Correntes, libertação e assassinato

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"Péssima hora para ser mulher...", lamentava, calada, presa naquele cubículo sufocante.

Cléo estava acorrentada. Ainda se perguntava como foi parar em um lugar como aquele. Sua vida fora completamente roubada. Um dia atrás, antes de ter sido emboscada e levada pelos estranhos de preto, ela ainda era secretária de um dentista medíocre que descontava o descontentamento sexual de sua esposa com esporros para cima da funcionária; única com a santa capacidade de lhe suportar. Um homenzinho odiável que media 1,57 de altura. "Cléo, mande o próximo entrar!", ordenava, com sua voz irritante e fanhosa.

Homens podem ser bons ou muito maus. A maioria opta pelo caminho mais fácil, o da maldade. O ex-chefe de Cléo, por exemplo, era uma criatura bruta, por mais que tivesse o jeito efeminado de ser, não era alguém afável e gentil, a não ser que houvesse interesse em algo que lhe poderiam oferecer; ele era uma péssima pessoa. Se não fosse tão escroto talvez não recebesse seu café com uma dose extra de creme de cuspe da secretária. Um ato apenas de gentileza diária não o faria mal, no entanto, somente grosserias sarcásticas saíam daquela boca, que, por mais que pertencesse a um dentista, não tinha um cheiro bom.

O escritório, para a secretária, era tido como a materialização do inferno; pelo menos até ali, pois sem duvidas que se houvesse lugar pior seria onde estava. Ela foi jogada em um quarto escuro e ficou gritando por horas. Quando já estava rouca, um homem velho de olhos vermelhos lhe trouxe água e um pedaço mofado de queijo com pão molhado.

— Ah! Continue gritando, eu adoro quando gente como você acaba cuspindo pus. — O velho saiu chutando o chão. Daria para saber que estava vindo de longe só pelo barulho irritante que os seus passos preguiçosos faziam.

Cléo teve suas correntes retiradas por dois indivíduos bem altos depois de ter bebido um pouco de água e tentado comer um pedaço do queijo. Assim como o velho, usavam roupas pretas e peças de couro rachado. Os olhos do mais forte eram de um preto intenso e brilhoso, enquanto que os olhos do segundo eram foscos; amarelados. Um deles, o de olhos amarelos, lhe socou o ombro e chutou sua canela de maneira aleatória. "Merda!", ela pensava. "O que eu fui fazer?!". O cansaço e a tontura passaram quase que instantaneamente quando o homem de olhos pretos lhe fez cheirar o que parecia ser fumaça de insenso.

Mas como será que ela foi parar lá? O que ela fez de tão grave para ser tratada tão mal por pessoas esquisitas? Por Deus! O que poderia ter feito uma secretária de dentista de tão escabroso que lhe levaria até ali?!

A resposta é bem simplória. Cléo não era uma pessoa que fosse odiada, tão pouco invejada. Muitas vezes agia como adolescente; sempre apaixonada pelos vampiros sexy dos livros de romance da nova moda, o que não é um crime... se ela já não fosse uma mulher de 31 anos. Os lobisomens musculosos eram a melhor parte, ela adorava. Não gostava dos antigos contos de horror. Para ela, vampiros monstruosos e sedentos eram nojentos e sem graça. O que era bom mesmo era sonhar com um cara ultra-musculoso que lhe agarraria pela cintura e lhe morderia o pescoço, que a jogasse na cama e rasgasse suas roupas. Acordar suada e precisar correr para o banheiro e se limpar era apenas uma consequência suportável.

"Vampiros são lindos!", acreditava.

Ela, a secretária, ia à festas noturnas para se libertar do maldito cheiro do trabalho. Esquecer seu chefe idiota e curtir um pouco. Cléo tinha 31 anos, mas se deixava ser bobinha. Usava isso como charme para abocanhar os homens da noite. Ela era livre! Ninguém podia com ela quando era noite. Este foi o seu pior erro!

Em uma das festas noturnas que tanto amava, a secretária, conheceu um homem chamado Daniel. Um cara que parecia ter saído de suas fantasias obscenas. Alto, forte, cheio de dentes branquíssimos; de pele clara e olhos verdes. Parece que o sonho de alguém se realizou!

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