Pamela.
Pamela olhou pela centésima vez a tela do celular. Era o grande dia. Hoje, é hoje. Ja fez um mês!, pensava, eufórica, ao lembrar que seu relacionamento havia completado um mês inteiro.
Ja havia chegado da escola a um bom tempo, e pintava, com o corretivo escolar, a capa de um dos livros estragados. Não estava muito bom, mas daria para o gasto. Cada pincelada, era uma olhadela na barra de notificações do aparelho ao seu lado.
Fellipe na havia ido para escola. O motivo? Totalmente desconhecido para ela. Pamela gostava de pensar que Fellipe estava fazendo uma surpresa em comemoração ao aniversário. Se estivesse, era melhor que cuidasse logo, se não, ela enlouqueceria de ansiedade.
---- Droga! -- grunhiu, ao esbarra o cotovelo na capa recem pintada ---- Droga! Droga! Droga!
Xingou alto, quase gritando, enquanto tentava reparar o erro. Faltavam apenas 2 dois dias para a devolução dos livros. Ela ja havia conseguido disfarça os defeitos de quase todos, menos dos rasgados. Nada que uma boa fita adesiva transparente não conseguisse resolver. Sua maior preocupação, naquele momento, era o súbito desaparecimento de Fellipe. Até havia passado por sua cabeça a hipótese deque ele pudesse ter esquecido a data, mas Pamela descartou logo essa possibilidade da cabeça, ou, pelo menos, tentou. A idéia de que ele pudesse ter esquecido ainda conseguia perturbá-la, mesmo que minimamente.
---- Oque aconteceu? -- sua mãe surgiu na cortina, a encarando sériamente -- Ouvi seus gritos, boca suja!
Pamela deixou o corretivo de lado e desligou a tela do celular. Sua mãe não sabia do namoro, e nem poderia. Tanto por que a havia proíbido, tanto por que era um relacionamento secreto. Um segredo somente dos dois. Fellipe havia dito que deveria ser escondido, se não, o relacionamento não daria certo. Ele alegava que era para protegê-la da mídia. E ela? Bom, ela concordou, obedientemente.
---- Eu não gritei! Só não coisei direito esse troço.
---- Oque, menina? Fala direito.
Pamela bufou, fechando o corretivo e levantando-se para colocar o livro num local onde pudesse secar em segurança.
---- Eu não pintei direito o livro.
Repetiu, arrumando a cama na qual estava sentada.
---- Agora, somente agora, eu entendi. Ainda tá muito feio -- Renata apontou para um dos livros, referindo-se a todos os outros ---- isso aí?
---- Mais ou menos, eles estão bem disfarçados, mas não perfeitos.
---- Humm... Que horas são? Você precisa ir logo pro seu serviço. De hoje -- fez uma pausa dramática ---- o gás não passa.
Pamela pegou o celular e olhou as horas, depois o guardou no bolso de seu vestido florido. Mas, claro, não sem antes dar mais uma olhada na barra de notificações.
Estava começando a se sentir a única idiota contando os dias. Mas oque poderia fazer? Em sua vida nunca ocorria nada de interessante. Isso, sem falar de sua personalidade terrivelmente carente.
---- É, realmente. Daqui apouco ja são 15:30. Valeu, mãe. Ja vou me arrumar pra ir.
Renata deu uma última olhada em sua filha, depois, uma vistoriada no quarto com o olhar, como se procurasse alguma coisa. Pamela se sentiu profundamente aliviada quando viu a mãe desaparecer por detrás da cortina.
---- Seu bosta!
Xingou baixo, superirritada. Trocou o vestido por uma calça jeans azul e uma blusa preta, estilo regata. Não cometeria o grande erro de ir de vestido para o trabalho, não com o patrão que tinha.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Intercambiáveis.
Roman pour AdolescentsDois irmãos com uma invejável situação financeira . Uma bolsista que sonha em ganhar o mundo, mas que, no final do dia, mal tem o dinheiro da própria janta. Um policial que ama, vive e morre pela profissão. E um morro, seu dono e os perigos que os...