Mais um dia de trabalho - I

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Syrun saltou por cima do inimigo. Combatia mesclando acrobacias e golpes letais. Não vi um guerreiro como ele em nenhum dos reinos por onde passávamos. O demônio que havia destroçado dez dos mais hábeis soldados daquela cidade nem reagiu, pois Syrun girou Natsui e o degolou. Vê-lo matar aqueles desgraçados me fazia quase gostar dele. Eu o odiava, mas em situações assim, ajudava.

Cascalho passou gritando, seu machado desceu sobre um demônio menor que vinha por trás de Syrun. Era uma daquelas coisas horrorosas, como um gafanhoto enorme e cabeça vagamente humana, beiços de peixe e dentição serrilhada. Um exemplar entre as milhares de aberrações das hordas zimbronianas. O sangue negro e fétido espirrou no rosto do grandalhão que cuspiu fazendo uma careta — Saco de bosta! — chutou os restos do demônio ladeira abaixo.

— E agora, chefe?

O líder do bando também estava imundo. Exceto por uma placa de metal que cobria parte do tórax, um dos ombros e costas, vestia roupas comuns encharcadas com o sangue dos inimigos. Natsui, pingava o fluido negro enquanto a companheira, Fuyui, estava nas costas aguardando.

— É aquela. — Syrun apontou a mansão próxima à muralha.

A mulher surgiu do nada fazendo Cascalho se sobressaltar. Já Syrun, nunca se surpreendia com as aparições daquela esposa.

— Tentarei manter eles fora do caminho, meu senhor. — Mona conseguia a proeza de ainda estar limpa. Só se via o rosto sob o manto bege, com capuz, que cobria todo o corpo, com exceção das botas pretas. Não era uma esposa bonita, mas muito útil.

O líder do bando tomou a dianteira. Ele era bem alto e forte, mas Cascalho conseguia ser dois palmos mais alto e ainda mais forte. Algo saltou de um telhado. Cascalho fez menção de avisar seu chefe, mas antes que pudesse falar, Syrun sacou Fuyui. Tinha lâmina estreita e gume afiado e era mais curta que Natsui. Uma lança de gelo cresceu da extremidade da espada e foi de encontro ao olho da criatura. O demônio caiu no chão sofrendo espasmos com uma lasca de gelo projetada para fora do crânio. Cascalho sentiu um calafrio, pois sempre que Fuyui era desembainhada soprava um vento gélido. Correndo, Syrun recolocou-a na bainha presa às costas com a facilidade de quem fizera aquele movimento milhares de vezes.

O Bando de ValériaOnde histórias criam vida. Descubra agora