A Toca

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A toca.
Nina não aguentava mais andar estava exausta, pernas e até braços estavam dolorido de uma maneira que nunca sentiu, o terreno era íngreme e a cada passo, um tropeço, arvores enormes desviava à de seu caminho, não costumava andar tanto assim, seu humor cada vez mais intenso e lamentoso, mesmo com todas as dificuldades na verdade sentia-se maravilhada com o lugar, reclamava por que isso fazia parte da sua natureza, era assim que ela defendia-se na vida. Ao mesmo tempo não dava real atenção a tudo, pra falar a verdade era natural ela sonhar acordada quando criança e há muito tempo não sonhava esse sonho, de repente ela se deu conta – Meu Deus! Depois de tantos anos voltar a ter esses sonhos. Estou mesmo sonhando? Tenho que por os pés no chão lembrou-se de seu pai, ele implorava para ela fazer o certo, parar de sonhar acordada.
Será que estou mesmo tendo um surto? Disse de si para si. Tão concentrada estava em seus devaneios que não percebeu seu nome sendo chamado. Iziras teve que lhe aplicar uma cutucada.
— Ai! Para já com isso, reclamou a menina.
— Chegamos. Ele mostrou com a mão.
Quase entorpecida, olhou ao redor, e qual a sua surpresa.
– O que é isso? Não estava dia agorinha mesmo? Em alguns segundo de um dia claro passou a uma noite encantadoramente escura.
— Sim. Apresou-se Iziras em responder. — Mas entramos na Toca, vamos passar algumas noites por aqui e eu tenho que explicar porque está aqui você tem que prestar atenção, implorou. – Iziras sabia que a irmã estava muito perdida e devia uma explicação rápida – Não teve tempo, logo viu Ghrates, seu mestre, fitando os seus olhos, sempre inquisitórios, um canyon, não havia maneiras de defini-los profundos ou negrume talvez...
Ghrates sem desviar o olhar que era sua grande arma disse. – É ela? Questionou sem desgrudar os grandes olhos amarelos dos dele.
Sem saber o porquê, Nina sentiu um desconforto, uma corrente elétrica circulou por suas veias o enorme homem a sua frente apareceu do escuro da noite, ela olhou para Iziras espantada, Iziras quase sem querer pousou a mão sobre o ombro de Nina como para protegê-la, pensou em dizer (– Ela é a minha irmã) mas, sabia que Ghrates não tolerava incerteza ou medo, Ghrates era a alma viva da coragem e se percebesse fragilidade tudo poderia ruir, precisava muito dele então manteve a calma sustentou o olhar selvagem do mestre estufou o peito resgatando o ar que fugirá, com orgulho apresentou-a.
— Dandarin mestre da coragem Senhor da Noite esta é Nina. Resolveu por fim falar.
— Parece assustada, disse meramente, correndo o olhar por todo o corpo de Nina avaliando-a, isso a fez perder o assombro por estar diante de um sonho tão real, ao seu jeito, sentindo se avaliada, coisa que a desagradava, ela o fulminou com os olhos.
- Quem é você? Falou Nina, nem percebendo seus pés avançarem a passos firmes, o corpo tomando forma de desafio. Iziras tentou segurá-la e por quase, por um fiapo de camiseta ele a perdeu, pois ela imediatamente se revirou e soltou-se, chegando o mais próximo que pode do rosto de Ghrates encarando-o.
Ghrates nem se moveu, apenas levantou levemente a sobrancelha e estreitou os grandes olhos, Iziras congelou, Ghrates sem deixar de sustentar o olhar de Nina, disse.
– Ela tem coragem, disse sorrindo, você tinha razão, ao ver o sorriso cativante do homem, Nina quase abrandou, mas mesmo assim questionou conservando no olhar um resto de desafio.
— Razão de que? Alguém pode me explicar o que esta realmente acontecendo? Deu um olhar duro para seu irmão, como se ele fosse responsável por seu sonho.
Iziras apressou-se, queria explicar, mas antes de fazer qualquer pronuncia Ghrates fez um gesto de silêncio, o que foi obedecido imediatamente, ele nunca questionava seu mestre.
— Você esta aqui para aprender. Foi lhe dada à resposta de forma dura, por um instante Nina lembrou de seu pai a lembrança era nítida, causado assombro era a segunda vez que seu pai vinha a sua mente em tão pouco tempo, olhou para Ghrates, confusa e retrucou, era a sua maneira.
- Aprender o que? E quem é você? O que tenho que aprender? Ela parecia não parar mais, um pergunta em cima da outra sem descanso, Ghrates resolveu encerrar a conversa.
— Isso vem com o tempo, menina Nina e eu, sou o mestre de Acarim Iziras. A resposta foi mansa com um leve toque de... É só isso que irei discutir.
Nina já estava pronta a protestar, Iziras entrou em seu campo de visão, olhou pra ela com aquele pedido silencioso que só ele sabia como pedir, ela ficou sem saber se calava ou protestava, ainda estava muito zangada com ele, sabia muito bem quando essa zanga começou, ela tinha rodado o mundo procurando por um sinal dele, se preocupava, se sentia culpada por sua escolha e quando o viu, mesmo que para ela isso ainda era um sonho a realidade se mostrava presente, esse jeito dele lembrava-a de quando eram pequenos. Lembrou-se como em um flash, seu irmão ficava cada dia mais distante, ela estava doente, tinha pesadelos, vivia tomando remédios para parar de sonhar e ele parecia estar em outro mundo, isso tudo começou quando eles fizeram sete anos, ele a ignorava como se ela pudesse contaminá-lo. Ela gostava muito dele, precisava do irmão gêmeo, sentia sua falta. Ghrates a despertou de seus devaneios.
— Aprenda isso por enquanto. Disse Ghrates. — Não se distraia, irei testa-la, e sem que ela percebesse tocou seu ombro, com uma cauda macia, Nina teve um sobressalto momentâneo nunca iria imaginar alguém com uma cauda, ela o observou melhor, tinha um porte elegante para alguém tão alto, a fala compassada e grave, os olhos impressionava ainda mais, além de ser amarelos era como olhar nos olhos de um grande gato embora o resto do corpo parecessem normais, fora o rabo é claro, e mais uma vez a cauda lhe tocou o coco da cabeça, agora com mais força, quase um peteleco.
— Pare de me olhar assim, disse Ghrates, isso é constrangedor não lhe deram educação? Falou de forma agradável, Nina reparou que ainda o mirava, sem jeito desviou o olhar.
Mesmo assim, intrigada, Nina protestou.
— Me testar por quê? Não houve resposta, Ghrates não lhe deu atenção virou-se procurando em torno, pareceu satisfeito com um tronco enorme arumou um montinho de palha, deitou-se , Iziras baixou o olhar e saiu para um ponto no escuro. Nina a cada minuto ficava mais confusa, seu sonho supunha, era de uma realidade palpável. – Alguém Pode me ajudar? Pensou confusa, preciso acordar, porém por mais que tentasse nada acontecia, ela estava presa a esse sonho que não acabava, cansada adormeceu escorada ao que parecia um rocha.
Acordou na tal Toca e por mais absurdo que fosse ainda era noite, pois nesse lugar que Nina supostamente sonhava era sempre noite, depois de muito tentar voltar a realidade ela resolveu aceitar, não era tão ruim ficar louca, pensou nas pessoas que surtavam de vez, talvez seria assim, criar um mundo só seu, viver até o corpo não poder mais, desligados do mundo.
Durante a noite em que caminhavam muitas coisas ela foi aprendendo, desde as mais simples como preparar uma cama com palha, nunca ficar muito longe da tocha, tudo ao seu redor era escuro, todos os passos eram inseguros, aprendeu observar, admirando mais ainda a sua capacidade de sonhar algo que mesmo acordada não poderia criar. E assim, foram suas primeiras noites, ali nunca amanhecia, noites de caminhadas e noites para dormir foi como Nina definiu os períodos em que normalmente separavam o dia claro e o dia escuro, quase um sem fim de estrelas, corujas e coisas que ela raspava ou tocava sem saber bem o que era, tudo estranho tudo escuro, acordavam sempre próximos de uma tocha que seria a claridade do dia, somente dessa tocha é que se tinha alguma luz ou em noites de lua cheia que para ela eram noites magníficas. Só se afastavam da tocha quando a natureza chamava e para tomar banho, mesmo assim alguns poucos passos, pois o escuro era intenso e amedrontador.
Todos os ensinamentos de Ghrates eram simples conselhos ditos com muita importância, todavia de alguma forma martelava na cabeça de Nina, com o tempo passou a gostar de Ghrates, porém não demostraria isso a ele, ela o admirava cada vez mais, andava mansamente com um jeito elegante, até mesmo o toque de sua calda era muitas vezes reconfortante e em outras um alerta, a forma como a questionava e ensinava sem dúvida Nina apreciava.
De uma maneira estranha ele se comunicava tanto em pensamento como em palavras.
Os pensamentos dele surgiam em sua mente como uma sensação, era como ouvi-lo, mas de uma forma diferente, como uma presença. —Menina, dizia, paciência é uma virtude, não se inquiete. Nina respondia falando, — Paciência... Paciência, pra que? A voz penetrante não deixava duvida era preciso refletir.
— Para ser vitoriosa em seu teste, respondia ele em voz audível – É preciso paciência.
— Que teste é esse?
— Você e seu irmão terão um caminho muito difícil e quando chegar o momento vocês terão que escolher, agora se concentra, seu tempo é curto precisa se preparar. Ghrates sempre atento sentiu que lá vinha mais uma chuva de  perguntas, interrompeu-a que já formulava suas muitas questões. — Que caminho difícil é esse?  E ele respondia por hora é tudo que deve saber, não adianta me questionar lembre-se paciência.
E por muito tempo teve que ouvir e não questionar, não que isso acontecia de verdade, pois o espírito curioso e a falta de paciência a levava ao mesmo caminho e as rabadas muitas vezes fortes como um peteleco, colocando Nina no caminho.
— Menina, chamava Ghrates – Aprenda uma coisa, o mundo É FEITO DE TODOS NOS não é um único ser que faz tudo acontecer e sim o TODO, ou melhor, todos tem que estar em harmonia, e quando vocês nasceram houve um desequilíbrio.
Que desequilíbrio era esse? Questionava Nina, de si para si.
— Menina. — As coisas não podem ser acumuladas elas têm que ter seu lugar certo, por quê? Tudo em seu lugar é mais fácil de encontrar.
— Não entendo o que você quer dizer? Dizia a menina desanimada.
— Ora menina! Quando as virtudes estão em seu lugar é muito pratico saber o que fazer.
Nina pensou muito na noite escura e na noite clara sobre tudo o que Ghrates tinha dito. Entendeu que quando usamos as virtudes sempre saberemos onde encontrar as respostas e uma dessas virtudes devia ser paciência e essa por mais que tentasse nunca conseguiria, pois a todo o momento não conseguia se conter.

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