Capítulo XVIII-- Mantenha um segredo

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 Meus olhos se abrem lentamente e tenho que piscar algumas vezes para limpar minha visão que estava embaçada. Em cima de mim está a cabeça de Morgan, ele fica engraçado visto desse ângulo, mas sua expressão não parece nada divertida. Estava repetindo o meu nome e seu semblante se alivia um pouco quando seus olhos encontram com os meus. Dak-ho está ajoelhado ao meu lado, estava um pouco pálido e apoiava a mão na mesa, o seu dedo não parava de bater contra a madeira. Minha cabeça está apoiada no colo de Morgan e lateja com tudo o que eu havia visto.
 -Você está bem? -ele pergunta. -É a segunda vez que vejo isso acontecer com você...
 -Estou. Quanto tempo fiquei desacordada?
 -Nem um minuto direito.  -Dak-ho diz. -Foi o prazo de você desmaiar, cair e acordar de novo. Cara, nunca vi ninguém desmaiar assim, você me deu o maior susto!
Meus olhos rodam ao redor, tudo parece estar do mesmo jeito, o silêncio quebrado apenas pelas passagens de páginas, mas algo parece errado. Então eu noto, encostada em uma prateleira está Sinfiris, um sorriso irônico escapa dos seus lábios vermelhos. Morgan chega a cabeça perto da minha e olha na direção dela também.
-Tem algo ali? -ele pergunta. -Você parece assustada...
-Não está vendo nada? -na verdade queria saber se estou ficando louca.
-Não. -ele responde e meu peito se aperta um pouco.
-Então é porque não tem nada para ser visto ali. -só depois de dizer percebo que fui seca demais. -Desculpa, acho que foi pressão baixa ou algo do tipo...
-Vou te levar na enfermaria. -Morgan diz me ajudando a levantar.
-Não precisa, vou comer algo na volta pro quarto.
-Nada disso. -Dak-ho interrompe. -E se você passar mal no quarto? Melhor olhar isso antes.
 Eles me arrastam até a enfermaria e uma mulher faz alguns testes comigo, pergunta como eu estou me sentindo, me dá um remédio para dor muscular e me libera. Morgan e Dak-ho me acompanham até o refeitório onde praticamente me forçam a comer aquela gelatina horrível e depois me levam até meu quarto, mesmo eu afirmando que não precisava.
 -Achei que os garotos não podiam entrar no dormitório feminino. -digo.
 -Ninguém fica reparando essa coisas, mas se perguntarem a gente fala que você passou mal. -Morgan diz.
-Obrigada por me acompanhar. - me encosto na porta do quarto.
-Você sabe que eu estou aqui por você, não é? -ele coloca meu cabelo atrás da orelha.
-Ok, vou dar privacidade para o casal. - Dak-ho diz e vai em direção da saída.
  Acho que estou começando a me acostumar com a personalidade de Dak-ho, mesmo assim dou um risinho de sua atitude. Morgan chega mais perto de mim e pousa sua mão em minha cintura me fazendo arrepiar. Seus olhos buscam os meus, mas depois de tudo o que eu sei fica difícil encara-lo.
 -Tem certeza que está bem?- ele praticamente sussurra para mim.
  Eu afirmo com a cabeça sentindo sua respiração próximo ao meu pescoço, o seu halito é quente e fresco e eu gosto disso. Gosto também de como seus dedos roçam minha blusa, como se quisesse transpassa-la, gosto de como sua cabeça se inclina para perto de mim e odeio ter que afasta-lo, mas se chegar mais perto dele não vou ter coragem de fazer o que é preciso.
  -Acho melhor eu entrar e deitar um pouco. -digo e abro a porta atrás de mim.
  -Claro, descanse. Te vejo amanhã? -ele dá um sorrisinho de lado, o que me faz querer abraça-lo novamente.
  -Te vejo, sim. -as palavras se arrastam na minha boca, porque não sei se vou cumpri-las.
  Sinto Morgan se afastando e o sigo com os olhos até ele ir embora. Então entro e fecho a porta com meu coração batendo rápido e a respiração irregular. Vou até a escrivaninha perto da cama e vasculho as gavetas em que eu havia colocado os papeis que usava para fazer origami, eu preciso escrever, uma, duas, três cartas. Um número maior do que eu poderia imaginar em toda minha vida e eu tinha que fazer direito. 
  Eu quase podia escutar a risada de Sinfiris enquanto minhas mãos tremidas procuravam por um lápis ou caneta, qualquer coisa que pudesse riscar minhas palavras ali pra sempre. Quando acho tudo o que preciso sento no chão encostada na porta. Com um caderno entre os joelhos eu apoio a primeira folha branca e escrevo.
Escrevo.
Escrevo.
Até não saber como escrever.
Até não saber como me despedir.

Meu último abrigo (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora