A ÚLTIMA MANCADA DE FLINT FOSTER (PARTE UM)

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Existiam sedes grandes, existiam sedes enormes, e existia o palácio da Phi-Kappa-Tau — que, James arriscou, equivalia a cinco sedes da Kappa-Mu-Sigma.

A mansão de cinco andares tinha uma fachada opulenta decorada com colunas gregas cobertas de trepadeiras. Acima da porta de entrada reluziam em dourado os caracteres "ΦΚΤ", que compunham a sigla da fraternidade, e, pendendo do teto da mansão, uma bandeira gigante com o brasão da Phi-Kappa-Tau tremulava. Um caminho de ladrilhos serpenteava pelo grande jardim da frente até os degraus que levavam à porta da frente, onde um único garoto fantasiado de bobo da corte recebia os convidados. Era possível ouvir a música de longe, suas batidas tão intensas que faziam o chão tremer, misturando-se aos risos e a gritaria que vinha de dentro da sede. A julgar pelo sem-número de janelas, era possível que tivesse no mínimo uns quarenta quartos e dez banheiros.

Antes de chegarem à porta, Giles tomou a dianteira do grupo, de modo a passar pelo garoto na entrada. James achou que se conseguissem, o obstáculo maior teria sido vencido; lá dentro eles se misturariam às pessoas de tantas outras sociedades estudantis que — se conseguissem não arrumar nenhuma confusão — seria possível aproveitarem a festa sem problemas.

— E aí, Matthew. — Giles disse ao se aproximar do garoto, que abriu a porta dupla. O som lá de dentro se tornou ainda mais alto. — Esse é o pessoal da... Delta-Alpha-Rho, e... Psi-Kappa-Omega.

— Delta-Alpha-Rho e Psi-Kappa-Omega? — Mathew ergueu as sobrancelhas, parecendo confuso, olhando bem para o rosto de algumas pessoas do grupo. — Os judeus?

— ...Sim — Giles tentou responder com convicção; ele provavelmente não sabia que Delta-Alpha-Rho e Psi-Kappa-Omega eram sociedades estudantis judaicas. Por que ele escolhera logo aquelas em meio a tantas outras? Aquele era um mal começo.

— Eles não parecem muito judeus... — disse Mathew, alternando o olhar desconfiado entre Giles e o resto do grupo.

Se ninguém fizesse nada, mais cedo ou mais tarde ele repararia na farsa. Para evitar isso, James fez a primeira coisa que lhe veio à cabeça:

— Hava nagila, hava nagila... — entoou, sob o olhar surpreso de alguns. Aquela parecia uma coisa muito estúpida de se fazer, mas era sua única ideia, e agora ele só podia torcer para que Mathew nunca tivesse ido num bar mitzvah em sua vida e não reconhecesse a canção. — Nagila hava, ve ' nismecha!

— Vê? — Giles disse a Mathew, parecendo enfim ter entendido o plano de James. — Esse é o hino deles. Como podem não ser judeus?

E então o resto dos amigos de James começou a cantar junto dele, dando força à sua canção — embora alguns deles não fizessem a menor ideia de como cantar e improvisassem letras de outras músicas no ritmo de Hava Nagila; como Ayron fazia:

— I can see your halo, halo! Baby I can see your halo...

— Ah! — Mathew assentiu com ar de compreensão, sorrindo. — Caramba, são eles mesmo. — Abriu a porta e concedeu passagem, sorrindo amistosamente. — Podem entrar e aproveitem a festa. Aloha!

Um a um, o grupo foi passando pela porta. James esperou até que o último passasse para poder entrar, e só respirou mais aliviado depois que Mathew fechou a porta atrás dele. Ele ainda não acreditava no sucesso de seu plano. Os membros da Phi-Kappa-Tau podiam ser todos muito ricos, mas isso definitivamente não era sinônimo de intelecto.

— Wow! Esse lugar é uma loucura! — Lia disse ao seu lado. A música tocava num volume tão estridente que ela precisou gritar, e ainda assim ele não a conseguia ouvir muito bem. — Isso é um castelo!

Se por fora a sede da Phi-Kappa-Tau parecia grande, por dentro era ainda maior. Aquele cômodo — que deveria ser apenas o átrio — era o maior que James já vira na vida, e havia ali mais gente do que ele se aventuraria a contar, ocupando cada metro quadrado do espaço, inclusive os degraus da grande escadaria que levava ao andar superior. As dimensões daquele lugar eram tão absurdas que comportavam até mesmo um palco, onde um DJ tocava. Sobre a escada, um enorme cartaz de pano pendia do teto, onde havia escrito em letras garrafais: "PHI-KAPPA-TAU MANDA NA U. M.!!!".

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