De volta ao Orfanato

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Não, não pode ser, era aquele lugar, a cena do crime de muitas mortes que por meses não saiu da minha cabeça, meu colegas de quarto, meus primeiros amigos, todos, todos eles morreram aqui, eu ainda me lembro muito bem do rosto deles na maca, ou então enrolados em um pano branco.

"Se lembra desse lugar?" Disse a Irmã da Dora, que por sinal não citei o nome, ela se chama Alicia.

"O lugar onde fui largada" Disse baixo e quase chorando quando as imagens de tudo o que aconteceu ali, meus momentos de tristeza e alegria, até a parte das mortes se passavam pela a minha cabeça.

"Esplêndido" Ela disse aplaudindo. 

Eu a olhei confusa, mas ela não olhou pra mim, simplesmente fez um sinal para o cara alto que era nosso motorista. Ele se virou, entrou no carro e saiu. A Alicia pegou em meu braço e me puxou para dentro do prédio, eu estava sem reação, eu fiquei a maior parte do tempo assim, fazia tanto tempo que eu nem pensava naquele orfanato e de repente me trouxeram ali de novo. Ainda tudo se passava pela a minha mente, quando a Alicia abriu o portão principal piorou a situação, eu me lembrei de quando eu cheguei ali, quando a  Dora com um sorriso no rosto veio ao meu encontro sorrindo e me fazendo me sentir segura ali...

"Suba, ainda sabe onde fica seu quarto não é?"

Fui de automático a obedecendo sem falar nada. Subi as escadas assustada por tudo, tudo que eu lembrava, e o que estava acontecendo. Quando cheguei ao final das escadas, virei a direita exatamente onde ficava o quarto das meninas, segui em frente uns 80 metros só de corredor, e de todos os lados tinham quartos, e o meu ficava bem no final dele, do lado do banheiro que não era lá grandes coisas mas era delicadamente organizado.

Quando cheguei em meu quarto vi as camas organizadas, todas encostada nas paredes com uma distância de mais ou menos um passo entre elas, como elas estavam encostadas na parede se formava um corredor no meio, e minha cama continuava no fundo, no final do lado direito de todas as camas. Eu tinha uma visão privilegiada de todo mundo, quando acordávamos, era uma bagunça para todos se levantarem e arrumarem suas camas, eu esperava um moncado ir para o banheiro para eu resolver levantar e arrumar minha cama.

"Que bom que encontrou o local sozinha"  Alicia disse pra mim da porta enquanto eu estava em frente a minha antiga cama. Eu somente a olhei. E me virei novamente para ver minha cama. Por um momento consegui retomar o controle, já não estava mais em estado de choque, então decidi perguntar.

"O que você quer comigo? Por que me trouxe aqui?"

"Que bom que você fala, achei que um gato tinha comido sua língua. Já estava pensando que não iria me perguntar nunca" Ela disse rindo e vindo em minha direção.

"E então? Eu perguntei, o que eu estou fazendo aqui?" Disse sem emoção na voz.

"Certo, se você se lembra se alastrou uma epidemia aqui que eu não sei da onde, muitas pessoas morreram, seus colegas pob...."

"Eu sei bem o que aconteceu, você os matou, te odeio por isso, o que exatamente eu estou fazendo aqui?" Disse com raiva quando ela começou a falar das mortes, o sangue ferveu não podia ficar mais calada.

"Na verdade, eu não queria matar ninguém, você sobreviveu, a sobrevivente"

Isso me fez lembrar do Deivid naquela época que tínhamos fugido do orfanato.

"Por que eu fui a única que sobreviveu? Não pôs veneno na minha comida?"

"Na verdade pus, mas não sei por que foi a única que não morreu." Ela fez uma pausa para pensar e me perguntou:

"Tem tido Dejá Vu com palavras, tipo escutado umas palavras e depois ouvi-lás da boca das pessoas?"

"Hã? Ficou maluca, do quê..." Espera, pensando bem, no hospital quando a Luiza me disse para não morrer e quando o Deivid disse que me am...

(...)

Abri meus olhos devagar, estava na minha antiga cama, olhei para o teto, para o chão e lembrei de tudo. O que tinha acontecido? Ah é mesmo, estava no orfanato com Alicia me fez uma pergunta estranha, se eu escutava...

"A, enfim acordou, atrasou um monte de coisas sabia? Não podia desmaiar depois?" Alicia me perguntava com um pouco de raiva.

"Ei, a culpa não é minha, não escolhi desmaiar, e ainda mais estou com fome, quando vai me dar algo para comer, ou vai me deixar desmaiar de novo?"

 "Não ligo para as suas necessidades, afinal de contas isso vai ser rápido" Disse ela dando de ombros

"Venha, temos mais o que fazer" Alicia disse para mim já se dirigindo para  a porta.

Me levantei e fui ao seu encontro, olhei por um instante para a janela que ficava no final dos corredor e vi que já estava escuro, o que significa que estou o dia todo sem comer nada. Já estava começando a ficar fraca e tonta, mas sabia que Alicia não se importava. Enquanto caminhávamos de volta para a entrada principal eu pensei no que poderia estar acontecendo com a minha 'família' e 'amigos', será que eles sentiram minha falta hoje?

[...]

Quando estávamos próximo a porta principal, Alicia virou a direita e seguimos em direção ao porão, me lembro que lá era onde eu e mais algumas crianças do orfanato brincávamos. Ela abriu a porta desse porão e deu um passo para trás para eu descer as escadas primeiro. Rolei os olhos e desci, lá estava escuro, não conseguia enxergar nada embaixo, mas desci as escadas com todo o cuidado para não cair, e a medida com que eu descia eu vi um luz fraca, parecia ser de algumas velas, e quando eu cheguei lá em baixo eu vi. 

Era o 'nosso motorista' aquele mesmo que nos trouxe para o orfanato.

"O nome dele é karty." Disse Alicia que ainda estava descendo as escadas naquele salto enorme, deve ser difícil descer as escadas com isso.

"Ele vai fazer alguns experimentos com você, sabe só para comprovarmos uma coisa" Continuou Alicia.

"E depois disso? Posso ir embora?" Disse a encarando sério dessa vez.

"Mas você vai pra onde querida?" Ela disse sorrindo. O que me fez pensar, que ela tinha razão, eu iria pra onde? Ela percebeu minha cara de tristeza, e então disse.

"Se você sobreviver pode ir" 

Sobreviver? Como assim?

O lugar Onde Tudo Termina [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora