08.TERÇA-FEIRA DE TARDE

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Meu amor vive em tons de azul
Olhos tristes, jazz e atitude
Ele também vive na Califórnia
Dirige um Chevy Malibu
E quando ele chama, chama por mim
E não por você                 (Shades Of Cool - Lana del Rey)

Não posso deixar de amar você
Mesmo que eu não tente
Não posso deixar de te querer
Eu sei que eu morreria sem você           (War Of Hearts - Ruelle)


Quando eu vinha voltando da escola o Niall disse que o amigo do meu amigo pintor estava lá em cima, no apartamento do Zayn.

O amigo do meu amigo deve ser o Harry.

Eu disse ah é? com cara de quem não estava ligando, mas meu coração estava pulando: eu percebi logo que eu tinha que falar com o Harry Styles e perguntar o que eu andava querendo saber.

Entrei no elevador ensaiando depressa na minha cabeça um modo legal de falar. Teve que ser depressa porque o elevador chegou logo e eu achei que era chato ficar ali parado na frente da porta do apartamento do Zayn sem apertar a campainhas nem nada. Apertei. O Harry Styles demorou pra abrir a porta e então deu tempo de ensaiar de novo.

Ele abriu a porta, eu abri a boca e o relógio tocou. Nada do que eu tinha ensaiado saiu do jeito certo; e eu, que tinha ensaiado tão bem a minha fala, paralisei.

É incrível como aquela batida - uma só, era uma meia hora - me deixou assim... Sei lá. Primeira eu fiquei feliz: o relógio batendo era o barulho certo do Zayn, até parecia que ele tinha voltado. Mas em seguida eu pensei nele como naquele último dia que eu tinha visto: morto para sempre. E então aquela batida do relógio ficou batendo dentro de mim de um jeito assim tão vermelho, tão difícil de entender que eu até esqueci o que eu tinha ensaiado pra dizer. Ainda mais que o Harry estava ali me olhando e usando uma calça marron, cor-de-saudade fortíssima.

Eu olhava pra calça e pra dentro da sala. Pra calça e pro relógio. Pra calça e pra cadeira que o meu amigo sentava. Então o Harry perguntou:

— Você quer entrar?

— Não. Eu só quero saber por que você mentiu pra mim.– E saiu tudo diferente do que eu tinha planejado.

A gente se olhou. Eu expliquei:

— É que... Você disse que ele tinha morrido como todo mundo morre. Mas todo mundo não resolve morrer de propósito, resolve?

— Você não quer entrar?

Entrei só um pouco. E como ele continuava sem falar, acabei dizendo:

— Eu precisava saber direito o que aconteceu com ele.

— Por que você diz que eu menti? – ele falou calmo. Quer dizer, ele parecia calmo, daquelas pessoas sempre tranquilas.

— Então não mentiu? Então a notícia já não se espalhou e agora todo mundo já não está sabendo que ele se matou?

Ele foi andando até o fundo da sala. Parou junto da janela. Ficou olhando para fora. Engraçado: o Zayn também pensava assim de pé, olhando para a rua.

— Foi porque você acha que eu sou criança? – eu falei depois que eu achei que ela não ia mais responder.– Lá em casa eles acham que esse assunto não é coisa de criança. Embora eu já tenha 17 anos.– Ele me olhou.– Você também é assim? Foi por isso que você mentiu pra mim?

— Não. Eu tenho uma irmã da sua idade e eu converso sobre tudo com ela.

— E sobre suicídio? Vocês também falam?

MEU AMIGO PINTOR ✴ ZIAM MAYNE (concluida)Onde histórias criam vida. Descubra agora