(E)nd.

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"Lamento informar-vos e sem qualquer ofensa, mas vocês são todos tão... Tão superficiais.

Nenhum de vocês nunca saberá a dor que eu senti, naquele momento, quando a Mabel sussurrou aquela frase de forma tão calma, tão distante e tão... Demoníaca. Tão tortuosa, tão dolorosa e ao mesmo tempo asfixiante. Ah, poupem-me, pessoas que vieram ao funeral só para parecer bem! Sim, eu vi-vos, pessoas distantes da família Pines que vieram só para marcar presença. Sabem, eu odeio-vos. A todos. De verdade.

Odeio-vos tanto que se eu pudesse mataria cada um de vocês com as minhas próprias mãos, sem pensar duas vezes, só para trocar mais uns quantos papéis com ele. Sem hesitar. Se fosse preciso, torturava mais uns quantos. 

Porque de monstros, o mundo está cheio. De anjos, não. E um anjo manchado de sangue, como ele, era logo um escândalo! Já eu, um demónio, não fosse por isso. Mais um, menos um, era tudo igual.  Eu faria de tudo o que fosse preciso para proteger aquela inocência do mundo. 

Para proteger aquele anjo.

Pode parecer injusto e, de facto, talvez na vossa situação eu faria o mesmo. No entanto, na minha, vocês também o fariam.

Nada me custou mais que tentar gritar de forma desesperada, a implorar a qualquer pessoa que me ouvisse e tentando alcançá-lo à força, só para poder garantir que tu realmente estavas ali deitado, sem vida. Não entendia como raios alguém podia morrer numa operação para retornar a ouvir.

Contudo, foi aí que os teus pais me contaram, no meio de soluços altos e lágrimas. Havia um risco de vida e tu não me contaste. Mentiste-me. Para me deixar descansado e feliz.

Para quê ouvir, se não podes viver, Dipper? Diz-me, por favor. Para que te serve bons ouvidos se o teu coração não baterá nunca mais?

Os médicos e seguranças tiveram de me acalmar a mim de tantas maneiras para eu não invadir a sala fria e vazia onde se encontrava o teu corpo tapado por um lençol azul-claro. Não, ele estava frio, tu devias ter frio. Eu queria aquecer-te com uma mantinha quente ou o meu casaco, como quando fomos tomar um sorvete e começou a nevar, então, eu dei-te o meu casaco. Eu precisava de ter garantias de que tu não estavas vivo. Precisava de provas concretas de que tu não tinhas frio. Que não estavas sozinho ou me mentiam. Eu precisava de ver com os meus próprios olhos, para acreditar.

Não me lembro de ter chorado tanto na minha vida... Até mesmo quando o meu pai deixou a minha mãe grávida de gémeos completamente sozinha e eu descobri, chorei menos. Até mesmo quando ele teve a lata de nos querer conhecer e eu desabafei no meio da cara dele, eu chorei menos. Até quando o meu cachorro de estimação morreu com quatro anos, o Kill, eu chorei menos. Até quando eu perdi a esperança no mundo, chorei menos.

Até quando eu desabafei contigo, chorei menos.

Sabes aquele livrinho clichê que diz que a dor número dez, a mais forte, é a de perder alguém? Acabo de te garantir que isso, afinal, não é tão genérico como nós brincávamos. 

Aliás... Talvez não seja um dez.

Talvez seja um vinte.

Eu contorcia-me na cama depois de chegar a casa enquanto gritava de dor dentro do meu peito, na tentativa mais que falha de a expulsar, arranhava os lençóis e batia nas almofadas, mordia qualquer coisa para abafar os meus gritos e nem que fosse marcar as minhas mãos que estão cheias de marcas dos meus caninos, fosse tentando sufocar-me às vezes para ver se conseguia acalmar-me. Will estava arrasado tal e qual como eu, no entanto, dava para entender que eu estava bem pior. Se fosse a Mabel, por exemplo, seria o contrário.

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⏰ Última atualização: Jan 04, 2018 ⏰

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