A música tocava, os corpos se embalavam e ela não conseguia sair do canto de onde observava a alegria de todos. Passou as mãos no cabelo e encontrou alguns arrozes, daquela chuva na descida dos degraus da Catedral, momento de fotos belíssimas em qualquer casamento. Encostada em uma das colunas do salão do Clube Comercial, lembrava do começo daquele namoro.
Ela mais jovem, rechonchuda, sorriso largo e a insegurança, típica das meninas de sua idade. Havia conquistado o melhor dos meninos solteiros. Bonito. Estudioso. Podia enxergar um futuro: juntos, casa com jardim, cachorros e duas crianças loirinhas a alegrar os domingos e, nas noites, aquele amor silencioso para não acorda-los.
Mal podia acreditar naquilo. Ela sabia que ele devia fazer sucesso entre as meninas. Queria uma prova de seu amor. Pediu para a Martha, linda, uma constelação de sardas em sua face ruiva, sua melhor amiga, para se aproximar dele e ver como ele sairia. Um homem que resistisse a Martha, merecia ser seu esposo.
Hoje, encostada nos ladrilhos frios daquele pilar, observa os noivos. Certamente terão filhos ruivos e lindos como a mãe. Ele não conseguiu resistir. Precisava retomar as rédeas de sua vida. Olhou-se no espelho e se convenceu. Podia ser mais bela que Martha. Aproximou-se do casal, abraçou os amigos, afilhados agora. Parabenizou novamente, beijou a noiva e conseguiu beijar de raspão a boca do ex namorado. Ele ficou vermelho. Ela encarou-o. Não precisava ser hoje. Mas ela se vingaria.
Tema: Retomada
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Короткий рассказUm micro conto por dia. Nem todos os dias. Durante 365 dias. Livre de gêneros. Projeto: Escritor Publicado.