Podemos ser heróis

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Os olhos do condutor se abriram. Não estava mais em uma lojinha de posto de gasolina. O lugar era escuro, mas dava para ver que o teto era feito de aço. Nulo olhou para o nada por um bom tempo antes que decidisse enfim levantar. Para onde olhasse era necessário forçar a vista. Só depois que as coisas iam criado forma. "Algo como um metrô", era a sensação que tinha. Passou os dedos pela ferida do peito e sentiu umidade. "Eu morri?!", disse em pensamento. De maneira instantânea um NÃO grave ressoou pelo túnel.

"Cheiro de fumaça."

O maldito fedor de cigarro empestava. As narinas de Nulo ficaram irritadas de tão forte que estava. O condutor olhou para trás, procurando de onde estava vindo o incomodo. Foi então que ouviu o som de um groove de blues feito em um baixo. A música era agradável e o trouxe sentimento de nostalgia. Se sentiu um pouco menos preocupado. Eis o poder que uma boa melodia pode ter. A fumaça começou a se espalhar e ficar menos densa. Nulo avistou a figura de um homem sentado em um banco se formar. Era Ernesto, ele tocava um baixo vermelho de 4 cordas.

─ Porra, garoto! ─ disse. ─ Como que você veio parar aqui?

─ Eu estou morto, não é? ─ Nulo falou, chegando mais perto.

─ Ainda não. Afinal de contas eu estou aqui e não estou morto.

─ Só velho! ─ o condutor brincou, sentando do lado de Ernesto.

─ Bom ver que mesmo depois de tanto tempo você ainda não tem educação. ─ Ernesto passava os dedos pelas cordas grossas, sem parar de tocar.

─ O que está acontecendo, Velho?

─ Garoto, você tá fodido.

─ Isso eu já sei!

─ O eu verdadeiro se sentiria lisonjeado por ter escolhido nossa imagem.

─ O quê?! ─ Nulo franziu levemente o cenho.

─ Eu sou o seu subconsciente, cara.

─ Mas que droga. Meu subconsciente é um feio demais.

─ Como você é engraçado.

─ Como eu saio dessa?

─ Não sai! ─ Ernesto parou de tocar.

Na loja de conveniências dois corpos estavam no chão. Um ainda tinha um pouco de vida, o outro já fedia antes mesmo de estar morto. O maxilar do Velocista estava no chão. A podridão de esgoto vinha dali. Zen abria bem os seus olhos, boquiaberta. Deixou que a cesta escapasse de suas mãos e correu para Nulo. Desesperada, posicionou a cabeça do condutor em suas coxas. Ela chorou. As lagrimas salgaram o seu cabelo e caíram sobre a testa de Nulo. O vestido da adolescente estava sujo com o sangue dele. O tempo parecia estar congelado em um mesmo segundo. Quanto mais puxava ar mais difícil era respirar. Ela não choraria por um monge que agia por regras de maneira inconsciente. Não! Ela estava chorando pelo cara que mais cedo, antes de levar uma facada no peito com a própria faca para não deixar que o Velocista encostasse nela, enfrentou A Gangue dos Homens Mortos.

O atendente estava imóvel observando tudo. Nada daquilo estava programado para ele. Tudo o que queria era trabalhar e ir pra casa ver um filme na internet com a namorada. Se isso já não fosse o suficiente para fazê-lo perder o juízo de vez sentiu uma mão enorme pegar em seu ombro. O homem congelou. Não conseguiu segurar e perdeu os movimentos das pernas.

─ Você não vai desmaiar, vai? ─ um homem de terno fino, o mesmo que lhe tocou o ombro, perguntou e o viu revirar os olhos e cair desacordado.

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⏰ Última atualização: Nov 16, 2017 ⏰

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