Capítulo 3.

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     Passamos a tarde no Starbucks, com a mesa coberta de materiais e folhas. Minha cabeça estava em outro lugar e eu não conseguia pensar direito no momento. Peter me perguntava, eu não respondia, ele perguntava de novo, eu respondia. Foi então que ele surtou.

     _ Olha, eu sei que não somos íntimos, mas você vai ter que me contar o que está acontecendo. Primeiro vi você correndo, como se estivesse fugindo de alguém perigoso, depois vi que estava chorando, depois voltou do banheiro branca como um albino. E agora, parece que está com a cabeça em outro lugar. _ ele falou sem respirar. _ Ah, e seu lábio inferior está sangrando. _ completou. Passei  o dedão no lábio e retirei o sangue que saía. Depois passei a língua.

      _É que eu não posso... dizer. _ falei, estalando os dedos.

     _ Como assim não pode dizer? Tem alguém ameaçando você, é isso?

     _ Não! _ falei mais alto do que deveria. Minha cabeça latejava e sentia que a qualquer momento eu iria desmaiar. Ele cerrou os olhos, como que se sabia que eu estava mentindo.

    _ Juro, que não terei reação quando você me contar. Não tocarei mais no assunto. Podemos ser amigos, você sabe disso, não sabe?

    _ Sei. Mas acontece que nem os meus amigos sabem.

   _ Serei eu o primeiro a saber. _ ele colocou os braços na mesa e se aproximou. _ Você me conta e eu te conto o que aconteceu com o meu olho esquerdo. Sei que quer saber.

     Se ele achava que ia me convencer, estava enganado. Eu queria muito saber e queria muito contar para alguém. Eu sofria calada e sozinha, o que me fazia sofrer mais e mais. Abaixei a cabeça sobre a mesa segurando para as lágrimas não caírem.  Ele levantou meu rosto.

     _ Olha aqui, se você não me falar agora, eu juro que...

    _ Meu pai._ eu queria me matar naquele momento. Queria engolir minhas palavras.

    _ Seu pai? _ ele perguntou. _ O que tem seu pai?

    _ Ele me maltrata. _ a expressão dele mudou. Estava assustado. _ Já me socou, bateu no meu rosto, me...chutou._ engoli em seco. Ele ficou estupefato. Olhou para os lados, depois para mim. Olhou para as mãos.

    _ Não consigo lidar com isso. Aquela hora... por quê estava chorando?

   _ Ele havia me ligado. Dizendo que era pra eu voltar para casa no mesmo instante. Ele gritou. Ele vai fazer alguma coisa comigo se eu voltar... e eu... não... aguento mais..._ as lágrimas desceram. Eu soluçava alto, e as pessoas olhavam para mim.

    _ Eu não sei como fazer para acalmar o choro de uma garota. _ ele sussurrou no meu ouvido ao meu lado. Eu ri no meio às lágrimas.

    _ Dê tapinhas no meu ombro e me abraça. _ falei. Ele fez o que eu pedi e funcionou. Cinco minutos depois eu parara de chorar. Sequei as lágrimas dos olhos. Ele tinha cheiro de menta. Alguma coisa relacionada a menta. _ Eu não quero voltar pra casa. Sei que ele vai fazer alguma coisa comigo.

    _ O que você fez? _ expliquei pra ele desde quando acordei e senti cheiro de álcool e desde que fui embora sem ter acordado ele. _ Você pode ficar na minha casa. _ olhei para ele espantada. _ Se você ficasse na casa dos seus amigos, ele iria saber. Primeiro que seus amigos não sabem disso, segundo que seu pai nem me conhece, certo?

   _ Certo.

   _ Você pode dormir no sofá. _ sorri, mas não sabia se era uma boa ideia. Teria que ir pegar algumas roupas no meu quarto.

   _ Tem certeza? Sua mãe não vai achar ruim?

   _ Moro sozinho. _ seu maxilar mexeu. Havia uma pontada de tristeza na voz dele.

   _ Tudo bem. Mas antes temos que entrar pela janela do meu quarto e pegar algumas trocas de roupas. _ ele assentiu.

1.Atraída pelo seu olharOnde histórias criam vida. Descubra agora