MEU AMIGO PINTOR ✴ ZIAM MAYNE (concluida)

06.DOMINGO

Sua pele
Oh, sim, sua pele e ossos
Transformaram-se em algo bonito
Você sabe
Você sabe que eu te amo tanto?
                    (Yellow - Coldplay)

Eu sei que eu só senti a religião quando estava deitada com você
Você disse que você nunca será perdoado até que seus amigos também sejam
E eu ainda estou acordando todas as manhãs, mas não é com você     
               (Colors - Halsey)

Você consegue sentir onde está o vento?
Você consegue sentir ele passando
Por todas as janelas
Deste quarto?          (Dusk Till Dawn - Zayn feat. Sia)
                          

De tudo que eu conversava com o Zayn, tem duas coisas que eu lembro mais. Não sei por quê. A primeira é um papo que nós tivemos num domingo. Estava chovendo. Nós tínhamos acabado de jogar. Zayn levantou, acendeu um cigarro, começar a preparar umas tintas, e então conversou sobre amor.

Amor de trabalho. Amor de pintar. Amor de homem e mulher, de pai, de mãe e de irmão. Amor de cidade, de país, de mundo. Amor de filho, de amigo.

— Amor como esse, que sentimos um pelo outro.– Zayn falou.

Meu coração pulou.

Minha vida toda eu gostei do meu amigo pintor... Eu tinha um grande coração por ele; mas eu sempre pensei que o coração dele era menor por mim. Não sei se é porque eu tinha 17 e ele 23; ou porque ele era artista e eu não; só sei que quando ele falou sobre amor o meu coração pulou de um jeito novo; será que então ele gostava de mim como eu gostava dele?

Eu quis saber se era verdade mesmo:

— Como é que você gosta de mim?

— Depende. Tem dias que eu gosto como pai; fico com pena de você não ser meu filho, de não poder dizer: fui eu que fiz esse garoto legal! – Ele riu torto. Depois ficou sério, sentou entre ao cavalete e começou a pintar.

Amor de pai? Sério isso?

Ele continuou:

— Mas então, no outro dia, eu não tenho vontade nenhuma de ser seu pai: quero ser apenas seu amigo e pronto.– pintou um pouquinho.

Apenas amigo? Sério de novo?

— As vezes eu gosto de você porque você é meu parceiro de videogame; outras vezes porque eu tenho vontade de ser você, quer dizer, ter dezessete outra vez. Dezessete é melhor idade.

Videogame? Ser eu?

-— Então é isso: cada dia eu gosto de você de um jeito. E quando junta tudo fica um coração bem grande, vê que é amor.

É amor? É amor!

Achei tão bom ele falando que gosta assim de mim que eu fiquei parado sem dizer mais nada, apenas olhando ele pintar. Mas um momento eu não resisti:

— Você acha que somos parecidos? – eu perguntei.

—  No rosto, não; no jeito, sim.– respondeu rápido.– No jeito quieto, no jeito de espirrar sem estar resfriado, jeito de olhar para as coisas. Tive muitos amigos da minha idade, mas nenhum deles era parecido comigo como você é.

— É, mas tem algo que você não conversa comigo.

— Por exemplo? – ele arqueou uma sobrancelha.

Eu estava louco para dizer que ele não conversava sobre o Harry Styles comigo. Mas achei melhor que ia ficar chato. Apenas balancei o ombro e fiquei olhando pro pincel. Era um canto da sala que ele estava pintando. Cadeira. Mesa. Lâmpada. Mas então, ele começou a pintar um pedaço de alguém. Eu digo um pedaço porque ele resolveu pintar esse alguém bem no lugar onde a tela acabava.