Pista sobre os corpos mortos.

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Seu caminhar era sinônimo de desastres e coisas ruins, sua presença era evitada como um agouro. Crianças que brincavam nas ruas, eram levadas por suas mães para dentro de suas casas de madeira, e janelas eram rapidamente fechadas em uma vã tentativa de driblar a curiosidade fértil das crianças, mas também suprimir o medo que aquele olho carregava.

Ele andava com a cabeça abaixada, mas os olhos bem abertos. Possuía cabelos pretos e escorregadios, seu olho direito era preto como a noite, mas seu esquerdo era amarelo como o de uma águia, o olho da família que um dia foi uma das três mais poderosas e requisitadas. Não trajava qualquer armadura, apenas usava uma roupa preta e suas características luvas também pretas. Em suas costas repousava uma espada de prata, sua única arma.

Um pouco a frente conseguiu ver a pequena aldeia, e pessoas correndo para se esconder. Fechou seu olho esquerdo e adentrou a aldeia. 

Parou sua caminhada quando um anão se interpôs em seu caminho. No momento que olhou para o semblante do anão, percebeu que não era bem vindo.

- O que quer aqui? - perguntou o sujeito de baixa estatura, e corpo rechonchudo, uma barba grossa característica dos anões lhe cobria o pescoço. - Essa espada em suas costas, essas roupas pretas e esse olho amarelo... você não é bem-vindo. Por favor, se retire. Não temos nem o suficiente para o inverno, lhe garanto.

Zack olhou ao redor e suspirou. Estava na província de Gharllar, ao sul da capital imperial. Quem governava aquelas terras era o conde Hazzgan, um homem conhecido por cobrar impostos em quantidade abusiva, olhar para aquelas pessoas magras e doentes lhe revirava o estomago, provavelmente todos naquele pequeno povoado, morreriam.

- Guarde suas coisas para o conde obeso. Eu estou a procura do meu tio.

O anão receoso deu um olhar incerto para o jovem de dezesseis anos. Por fim deu de ombros.

- Não o conheço.

- Você sabe que conhece. - apertou as mãos. - Não há um só lugar em Tenrfin que não se conheça ele. - abriu seu olho de águia. 

Não era mentira. Seu tio ficara conhecido em toda Terfin por dois motivos, a morte do príncipe Ogro e também por sua brutalidade em campos de batalha, chegando até mesmo a ascender ao posto de Superior, a guarda de elite imperial, guiada pelo próprio imperador.

O anão suspirou abaixando a cabeça. O pequeno homem conhecia aquele olho amarelo e só sabia de mais uma pessoa com aquele olhar.

- Jovem, esqueça. Seu tio é uma figura inalcançável agora. Ele está em um patamar superior.

- Não importa em qual altura ele esteja, eu o derrubarei.

- Não há em nenhum lugar de Terfin que não se conhece Ygratz. O Açougueiro de Burlag, o matador de Ogro. Se bem que pelo seu olhar repleto de ódio, os rumores de que ele assassinou sua própria família sejam verdadeiros... - o anão olhou as árvores balançando com o vento calmo da manhã.

O nome ainda lhe dava calafrios, mas não mais medo, apenas ódio.

- Então sabe que eu não descansarei até mata-lo... Eu sei que ele passou aqui. Me diga, e nada acontecerá a vocês. - tocou a espada nas costas. Não era do feitio de Zack matar inocentes, porém uma ameaça abria mais portas que ouro.

O anão colocou a mão no queixo em gesto pensativo. Por fim, apenas deu um balançar de cabeça.

- E o que fará se eu não falar? Repetirá o Massacre de Los Menos?

Sangue de ElfoOnde histórias criam vida. Descubra agora