Capítulo 7.

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     Peter chegou por trás de mim depois do último sinal. Ele fez cócegas de leve em minhas costas e eu gritei de susto. Outro fato sobre mim, assusto fácil e sou escandalosa demais. Me gostem assim, obrigada. Ou amem, quem sabe...

     Bati no braço dele e respirei fundo, tentando recuperar o fôlego. Ele estava rindo bastante e pude notar que era a melhor e mais engraçada gargalhada que eu já havia escutado. Fiquei esperando calada, ele parar com a ceninha de comédia, quando  perguntou:

     - Vamos ter aula hoje, professora?

     - É claro, não vou te deixar tirar zero em química. - falei. Ele abraçou meus ombros e começou a andar comigo assim até o carro dele. Abriu a porta do motorista e me colocou dentro. Seu cabelo loiro escuro até os ombros reluzia com a luz do sol.

     - Um dia eu posso fazer um rabo no seu cabelo?- perguntei pensando como ficaria massa o cabelo dele amarrado. Ele me olhou e me analisou por um momento depois virou a cabeça para o parabrisa e  acelerou o carro.

     - Um dia, sim. Mas eu vou fazer no seu primeiro. Já disse que tenho quedinha por ruivas? - meu sorriso sumiu no mesmo instante. Virei a cara para a janela e disse:

     - Não disse.

     - Não fique tímida, garota. - ele riu. - Não falo de você, falo sim da Laila.

     - Laila não é ruiva. - falei. Ela tinha o cabelo loiro avermelhado. Não chegava a ser alaranjado como o meu.

    - Mas é quase ruiva.

     Já estava cansada de falar da Laila. Ela não merecia ninguém. Não merecia nem se casar! Nem viver! Por isso mudei o assunto para um que estava me incomodando, me deixando curiosa.

   - O que houve com o seu olho? - perguntei. Observei que ele olhou pra mim de uma maneira espantada, mas depois olhou pra frente com o pensamento longe. Franziu o cenho.

    - Meu olho... ele... eu... sou meio cego. - falou por fim. Estremeci.

    - Você nasceu cego ou...

    - Fiquei cego. - interrompeu. - Vamos mudar de assunto? - pediu.

    - Não tão rápido. Como exatamente ficou cego? - insisti. Ele virou o carro para a esquerda, com a intenção de parar em frente a floresta da estrada. Desligou o motor e pude perceber que ele estava tenso. - Não precisa falar se não quiser.

    Ele riu e olhou para mim. Seus olhos penetravam nos meus me deixando tonta, meio grogue. Tive que piscar umas vezes, mas de alguma maneira eu não conseguia tirar meus olhos dos dele. Depois de um tempo ele desviou e olhou para frente. Fechei os olhos lentamente, sentindo uma dor de cabeça incansável. Massageei minhas têmporas e quando tentei abrir os olhos, eles se fecharam novamente.

      Senti um toque no meu queixo. O toque levantou meu rosto e eu consegui abrir os olhos. Vi o rosto de Peter novamente e seus olhos continuavam presos aos meus. Ele desviou outra vez e eu pude me controlar e ficar com os olhos abertos. Em questão de minutos eu havia ficado tonta, parecia que tinha sido drogada. Mas agora eu estava normal.

     E foi só eu olhar  para Peter. E depois  olhar  de novo. Ele havia me hipnotizado? Eu havia entrado em transe? Não. Eu não havia entrado em transe. Ele não podia ter feito isso. Não mesmo. Podia?

     Não! O que eu estava pensando? Comecei a rir. Pelo canto dos olhos percebi que ele me olhava.

     - O que foi? - ele perguntou.

     - Nada, só... A gente pode ir? - sugeri. - Minha tia vai lá em casa hoje. - ele assentiu e acelerou de volta para a estrada.




     Depois de Peter ter ido embora, depois de duas horas de estudo, decidi fazer um bolo para receber minha tia. Ela saía do trabalho às 19:00 e agora era 18:30. Fazia dois meses que a gente não se via e eu já estava com saudades. Olhei de relance para o sofá e pude ver, por um minuto, um mesmo, meu pai sentado nele. A campainha tocou. Espulsei aquilo da cabeça e fui atender a porta.

      - Minha maravilhosa! - Tia Jenna abriu os braços quando abri. Forcei um sorriso. Não teria forçado até dois minutos antes de ver alucinações de meu pai no sofá da sala.

      - Tia! - abracei ela. - Entre. Está sentindo este aroma? É de bolo de cenoura.

      - Não brinca! Estou morrendo de fome. - ela se sentou na bancada da cozinha. - Como vamos morar juntas agora, vou fazer papel de mãe. - ela arrumou o cabelo. - Já fez o dever de casa, Jennie? - eu ri. Ela era tão animada.

      - Sim, senhora, com um amigo. - fui até ela. 

      - Lucas? George? - perguntou enquanto lambia os dedos de cobertura.

      - Não. Ele é novo na escola, foi transferido. Peter Grenne. Eu ajudo ele em química. - falei. Ela olhou com desconfiança. Aquele olhar de :  Amigos? Sei...

     - Depois quero ver este seu amigo. Mas não hoje. Hoje eu tenho um encontro com o chefe bonitão. - ela disse sorridente. Sorrindo, ela lembrava muito minha mãe. Me lembrava um pouco também.

     - O chefe?? Você tá pegando o chefe, bonita? - perguntei me levantando. - Então você é dessa que pega os chefões? - comecei a rir. Ela riu.

     - Sim. Ele é bem gatinho, menina. Ele vem me pegar aqui. Trouxe roupa, me deixa tomar banho. - ela saiu da cozinha com a mala na mão e foi para o quarto se arrumar. Ri sozinha, feliz por ter a melhor companhia de todas.

1.Atraída pelo seu olharOnde histórias criam vida. Descubra agora