ANTES

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"Eu preciso de uma voz para ecoar
Eu preciso de uma luz para me levar para casa
Eu preciso de uma estrela para seguir, eu não sei
Eu nunca vi a floresta por entre as árvores."
(Demi Lovato - Nightingale)


A mata é densa à minha frente. Ando devagar, mas sempre atenta a qualquer barulho, a qualquer movimento. Estou  segurando firme aquela pedra, a única arma que tenho.
Sou eu e ela contra o mundo. Que coisa patética.

Paro por alguns instantes em intervalos curtos para descansar e recuperar o fôlego. Não sei quanto tempo se passou desde a invasão seguida da destruição da Prisão, mas ao longe vejo a fumaça desaparecendo no ar. E isso me tranquiliza de uma forma estranha, por que estou longe de tudo aquilo, mas ao mesmo tempo sinto-me sufocada por dentro por saber que seguirei sozinha a partir de agora.

O medo está me consumindo.

Além da fome e da sede, também. Então, eu apenas continuo, um passo de cada vez.

Eu vou conseguir.

Me escondo de dois walkers quando os vejo, não daria conta deles. Estou olhando atentamente onde piso, até uma folha seca esmagada sobre meus pés chamaria atenção dessas coisas feias.

Minutos depois de deixar os walkers para trás, e andar sem algum rumo certo pela floresta, encontro um lago e corro até ele. A água está suja, obviamente, mas é melhor do que morrer de sede, deixo a pedra de lado e faço uma concha com as mãos e bebo mais do que posso, lavo o meu rosto, o pescoço e braços, e o cabelo também, limpo a minha pedra e depois o sangue nas minhas roupas deixando-as encharcadas, e eu não posso deixar de me lamentar: queria mais do tudo ter algum recipiente para levar água comigo.

Eu me sento na beirada do lago, mergulhando os pés descalços nele, eles doem por causa da grande caminhada. Olho em volta e não vejo nada, ouço apenas o silêncio, isso é bom, volto a respirar calmamente e baixo a guarda.

Eu deveria ficar aqui e esperar?

Já se passaram horas depois de tudo e eu estou sozinha e totalmente amedrontada e preocupada. O que devo fazer? Não é possível que apenas eu tenha sobrevivido aquilo. Sou apenas uma garotinha fraca e chorona. É o que eu sempre fui, é o que eu estou sendo agora.

Lá no fundo eu sei, eu só sobrevivi esse tempo todo no apocalipse porque alguém estava me protegendo, me alimentando, dizendo o que eu devia fazer, para onde ir, me ensinando a lutar, mesmo que eu nunca tenha lutado antes, até que, de repente, fora necessário.

E eu sei mais ainda, que esse alguém sempre foi o Carl. E se eu pudesse escolher alguém para estar aqui comigo, esse alguém seria ele.

Carl iria me tranquilizar, me proteger, ele ia dizer que tudo ficaria bem, pois temos um ao outro.

E eu não consigo deixar de pensar que ele pode estar morto agora, que eu o perdi. O pensamento de que eu nunca mais vou vê-lo... me apavora!
Só percebo que estou chorando quando escuto meus próprios soluços.

~//~

O sol está se pondo. Voltei a caminhar minutos atrás. Não consegui achar nenhum recipiente para trazer água comigo, por isso não me afasto do lago, então eu continuo na mata, me escondendo dos walkers, olhando o tempo todo para trás.

Sei que a estrada não está tão longe assim, talvez eu possa ir lá e caminhar por alguns quilômetros e se não encontrar alguém vivo, então aí eu volto para perto de lago.

O que o Carl faria?

Pensar em Carl dói.

E Carol, minha mãe, o que será que aconteceu com ela? Será que sou uma garota totalmente órfã agora?
Acho que uma parte de mim sempre foi, depois do que aconteceu com a Sophia...

Resolvo ficar na mata mesmo, é mais seguro, não se sabe quem você pode encontrar por aí, nesse mundo você não pode confiar em ninguém, foi o que Carl me disse uma vez.

~//~

A noite chega e temperatura diminui, antes estava muito calor. Com a água do lago, consigo despistar a fome um pouco, mas não o cansaço por apenas andar e andar e agora, muito menos o sono.

Quero deitar, dormir e acordar só amanhã com a Beth me cutucando no ombro para nos alimentarmos logo e ajudar no que for preciso na Prisão.

Beth.

Queria saber como ela está depois da morte brutal de Hershel, queria ter estado lá para consola-lá, pois ela estava comigo quando Sophia morreu.

Isso tudo é triste, e injusto.

Sento no chão e me encosto em uma árvore rodeada por arbustos altos que podem me esconder aqui. Estou cansada demais e já não posso mais continuar.

Eu só tenho que fechar os olhos e dormir por alguns minutos, e é isso o que faço, até que o barulho alto de um tiro me acorda assustada.

Me levanto rapidamente olhando nervosa para todos os lados, estou segurando com tanta força a pedra que minha mão dói. Meu coração está batendo acelerado, solto um grito quando outro tiro é disparado. Um tiro perto de mim, vindo da estrada.

Pode ser outro sobrevivente da Prisão, penso. Fecho os olhos e vejo os seus rostos: Carol, Beth, Meggie, Rick... e o Carl!

E se o Carl estiver vivo?
E se ele estiver me procurando e encontrou alguém perigoso ou walkers?

Mas também pode não ser o Carl ou outra pessoa da Prisão!

E eu me desespero, fico ou corro?

Quero gritar, mas começo a chorar de frustração. Sou tão medrosa e covarde! Alguém pode estar em perigo, e eu aqui sem saber o que fazer e com as buchechas molhadas pelas lágrimas.

Olho para cima, para o céu estrelado e meio escondido pelos galhos das altas árvores, seco as malditas lágrimas e então começo a correr.

Logo quando coloco meus pés na estrada, vejo os faróis de um carro, penso que ele está longe, mas não, nós dois quase nos colidimos, solto um grito assustada e o carro para abruptamente a centímetros de mim, meu coração está batendo forte e rápido demais. As luzes dos faróis me cegam, mas quando me acostumo, vejo uma mulher no volante, nós duas estamos encarando uma a outra assustadas e eu poderia gritar para ela: você quase me atropelou! E eu iria, até ouvir outro tiro, e em seguida um grito dizendo um nome. A mulher olha para trás, como se esse nome fosse o dela e poderia ser.

Então, a partir daí as coisas acontecem muito rápido: um homem aparece correndo saindo da mata, ele olha para todos os lados até pousar o seu olhar no carro, não sei se ele me percebe aqui, provavelmente sim, já que ele atira a centímetros dos meus pés, dou um pulo na frente do carro e agacho para me esconder, sinto o motor sendo ligado e me desespero, me levanto um pouco e encontro novamente o olhar da mulher e dessa vez silenciosamente eu peço ajuda à ela. A porta do carona se abre, então sobre mais tiros, com rapidez entro no carro e até mesmo antes que eu feche a porta, estamos indo para não sei onde. O homem tenta correr atrás da gente, gritando muito irritado.

Olho para o meu lado, e percebo que quem me ajudou não é uma mulher, é ainda uma menina, assim como eu. Ela encontra o meu olhar e sorri.

-Oi, eu sou a Ivy.

Somebody to die for || TWDOnde histórias criam vida. Descubra agora