Emma's Point Of View.
11 de agosto de 2017.
07:30 AM.
Toronto, Ontário - Canadá.— Emma, tá na hora de acordar. - Liv fala enquanto entra no meu quarto batendo em uma panela. Cara, ela é retardada.
— Liv, eu te odeio! - exclamo.
— Odeia nada. Agora levanta que eu vou fazer as compras do mês e hoje é o dia da faxina de uma pessoa... - deixou no ar.
— Por que eu não posso ir com você? Quem liga para casa suj...
— Nem termine essa frase. Volto para almoçar, beijos. - Liv joga beijos no ar enquanto sai do meu quarto. Desaforada.
Liv é minha melhor amiga e nós dividimos um apartamento. Tá na cara que ela é a mais responsável aqui. Não que eu seja preguiçosa, mas ela tem mania de limpeza.
Termino de acordar e levanto indo em direção do banheiro para me trocar e lavar o rosto, banho tomo depois, vou soar mesmo.
Chego na cozinha e vejo pães com geléia. Agradeço mentalmente que a Liv deixou meu café já pronto. Não, agradeço não, era obrigação dessa praga.
Como devagar e começo a pensar na vida. Estou desempregada, minha mãe doente e meu pai... ah, eu não tenho pai.
Nunca precisei de um pai. Minha mãe sempre foi os dois e ela sempre falava que ele era um idiota. E deve ser mesmo, abandonar a mulher grávida é coisa de cafajeste.
Não vou mentir que não sofri um pouco com isso, porque eu sofri sim. Toda garota levava seu pai e o homenageava no dia dos pais na escola, só eu que ficava apenas observando o quanto eles eram felizes.
Mas o tempo passa e você vê que ninguém é insubstituível. Hoje eu quero que ele vá se foder, mas com respeito. Mentira, sem um pingo de respeito mesmo.
Nasci no Brasil, especificamente no Rio de Janeiro. Passei 15 anos da minha vida lá e sinceramente, sinto muita saudade da minha cidade maravilhosa. Saudades do sol maravilhoso, do povo agitado, do sotaque gostoso de ouvir e do turismo, é claro.
Quando completei 15 anos minha mãe me disse que precisávamos nos mudar para cá e eu fiquei bem confusa com tudo isso. Tive que aprender inglês muito rápido e me acostumar com o clima, o que foi com certeza, a parte mais complicada.
Cheguei aqui e terminei meus estudos. A única amiga que consegui nesses últimos anos na escola foi a Liv, e ela é incrível e a única que preciso.
Eu morava com minha mãe até meus 20 anos, mas ela disse que iria voltar para o Brasil tratar um assunto importante. Eu queria muito ir com ela, mas por algum motivo ela não deixou. Disse que era rápido - não está sendo - e que eu não poderia ficar para lá e para cá. Praticamente implorou para eu ficar. Estranhei mas se ela prefere assim...
Agora eu com 21 anos moro com a Liv e há 1 ano não vejo minha mãe. Toda semana ela me liga, e na última semana ela ligou para avisar que estava com câncer. Eu fiquei arrasada. Ela é minha mãe e meu pai, ela é meu tudo! Daria minha vida pela a dela, sem dúvidas.
Pedi para ir para o Brasil a visitar, mas ela disse que isso não dependia apenas dela. Blá blá blá. Não dei bola. Por que eu não poderia ir a ver? Por que? O que está acontecendo?
Eu vou ir ver minha mãe sim. Ela pode não pagar minha passagem, mas eu posso trabalhar e comprar uma. Preciso saber o que ela tanto me esconde e lhe dar apoio nesse momento difícil.
Só vai ser complicado porque eu nunca trabalhei, ela me dava tudo o que eu precisava. Mas nada é impossível.
Levanto e pego o aspirador de pó. Ai minha coluna... já dói inteira.
Passo o objeto pelo chão da sala tentando tirar a sujeira daquela casa. Liv tinha razão, está imunda.
As pessoas dizem que eu sou bem fria e ignorante, mas esse é o meu jeito de ser. Quem sabe no meio desse coração de pedra não exista um diamante...
Bem filósofa ela.
Eu apenas... apenas aprendi que eu não posso me apegar demais nas coisas. Sempre fui muito sozinha, era sempre eu e minha mãe. O único amor que eu conheço é o da mãe e o da amizade e quer saber? Estou muito bem assim. Não preciso de ninguém, pelo menos é o que penso.
Vejo diariamente pessoas chorando por amor e penso, será que um dia eu encontrarei um? Digo, será que algum dia alguém me amará?
Sou cheia de defeitos. Nem sei como minha mãe e a Liv me aguentam, sinceramente.
Mas isso não importa agora. Quer dizer...
Ah que saco, eu penso demais. Tenho que parar com essa coisa chata de pensar.
Ligo o som e coloco IDGAF da Dua Lipa para tocar, não sei, gosto da letra.
Espero que me tire desses pensamentos bestas e tolos.
Termino de passar o aspirador pela sala e vou pôr as almofadas do sofá no lugar.
— So I cut you off! I don't need your love. Cause I already cried enough... - cantarolo enquanto vou em direção dos quartos para limpá-los.
[...]
12:34 PM.
Desligo o fogo do arroz e ouço a porta abrir, a Liv chegou.
— Hum... fez um bom trabalho! - ela fala colocando as sacolas em cima do balcão. — Eu amo quando você cozinha, comida brasileira é uma delícia!
— O Brasil em si é maravilhoso, você precisa conhecer.
— Antes de morrer.
— Antes de morrer. - concordo. — Bom, vamos comer? Depois guardamos as coisas.
— Claro. - ela bate palminhas animada.
Pego meu prato e começo a me servir. — É... Liv...
— Hm?
— Eu tô atrás de um emprego... sabe aquele caso de ir visitar minha mãe...
— Ah sim, acho que posso ajudar. - fala comendo um pouco do seu omelete.
Meus olhos brilham. — Sério?!
— Aham. Meu chefe está me devendo um favor, mas lá na empresa não tem mais vagas. Quem sabe você não trabalha na mansão dele... vi ele comentando com o amigo dele que precisava de uma cozinheira. Você cozinha bem, pelo menos eu acho.
Liv trabalha em uma das maiores empresas daqui. É secretária lá.
— Trabalhar como cozinheira não é bem meu desejo, você sabe, mas é minha mãe né. - ela assente. — Basta ele pagar bem.
Sou um pouco exigente.
— E paga.
— Certo. Pode falar com ele. Qual o nome dele?
— Justin Bieber.
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By Chance
FanficEla era o doce mais amargo e o amargo mais doce que alguém poderia encontrar. Em uma situação complicada, com sua mãe com câncer a vários quilômetros, Emma decide arrumar um emprego para comprar a passagem para o Brasil e ir visitá-la; tudo bem, mas...