Capitulo 7 - Casa na Árvore

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        Minha janela estava sendo atacada por pedras, às vezes pequenas ou maiores, mas nenhuma que chegasse a quebrar o vidro. As batidas das pedras na janela causavam um som atordoante, impossível de ser ignorado.

       Finalmente alguém notara minha ausência e viera me salvar. Esse foi o meu primeiro pensamento. Até eu lembrar que a única pessoa que notaria minha falta seria meu pai, e bem, acho que agora já posso passar para o vale dos esquecidos. E mesmo se alguém da escola notasse algo, ou os vizinhos, seria pouco provável me encontrarem aqui, onde quer que eu esteja.

      Segundo pensamento, minha mente estava trabalhando rápido apesar da minha condição física e psicológica: Iria deixar isso continuar, fingir que não estava ouvindo. Minha intenção era de que tal ruído chamasse a atenção de Dana, e já estava formulando novamente as perguntas para começar a interrogá-la, mas dessa vez seria mais rápida e conseguiria minhas respostas antes que ela se esquivasse.

       Segundo pensamento e plano não estavam sucedendo muito bem, em seus menos de cinco minutos. Acontece que o som era irritante demais e ninguém, além de mim, havia se incomodado com ele o suficiente para destrancar a porta da cela - não sei a quanto tempo estou aqui, mas já tomei a liberdade de rebatizar o cômodo.

       Atordoada, não conseguia ouvir mais um minuto se quer de tais batidas. Consegui pensar em algo a mais. Terceiro pensamento: independente de quem seja, eu posso pedir por ajuda. Esse não foi o meu primeiro plano pois assim que encontrasse uma maneira de gritar por socorro, Dana poderia intervir com alguma desculpa, e meu meio de fuga iria embora. Mas agora essa parecia a única alternativa restante.

        Foi aí que a realidade me atingiu no estômago. Quarto pensamento: mesmo que fosse salva, não teria para onde ir. Não tinha idade para viver sozinha e nem parentes próximos. Eu sou praticamente órfã. Logo, uma tempestade de questões atingiu meu cérebro: Eu realmente precisaria ser salva? Para onde eu iria? Não tinha ninguém, mas pelo menos aqui alguém estava cuidando de mim, da maneira mais estranha possível, mas ela ainda se preocupava, caso contrario não estaria aqui, medicada e suturada. 

         Minhas quatro séries de linha de raciocínio não duraram muito para se desenvolver, afinal o vidro ainda estava intacto, o que me chocou devido à brutalidade que as pedras estavam sendo arremessadas. Não aguentava mais. Aquelas batidas estavam me enlouquecendo, precisava fazer aquilo parar. Abri a janela e o vento forte jogou meus cabelos embaraçados para trás.

      Para continuar meu ciclo de sorte, uma das pedrinhas arremessadas atingiu minha testa, e essa é a última coisa que eu me lembro de dentro da cela.


     Acordei com duas vozes carregadas de sotaque discutindo, mas não abri os olhos. Passando-se os quatros segundos de esquecimento, lembrei da minha situação e tentei ouvir o que diziam. Peguei a conversa na metade, mas consegui ouvir algumas coisas:

     – Sallai, o sequestro dela vai levantar bandeira de guerra entre todas as fações, você precisa ser mais cuidadoso! O que passa pela sua cabeça em nocauteá-la com uma pedra?! Imagine se, por um azar, a menina morre! Todo o nosso esforço seria perdido e este mundo entraria em caos. Putain Sallai! – uma menina com voz fina gritava, o que fazia com que a sua voz tornasse ainda mais aguda. Já havia ouvido seu sotaque, se eu estivesse em melhores condições diria que a menina era francesa sem sombra de duvidas. O dialogo continuou:

        – Você fala como se não me conhecesse. Eu tenho consciência de tudo o que esta em jogo aqui Roxanne. Mesmo não tendo ocorrido da maneira que esperávamos, conseguimos o que queríamos. Tudo esta sob controle e, apesar de tudo, ela é parte de nós, ao menos um pouco. – A segunda voz era mais calma, transmitia sabedoria, mas não soava vir de um homem muito velho, o sotaque carregado, para mim, era totalmente desconhecido.

     Enquanto discutiam, me posicionava de uma maneira que seria fácil de atacar quem quer que se aproximasse, com o joelho da minha perna boa e punhos. Não sei o que faria depois, já não tinha nada sob controle. Fala sério, quem é sequestrada de outro sequestro?!

      As vozes se aproximavam,  cerrei os punhos e manti minha posição. Em seguida, a porta se abriu bruscamente e logo se fechou, mas consegui ouvir dois pares de pés sob o chão antes disso, logo a francesa disse:

           – O que faremos com ela?

          O outro respondeu:

            –As ordens.

            Senti suas mãos buscando os lugares certos, com delicadeza, para me levantar. Sua delicadeza de nada adiantou quando foi impedido de continuar por uma joelhada, que atingiu o que eu suponho ser o pescoço, quando se agachava para me erguer. Pela primeira vez naquele lugar abri os olhos, e corri sem direção enquanto a francesa auxiliava o outro a se levantar, o golpe não foi forte, mas acho que era a ultima coisa que ele esperava, tive sorte de pega-lo desprevenido. Abri a porta a desci um lance de escadas no fim do corredor,a adrenalina não me fazia sentir dor, estava pronta para fugir quando uma mão segurou meu braço com força:

      – Cuidado!

     Direcionei os olhos para baixo, a adrenalina parou de fazer efeito dentre segundos e quase desmaiei. Me deixei ser arrastada para trás enquanto digeria o que havia acabo de perceber. Estávamos á uns 15 metros do chão, no que eu chamaria de "casa da arvore melhorada". Caso não tivessem me segurado, cairia em direção de galhos pontiagudos, que perfurariam meu corpo sem nenhuma dificuldade.

     – Quem é você? – perguntei ao acompanhante da francesa, enquanto ele se apoiava na porta e eu sentava na cama, de costas para ele.

     – Sallai. Sallai Sebes. E você, a menina que quer voar, não é mesmo? – mesmo com a piada, o tom de voz era sério. Virei para retrucar:

      – E você é o seques... – travei no momento que vi seu rosto.

        Ele era alto, seu cabelo loiro comprido estava bagunçado, formando leves ondas que caiam nos seus olhos, verdes, olhos verdes. Imediatamente lembrei da minha aparência, e me sentindo envergonhada e humilhada, quis voltar a olhar para a parede, mas logo ele começou a rir e eu me senti desesperada.

      – Você está causando uma bagunça danada lá fora.

        Bagunça? Eu? Lá fora onde? Descobriram que eu fui sequestrada? Como?

Acho que ele percebeu meu semblante de dúvida e começou a rir:

         – Não se faça de desentendida, nos dois, e todos, sabemos que você é um tesouro. – Continuei com a mesma expressão, fazendo com que a dele desmanchasse de um sorriso de deboche para uma cara preocupadíssima. – Lúcifer, você sabe quem você é, não sabe?

Como ele sabia meu nome?

Lúcifer - Marcados pelo Sangue Onde histórias criam vida. Descubra agora