09.DOMINGO

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Eu acho que é hora de te contar
Que eu sou fã de todo o seu universo
E de cada sombra que você oferece
É diferente, mas eu sei como funciona
Eu sou viciado na mágica
E no brilho das luzes da cidade
Eu os sinto nas minhas veias, eu só não sabia como dizer direito
(Colors - One Republic)

Eu não-convencionais posso dizer não
Apesar de as luzes estarem acesas
Não há ninguém em casa
Jurei que não iria perder o controle
E então eu me apaixonei por um coração que bate tão devagar         
 (Blue - Troye Sivan)

...

Semana passada foi meu aniversário. 18 anos, e eu não estava tão empolgado como de costume.

No dia da minha festa, Louis e eu começamos um namoro. Quer dizer, a gente já era bem próximo, e fazíamos coisas que amigos normais não fazem. Mas eu lembro que eu fazia isso com Zayn também, e ele era meu amigo.


UM ANO DEPOIS

Esse ano passou todo de um jeito que eu não gostei muito. Pelo seguinte: cada vez que eu me lembrava de Zayn ele vinha junto dos "por quê?'s". Tipo ruim de pensamento. A cada semana ficava mais triste. Era um veneno novo. Mais um corte.

E ainda por cima fez um tempo horrível. Chuva, chuva. Chuva e aquele nevoeiro que a gente não vê nada lá fora quando se olha pela janela, e que já disseram que esse nevoeiro é o pior de toda a Inglaterra. Então fiquei na fossa. Achei que nunca mais ia parar de chover e que nunca mais eu ia poder lembrar do meu amigo sem achar tão ruim.

Foi assim durante o ano todinho. Cada data que passou, as festas de família, a forma como o meu relacionamento com Louis evoluiu, tudo me lembrava Zayn de uma maneira ruim.

Mas então, na quinta-feira de manhã, na faculdade, eu fiquei olhando pro meu caderno aberto e pensei: poxa, essas duas folhas vêm tão juntinhas! mas é tão fácil separar uma da outra: só puxar. E eu puxei. A folha soltou. Escondi ela atrás do caderno. Depois juntei ela de novo com a outra. Separei. Juntei. Separei. Brinquei. Juntei. E de repente me deu vontade de experimentar a mesma coisa com a lembrança que eu tinha do Zayn: separar amigo pra cá e por quê? pra lá.

Experimentei. Era só pensar:

Por que ele fez assim tão de propósito pra morrer?

Por que ele não explicou nada na carta?

Por que ele foi preso?

Por que ele não me disse o que ele ia fazer?

Por que ele queria expressar vida no que ele pintava e não expressava?

E cada por que ia aparecendo na minha cabeça junto com o meu amigo eu experimentava puxar, arrancar, esconder bem escondido lá no fundo da minha mente.

Experimentei isso por dois dias. Até para andar na rua eu andava assim: um-dois, um-dois, um-dois.

1 era Zayn
2 era Por Quê?
1 era Pensa!
2 era Esconde!

Pensa! Esconde! Pensa! Esconde!

E se formou uma bagunça na minha cabeça, que pareceu um motor de carro que a gente liga mas não pega.

Mas hoje, quando acordei, era a primeira noite no meu apartamento novo. Eu e Louis decidimos morar juntos, então compramos a antiga morada de Zayn, e mantemos as coisas como o de costume. Hoje tinha um azul incrível entrando na nossa janela, o quarto estava tão iluminado e Louis estava lindo sob a luz do sol. E o sol, estava tão lindo, tão amarelo, um amarelo que quando eu experimentei olhar para ele foi se alaranjado.

Lembrei da pintura que Zayn tinha feito no fim do álbum: BrIgHt (escrita assim mesmo, com as letras desse jeito) era também um céu de verão.

Abri o álbum para comparar o azul que ele tinha pintado com o azul que eu estava vendo.

Zayn tinha juntado as duas últimas folhas do álbum para poder pintar bem grande aquele céu.

Fiquei olhando e olhando o jeito que ele tinha juntado as duas folhas. Olhei tanto, que acabei descobrindo que eu não tinha que separar amigo pra cá e por que pra lá. O que eu tinha que fazer era o mesmo que ele fez: juntar. Bem junto.

E então juntei.

Agora, quando penso no Zayn (e eu continuo pensando tanto!), eu penso nele inteiro, quer dizer: cigarros, tinta, por quê?, video game, flor, morte de propósito, por quê?, relógio batendo, religião, amarelo, por quê?, blusão verde, amor, coração, Harry: tudo bem junto e misturado.

E eu comecei a gostar de pensar assim.

Acho que até que se eu continuar gostando de cada por quê que eu vejo, eu acabo entendendo um por um.


Fim...

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MEU AMIGO PINTOR ✴ ZIAM MAYNE (concluida)Onde histórias criam vida. Descubra agora