O lago continuava igual, mas dessa vez tudo estava iluminado com os raios do sol. Morgan se sentou na grama me puxando com ele. Suas mãos junto com as minhas causava um grande contraste, a minha pálida, quase mórbida, a dele negra como a noite. Quando olhei para ele, vi que também reparava em nossas mãos juntas, elas se encaixavam bem, eu não me incomodaria em deixa-las assim por um tempo.
Morgan deu um grande suspiro, parecia tentar se acalmar sem sucesso, seu peito subia e descia com o esforço da respiração. Então ele se deixa deitar no chão, passa a mão livre pelo rosto e se levanta novamente, como se não conseguisse ficar quieto por muito tempo.
-Eu odeio aquele babaca! -ele diz.
-É, eu também não sou muito fã da cara dele. Você está bem?
-Se eu estou bem? Amy, aquela desgraça ameaçou você! Eu é que devia está perguntando se você está bem! Ele ia bater em você, Amy.
-Ele não estava falando sério, relaxa.
Em todos os meus dezesseis anos pessoas falaram coisas horríveis para mim, poucas fizeram suas ameaças virar realidade, eu estava acostumada com isso, mas Morgan não. Ele parecia abismado com o que aconteceu e eu só queria que ele ficasse bem, então mentiria, mesmo sabendo que poderia ter possibilidade de John realmente me ferir se quisesse.
-A quanto tempo ele vem implicando contigo? -ele pergunta.
-Eu não sei, acho que desde ontem, por causa do jogo. Logo ele esquece e me deixa em paz, não se preocupe.
-Eu me preocupo sim! Quando eu te conheci você tinha levado um soco na cara, você vive cheia de roxos. Ele já te bateu antes? -dessa vez ele olha bem fundo nos meus olhos quando pergunta, sua mão ainda sobre a minha, eu posso sentir o calor que imana dele.
-Não, ele não.
-Quem?
Eu viro meu rosto, não consigo encara-lo agora. Quem? Quando? Eu não queria contar isso para ele, não queria que ele soubesse, porque essa parte esquisita de mim, ele ainda não havia chegado tão perto. Queria que pudêssemos ficar rindo no recreio com os amigos, ou ir a algum fast food nos feriados, que falássemos sobre o tempo, signos ou sobre gostar ou não de azeitona, não sobre quantas vezes eu apanhei em toda minha vida. Eu queria que ele soubesse a parte normal sobre mim.
-Amy, me conta quem anda fazendo isso com você, por favor.
-Isso não importa, não vai se desfazer.
-Mas eu preciso ter certeza que não vai acontecer de novo, não com você.
-Por quê?
Agora ele é quem não responde. Com a mão livre ele coloca meu cabelo para trás da minha orelha e sua mão pousa ali, na minha bochecha. Seu olhos não desviam nem por um minuto dos meus, como se estivesse absorvendo tudo o que se encontrava ali.
-Porque eu simplesmente não posso aceitar alguém te machucando. Me faz mal te ver sofrer e não poder fazer nada, Amy. Porque quando eu te vejo triste é como se um buraco abrisse no meu peito e eu só consigo pensar em te fazer sorri, porque você fica linda quando sorri. -as palavras jorravam de Morgan e eu não consegui segurar um sorriso quando ele disse isso. -Está vendo? Parece até que o sol ficou mais claro!
-Do jeito que você fala, as coisas parecem tão bonitas, eu não sou assim, Morgan, mas você devia tentar escrever poesias, aposto que ia ser bom nisso.
-Quem disse que eu não escrevo? São uma merda. - ele ri por um momento, mas volta a ficar sério bem rápido. -Nunca diga que você é menos do que é, sério, você é demais! Amy, você é demais pra mim, só não percebeu isso ainda.
-O que você vê em mim, então? Porque eu não sei que Amy é essa que você conheceu.
-É melhor perguntar o que eu não vejo. Desde que você chegou nessa escola eu não consigo pensar em outra coisa que não seja você, a garota com o nariz sangrando. Pode parecer piada, mas não é. Não quero que guarde os seus problemas, eu quero te ajudar e estar com você, não me negue isso.
Sua voz agora não é nada mais que um sussurro. Meus olhos se perdiam em seu rosto, o jeito que sua boca movia a cada palavra, dizendo coisas que eu ansiava em ouvir. Me senti acolhida em sua voz, queria abraça-lo até nós tornarmos um só, até tocar em sua alma como ele estava tocando na minha. Lentamente Morgan foi se aproximando de mim, até estarmos a centímetros um do outro, sua respiração pesada contra a minha.
E então ele fechou o espaço entre nós.
Seus lábios macios contra o meu, sua mão indo até o meu pescoço, queimando em minha pele sem doer. Era como se eu estivesse esperando tempo demais pelo seu toque e agora estivesse entrado em combustão. O modo como seu polegar passava pelo meu maxilar, como sua boca se encaixava na minha, tudo parecia perfeito demais e quando ele se afastou foi como se houvessem roubado algo que eu não sabia que tinha, como se eu houvesse perdido parte de mim.
-Diz alguma coisa. -ele pergunta depois de algum tempo com sua voz um pouco rouca.
Eu não sabia o que fazer. Morgan havia me beijado e isso foi a melhor coisa que me aconteceu há anos, mas e agora? Não é como se tivessem me dado um protocolo do que fazer depois do primeiro beijo e eu nunca havia tido tal contato com ninguém
-Eu... não sei o que falar, na verdade.
-Eu forcei a barra, né? Desculpa, eu...
-Não, não, não mesmo. -eu me apressei em dizer.
Comecei a rir como uma boba, mas ele também, então talvez pudêssemos ser bobos juntos. Morgan me abraça e ficamos um tempo assim, ele passando os dedos pelo meu cabelo, em silêncio evitamos falar sobre as coisas que nós chateariam até que a fome ficou muito evidente e fomos embora de mãos dadas.
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Meu último abrigo (Concluído)
Storie d'amoreSabe quando se é odiada por todo mundo? Provavelmente não como Amy! Com exceção de seus pais, todos que a veem a detestam. O motivo? Não existe! Simplesmente a olham e já sabem que a detestam e isso a fez ser motivo de bullying por toda a vida, o q...