---- Eu tô cansada.
Priscila disse assim que terminou de subir o morro. Por sorte, os homens armados na entrada liberaram a passagem tranquilamente. Pelo visto, Fellipe ia com frequência alí. Tinha até o próprio apelido: Topetinho.
---- Veio por que quis. Eu disse pra ficar em casa, dormindo. Dormindo em uma linda manhã de domingo.
Ela deu um soco no ombro do irmão, mas quase caiu. Realmente, estava cansada. Nunca subira uma ladeira tão alta em sua vida andando. Lá embaixo as casinhas arranjadas a davam uma visão privilegiada. Bonito, pensou. Muito bonito, mesmo, disse para si mesma.
---- Anda, topetinho. Onde é que fica isso?
---- Alí na boca. Perto da mata -- apontou para uma casa sem porta ou janelas. Na frente, estava cheia de homens armados fumando, bebendo e com mulheres seminuas rebolando em seus colos ao som de um funk alto. Ela olhou para sua roupa e desejou ter ido de calça. Calça jeans e blusa de manga longa. Bem longa ---- não me chama de topetinho. Detesto isso. Só não fala pra eles, sua x9.
- Me respeita, muleque. A mais velha aqui sou eu.Desferiu um tapa na cabeça do irmão enquanto o seguia até a tal boca. Os olhares de nojo e desejo a acompanharam por todo o percurso.
----Não acho que tenha sido uma boa ideia agente ter vindo.
---- Eu não acho uma boa idéia eu ficar mais um dia sem mastigar maconha. Isso que eu não acho uma boa idéia.
La dentro, o cheiro era insuportável. Tinha cheiro de drogas ( oque achou bom), bebida, urina e... Algo que preferiu nem imaginar.
---- Topetinho! -- um homem armado, com uma fuzil atravessada nas costas, o cumprimentou ---- Opa! Vejo que trouxe uma gostosa. Iai, belezinha? Bora alí atrás?Tentou ir de encontro a ela; agarrá-la pelo braço. Mas Fellipe entrou em sua frente.
---- É minha irmã, GC.
---- Sem problemas, não tenho nada em comer a irmã dos amigos, não.Priscila sentiu vontade de esbofetea a cara de GC até tirar o sorriso nojento da mesma. Mas estava muito irritada pelo fato de ser protegida pelo irmão casula. Oque estava acontecendo? Haviam mudado de lugar sem que ela percebesse, por acaso?
---- Não sou carniça, urubu. Só vim compra droga. Tem como vender logo?
Desceu seu short, levemente incomodada com certos olhares, mas sem deixar transparecer. Tentou não ligar, mas era praticamente impossível.
---- Ou, marrenta. Gostei. Qual vai ser?
----Ecstasy -- se apressou, ansiosa ---- e maconha. Ecstasy e maconha.
---- Já é. E tu, topetinho. Vai querer oque?
Priscila se controlou para não rir da cara de insatisfação do irmão. Sera que ninguém percebia que ele não gostava do apelido, ou percebiam e por isso continuavam? Essa duvida a manteu distraída da vontade de rir.
----Nada. Tô de boas.
---- Beleza. Marca 10.O traficante sumiu por uma das portas -- que, na verdade, eram só aberturas por que, de porta, alí não existia nenhuma -- . Fellipe olhou ao redor, proucurando a garota com quem havia ficado na sua última ida alí. Não a encontrou. Seu olhar, então, parou na irmã e sua mini-luta para abaixar o jeans azul e curto.
---- Você não tinha outra coisa pra vestir, não? Esse pedaço de pano aí não cobre nada.
---- Quando foi que isso se tornou da tua conta mesmo? -- revirou os olhos, botando as mãos nos bolsos de trás, os esticando para baixo ---- assim, só pra mim saber.
---- Desde que você começou a se comporta como um chihuahua tentando se livrar da roupinha apertada. Isso tá ridículo. Você ta ridícula.
Algo bateu de encontro a cabeça de Fellipe, o assustando e fazendo-o pegar, oque descobriu ser uma sacola, antes que caísse.
---- Taí, topetinho. Gostosa, tentei descola uma vizita pra tu, mas o patrão ta ocupado. Se divertindo, se é que você me intende. Ele mandou tu comparecer no baile de hoje, ta ligada? Ele ta querendo te conhecer.
Ela pegou a sacola do irmão e a abriu, cheirando o pó alí dentro.
---- Aqui eu não volto é nunca mais.
---- Se eu fosse tu não desobedecia o patrão, não. Ele te caça, e, quando achar, não vai ser legal.
Priscilla puxou o irmão, que ja a encarava de olhos semi-arregalados, pelo braço, ignorando GC e indo para longe.
---- Ei, marrenta! -- o traficante gritou antes de vê-la se misturar com os moradores que subiam e desciam o morro. Priscilla virou-se para encará-lo ----. Gostei do short.
Ela balançou a cabeça, divertida, voltando a andar com o irmão em seu encalço. Até se torna só mais uma na multidão.
Pamela.
Pamela tentava reorganiza seus livros. Certamente teria problemas com a bibliotecária. Dois dos 7 livros estavam manchados com marcas de pés e com algumas folhas rasgadas, 1 estava com a capa branca inteiramente suja, mas 2 haviam molhado de modo que só um consiguio manter as folhas intactas. Por sorte, apenas 1 -- Harry Potter e o iniguima do príncipe -- havia conseguido se salvar. Estava com raiva. As mãos tremiam ao passar algumas folhas danificadas e quase não conseguia mas conter a vontade de chorar. Por que aquela garota fez aquilo?, questionava-se ao lembrar do dia em que se esbarraram, na saída da biblioteca. O dia de devolver os livros ja estava chegando e boa parte dos livros continuavam visivelmente danificados. Isso não pode ta acontecendo, repetia para sí mesma. Não depois de todo o trabalho que tive pra pegar mais de 2 livros de uma só vez, completou.
Se Soraia, a bibliotecária, não os aceitassem de volta, ela não teria como substitui-los. Mal havia dinheiro em sua casa para compra a janta.Arrumou todos o livros em uma pilha, logo depois se jogando encima da pequena cama, que rangia sempre que alguém ficava encima. Olhou no seu telefone -- um pequeno Samsung -- em busca de alguma notificação. Uma mensagem de Fellipe,seu namorado, para ser mais exata. Mas não encontrou nenhuma. Oque ela esperava, afinal? Era domingo de manhã. Ele ainda deveria esta dormindo e, como ele gostava de dizer: sonhando com ela.
Pamela largou o telefone e fechou os olhos, tentando focar na única coisa boa que havia acontecido na sua vida em meio as centenas de problemas que a cercavam: Fellipe Wodestick.
Ela se acomodou no colchão surrado e alí adormeceu, mais uma vez. Um sorriso brincando em seu lábios ao lembrar do que seu namorado lhe dissera outrora: eu gosto muito de você, minha esquisitinha.
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Oie.
Por favor, se gostou, não esqueça do voto aqui ⬇E coomentem, gosto de saber oque estão pensando da história. 😌
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Intercambiáveis.
Ficção AdolescenteDois irmãos com uma invejável situação financeira . Uma bolsista que sonha em ganhar o mundo, mas que, no final do dia, mal tem o dinheiro da própria janta. Um policial que ama, vive e morre pela profissão. E um morro, seu dono e os perigos que os...