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"Eu fiquei preocupado porque o Daryl ficou de me dar uma posição, e não liguei pra ele porque queria dar a ele espaço..." disse Scott, com os olhos cansados. "Mas aconteceu de eu estar aqui na Geórgia e resolvi passar para ver como ele estava. Então o pai dele..." o semblante do homem endureceu. "O pai dele me disse que ele tinha ido para o Kansas. Mas ele não sabia muito bem o que estava dizendo, porque estava alterado. Fui até a mata onde o Daryl costumava caçar e também não o encontrei. O celular dele só dá caixa postal. O irmão dele tá na detenção, então também não sabe de nada. E é isso que me preocupa", concluiu Scott, repetindo por cima a história da qual já tinha feito ocorrência. "Se o Daryl sumisse e o Merle estivesse por aí, eu saberia que ele tinha metido o Daryl em alguma coisa. Mas agora ele sumiu sem pistas. E o pai dele não se importa."

Rick ouviu a história toda com atenção.

"Quando você falou com ele pela última vez, Rick?" perguntou Robert.

"Uma semana atrás. Fui até a casa dele, e ele estava decidido a ir embora. Ele tinha ido até a escola pedir transferência e tudo o mais."

Scott o mirou com o cenho franzido.

"Eu não sabia que você era amigo dele, então não me ocorreu te procurar."

"Tudo bem. O Daryl é muito fechado mesmo."

"Não tem mais ninguém que possa saber...?"

"Duvido", disse Rick tristemente.

"Bom", começou Robert, "provavelmente vamos fazer buscas com base na movimentação prévia do Daryl. Scott, vou levar o Rick para o delegado e para o escrivão agora, e se você quiser esperar, volto para te dar um parecer. Vou me encarregar de achar o Daryl. Vou estar nesse caso", disse com convicção. Pelo seu tom, Rick soube que ele tinha contado ao tio de Daryl que estava envolvido em todas as vezes em que Merle tinha sido detido.

"Certo, vou esperar aqui."

Rick depôs, e como previsto, o delegado designou uma equipe de buscas em que o pai de Rick foi o primeiro a se voluntariar para estar. Scott agradeceu, deixou o número de telefone e disse que estaria em Atlanta por um tempo.

Rick e o pai voltaram para casa meio atordoados. Rick ouvia em silêncio as suposições do pai e tentava buscar no fundo da mente alguma pista para o desaparecimento de Daryl. Não havia.

*

"Desapareceu", repetiu Carol, sem sentir a própria voz, ao telefone. "Como?", perguntou fracamente.

"O Rick não me disse direito. Parece que o tio dele do Kansas foi dar queixa na delegacia."

Carol ficou em silêncio um instante, tentando processar a informação. Daryl Dixon desapareceu.

"Carol... eu sei que vocês tiveram um lance. E eu sei como esse negócio de desaparecimento mexe com você", disse Michonne, cautelosa. "Só... não deixe isso te abater, tá? A polícia tá na pista dele, o Daryl sabe se cuidar, e ele realmente some as vezes. Ele vai acabar aparecendo."

"Aham", disse Carol para evitar que o assunto rendesse. Sabia que a intenção de Michonne era boa, mas, no fundo, Carol queria dizer que acabar aparecendo não era o suficiente. "Escuta, vou desligar. Tenho que olhar o ponto dos meus cookies. Obrigada por avisar."

"Se precisar de alguma coisa, me liga."

"Certo."

Carol desligou sentindo um gosto amargo na boca. Não tinha cookies no forno agora, era só uma desculpa.

Estava dividida entre ir agora mesmo, por si mesma, procurar por Daryl, e simplesmente deixar o assunto nas mãos de quem tinha se encarregado dele. Porque talvez Daryl não quisesse ser achado. Mas talvez estivesse exatamente precisando que o achassem. Mas talvez...

Ficou remoendo a última conversa estranha que tivera com ele. Perguntou-se se teria algum direito de procurar por ele, de encontrá-lo. Bem, ela devia um favor a Daryl. E faria o que achasse certo.

*

Na quarta-feira, Rick foi até a associação onde trabalhava algumas vezes por semana. Tinha ido na segunda, mas fizera apenas algum trabalho burocrático, organização de arquivos e coisas do tipo. Hoje era dia de descarregar suprimentos que vinham do governo e de doações. Ele foi até o depósito do local, que ficava nos fundos do prédio, e destrancou as portas. Era um galpão pequeno, com várias caixas e poeira acumulada. Sobressaltou-se ao perceber um vulto encolhido entre umas caixas lá no fundo.

"Daryl?"

*

Rick tinha fechado as portas, ficando lá no escuro com um Daryl que fazia sinal de silêncio com o dedo.

"Desculpa ter vindo pra cá", começou o amigo. "Precisava me esconder e sei que só você vem aqui."

"Quê que você tá fazendo aqui, cara? Você foi dado como desaparecido. Tá todo mundo te procurando."

Daryl pareceu surpreso.

"Fui dado como desaparecido?"

"Seu tio deu queixa na polícia."

Daryl fechou a cara.

"Que merda..."

"Pode começar a explicar."

Daryl resumiu a história com Negan.

"...e ele ameaçou o Merle. Caso eu não trabalhe pra ele. Eu quis sair de cena enquanto o Merle não é solto, até eu poder resolver isso com ele."

"Que tipo de trabalho esse cara quer que você faça?"

"Até agora ele me mandou cobrar de umas pessoas. Acho que ele só quer me manter ocupado até o Merle voltar."

"Daryl... vamos pra delegacia, cara. Faz um retrato falado desse filho da puta."

Daryl riu um riso nervoso.

"Se eu fizer isso, o Merle tá morto."

Daryl sabia que tinha se arriscado muito indo para aquele lugar, mas sabia que a própria casa devia estar sendo vigiada. E não queria expor os altos e baixos do pai como mais um ponto fraco... mais algo com que eles o poderiam atacar. Também tinha se arriscado contando tudo a Rick. Não sabia se ele ia colocar o que considerava ser o certo a fazer antes da amizade dos dois.

Rick franziu a testa numa expressão pensativa.

"Certo. Vamos pensar em algo."

"Obrigado", disse Daryl sentindo um certo alívio. "Só não conta pra ninguém que eu tô aqui, quero continuar desaparecido."

"Isso é muito irresponsável, Daryl", disse Rick, sério. "Você achou que ninguém ia dar pela sua falta, tudo bem, mas... tem muita gente preocupada. Meu pai tá liderando as buscas. Seu tio tá na cidade. A Carol..."

Daryl sobressaltou-se à menção do nome dela.

"Que tem ela?" perguntou, com cuidado.

"Ela me interrogou no dia seguinte ao que seu tio deu queixa. Parecia transtornada. Tenho certeza de que se preocupa com você."

Daryl ficou em silêncio. Olhou para o nada.

"Não conta pra ninguém que eu tô aqui", repetiu. "Especialmente pra Carol."

Rick suspirou.

"Tá bom. Agora você me conta tudo o que sabe sobre esse tal Negan. Rápido, antes que alguém ache que eu tô aqui há tempo demais."

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