Capítulo 4.

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       Vinte minutos depois estávamos na frente da minha casa. O carro de Peter parou no minuto em que a maçaneta da porta da frente girou.  Dela, meu pai saiu com uma garrafa de vodka absolutamente fedida que vasava de sua boca. De longe dava para ver olheiras fortes em torno dos olhos verdes dele. Abaixei o mais rápido possível no banco do passageiro. Ajustei o banco, empurrando-o para trás, de forma com que eu coubesse  entre o porta luvas e o banco.

     _ Ele está vindo em direção ao carro. _ Peter sussurrou e colocou a mochila em cima de mim e a blusa de frio. Meu coração sambava dentro de mim. Tapei minha boca para a respiração ofegante não transmitir barulho.

     _ O que está fazendo na frente da minha casa? _  escutei meu pai dizer para o Peter. Espremi mais contra o corpo.

   _ Estava meio tonto na hora de dirigir. Acho que estou com sono. _ Peter mentiu. _ Será que o senhor pode me dar um copo de água ou algo assim? _ houve silêncio.

    _ Eu posso te dar um pouco...disso. _ ouvi meu pai dizer. O que ele queria dar?

    _ Não tem água? _ Peter perguntou. Supus que meu pai queria dar vodka pra ele.

    _ Aff._ ele bufou. _ Tenho, caralho. Saia do carro e entra aqui. Quer um cigarro?

   _ Não, senhor.

   _ Beleza, então. _ escutei o barulho do fósforo se acendendo. A porta se abriu e senti o peso de Peter saindo do carro. Ele fechou a porta atrás de si e ouvi ele se afastando. Esperei uns cinco segundos e me levantei. Saí do carro de leve e fui até os fundos da casa. Minha janela estava aberta, o que facilitou mais.

    Passei a perna direita por cima da janela e fiz empulso com a esquerda. Minutos depois saí do quarto com uma bolsa com quatro trocas de roupas dentro, três sapatos e um carregador celular. Podia ouvir vozes baixas da cozinha. Pulei a janela e andei devagar até o final da parede que dava para a porta. Olhei rápido para ver se estava livre, mas era tarde demais. Meu pai havia me visto. Queria me socar naquele momento.  Peter fez sinal para eu correr em direção ao carro e obedeci.

     Quando a gente já estava quase entrando, um som explosivo nos assustou. Olhei para trás e vi meu pai com um revólver na mão. Apontando para Peter. Peter entrou correndo no carro, mas outro som explosivo atingiu o chão.

   _ Se segure! _ Peter gritou e acelerou. O carro derrapou tão alto que um cheiro de borracha impregnou no ar. Um som ensurdecedor saiu de minha garganta.

   Meu pai tinha uma arma em casa.

   Meu pai queria me matar.

   Meu pai queria matar Peter.

    E pela primeira vez na minha vida, eu senti rancor, ódio, raiva, solidão, tristeza, enjôo, nervosismo por ele. Tinha mais sentimentos dentro de mim, mas eu não conseguia saber quais. Medo. Medo era um deles. Eu já sentira medo demais, mas eu estava assustada, a ponto de me jogar de um penhasco.

     Nem percebi, mas eu estava soluçando muito, chorando muito. Lágrimas quentes desciam pela minhas bochechas, um gosto salgado eu sentia na boca, meu nariz escorria. Peter estava assustado tanto quanto eu. Seus dedos apertavam o volante com tanta força que  estavam brancos.

    Já chega. Eu não ia mais ficar calada. Depois de hoje, ele achava mesmo que eu ia deixar passar? Pois estava enganado. Eu odiava meu pai. Todos aqueles anos sofridos, fui burra se não ter procurado a polícia. Pois, agora sim, ele vai ver. E eu tinha alguém de prova , estava ao meu lado. Até que foi uma ótima idéia ter contado tudo para Peter. Ele era meu cúmplice.

    _ Para a delegacia! Agora!

1.Atraída pelo seu olharOnde histórias criam vida. Descubra agora