ela acariciando seu longo cabelo sem poder sentir a macies, mais sentia o cheiro de rosas e ameixa. Senti algo formigar em meus olhos e por todo rosto, algo como naquela noite, dezesseis anos atrás. Segurei seu rosto na minha mão e logo depois seu corpo se desfaleceu perto do meu já sem vida. Encolhi-me com dificuldade sentindo minha pele rachar, o ar faltar nos pulmões e a pele da mão se contorce, passei os olhos pelas minhas mãos e vi como as faixas estavam sujas, e como meu rosto e roupa deveriam estar pior. Levantei-me deixando todo massacre pra trás.

Guardiã Where stories live. Discover now