Esconderijo

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Era normal para Will Byers se esconder quando ameaçava chover,e era apenas natural que seu melhor amigo, Mike Wheeler, o encontrasse no seu esconderijo e ficasse lá com ele. Eles normalmente não conversavam, Will apenas ficava com medo e abraçava o amigo, ou então segurava na mão alheia. Como se quisesse um conforto, e Mike sempre estava lá por ele.
Eles ficaram mais velhos e Will percebeu que era estranho. Era estranho ele precisar tanto do melhor amigo, era estranho ele fazer qualquer coisa pelo garoto de pintinhas no rosto, era estranho ele ignorar qualquer um apenas para ver como o outro estava.
Por achar tudo isso estranho, e ainda mais estranho ver o melhor amigo brigar com a namorada por sua culpa ele tomou coragem e decidiu se distanciar.
Ele estava fazendo isso pelo bem de Mike. Tudo que Will queria era ver o amigo feliz, com ou sem ele.
—Bom dia. —Cumprimentou, Will estava cansado aquela manhã. Tinha ficado acordado até tarde terminando seu trabalho, deixou a bicicleta no lugar de sempre. Dustin colocou o braço pelos ombros pequenos do Byers.
—Will, você não acha que eu sou um ótimo amigo? —Will arqueou as sobrancelhas, mas concordou de toda forma.
—Viu, Lucas? Eu sou um ótimo amigo. —Dustin empinou o nariz, se fazendo de "nojento".
—Will só é muito legal para ferir seus sentimentos! —Lucas retrucou, afastando os dois meninos, e andando no meio deles.
—E o Mike? —Will questionou. Não queria, mas queria ao mesmo tempo.
—Hm? Ele disse que ia chegar atrasado ontem, lembra? —Dustin riu fraco. Will não lembrava. Ignorou a sensação ruim no começo de seu estômago.

No intervalo Will só queria ficar sozinho, e estava chovendo. Ouviu Lucas, Max e Dustin discutirem sobre algo sobre uma possibilidade do homem ir até a lua, entretanto decidiu ignorar.
Tirou do bolso da sua jaqueta um pacote de cigarros, tinha começo a fumar recentemente, fazia ele esquecer momentaneamente das pessoas. Inclusive do Mike.
Tragou com calma, sentindo a fumaça do cigarro encher seu pulmão, e quando a soltou sorriu para as formas engraçadas que ela tomava. Ouviu algumas pessoas caminhando, mas ignorou. E então levou um tapa forte na mão, fazendo seu cigarro cair no chão, olhou enfurecido para cima, vendo o mesmo Jack de sempre, o imbecil que gostava de pegar no seu pé e encher seu saco.
—O que você quer? —Rosnou. Dessa vez eles estavam sozinhos. Ou eles achavam que sim.
—Viadinhos não podem fumar cigarro. —Will revirou os olhos.
—Por isso você não fuma? —Desafiou, e quando menos esperava sentiu, de maneira indesejada e bruta, os lábios do valentão esmagar os seus. O choque foi tão grande que ele ficou parado, nem respondeu ao beijo, e nem afastou o corpo pesado do outro.
Porém, quando abriu os olhos, depois que percebeu que não tinha mais ninguém em cima de si, viu Jack no chão, com o nariz sangrando, e então, Mike Wheeler o olhava furioso.
—Vem. —Não tinha sido um pedido. Michael arrastou o menor por aí, o levando pelo pulso. Logo começaria a chover de verdade.
—Mike, para! —Will reclamou, seu pulso estava doendo.
—Porra. —Mike resmungou, parando e encarando o rosto assustado do melhor amigo. —Desculpa. Vem? —Tentou soar mais gentil, segurou de maneira delicada, ou o mais delicado que conseguia, e guiou seu melhor amigo até seu mais novo carro.
Quando já estavam dentro do carro Will se atreveu a olhar para Mike, e o rosto dele de perfil era de tirar o fôlego. Mordendo o lábio inferior sem perceber, Will desviou o olhar, fitando seus próprios dedos.
—Não acredito que você beijou um cara... —As palavras morreram antes da frase do Wheeler terminar, mas Will entendeu completamente errado.
—Qual o problema? Eu sei que vocês não estão acostumados, mas eu não me tornei outra pessoa. E você tem sua namorada, me deixe em paz. —Quando Mike olhou de relance conseguiu perceber que o Byers estava intimidado, ele estava com medo!  E foi aí que Mike deu risada, riu alto como se não houvesse nada mais engraçado, irritando Will.
—BYERS! —Pela segurança dos dois, Mike encostou o carro, e respirou fundo. —Eu não ligo! O que eu quis dizer foi, que você foi beijado e não parecia que você queria aquilo.
—Ate porque ew. Quem ia querer beijar o Jack? Ugh. —Will fez sons de nojo, e Mike riu mais uma vez.
—Vamos para minha casa? Podemos nos esconder no porão. —Will acenou.
O silêncio entre eles era sempre calmo, e fazia com que eles se sentissem confortáveis, não era um silêncio que eles sentiam a necessidade de quebrar, do contrário ficaria um clima estranho. Era algo agradável, eles apenas gostavam da companhia um do outro.
Já no porão Mike não conseguia resistir, sua mente ficava rebobinando a cena em que Will foi beijado... Por outro homem... antes dele.
O único problema era que alguém, um homem, beijou Will antes dele mesmo. Mike queria ser essa pessoa.
—Hey, Will. —Chamou, a voz baixa, eles estavam sentados um ao lado do outro, Mike escrevendo uma nova campanha no D&D, e Will desenhando, como sempre.
—Hm, Mike? —Ate a forma como Will falava sem se preocupar deixava o Wheeler com a sensação que algo estava formigando dentro de seu peito.
—Eu terminei com a Eleven. —Isso chamou a atenção do pequeno Will, que estava entretido em seu desenho abstrato. Ele levantou o olhar, seu cabelo atrapalhando um pouco.
—Porque? —Sussurrou. Mike deu de ombros, também não sabia explicar, e até conseguiria, mas não queria ainda.
Will ficou quieto, pensando, Mike começou a se sentir ansioso, então o mais novo deixou seu caderno de desenhos ao lado dele, no chão, e tirou o caderno de rascunhos do Wheeler,o abraçou sem perguntar por mais nada. A chuva lá fora agora se fazendo ser ouvida. Mike o abraçou de volta, aumentando o aperto e sorrindo que nem um idiota. 
Will Byers sempre fazia ele se sentir assim, seguro. Era engraçado, porque era esperado que fosse ao contrário, mas nunca tinha sido para o Wheeler. Para ele, nada o deixava mais seguro que aqueles braços.
—Hey, Mike? —Will chamou, com o rosto ainda enterrado na camiseta do maior. 
—Hm, Willy? —Mike sussurrou, gentil.
—Eu estou apaixonado por você. Sinto muito. —Nem o Byers sabia pelo que ele estava se desculpando.
Mike o afastou, e sem perguntar, não que ele de fato perguntasse alguma coisa, ele beijou aqueles lábios que ele secretamente esperava beijar desde seus dez anos, pelo menos.
E quando a chuva aumentou,Will não sentiu medo. Ele estava em seu esconderijo favorito, os braços quentinhos de Mike Wheeler.

Byler (One Shots) (?)Onde histórias criam vida. Descubra agora