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"Tô atrapalhando os pombinhos?"

Daryl apontou a besta para Negan.

Ele suspirou dramaticamente. Abaixou o taco de beisebol que parecia sempre carregar consigo e apoiou-o no chão.

"Por que você sempre aponta essa porra pra mim? Abaixa essa merda!"

Daryl hesitou. Abaixou um pouco.

"Você se esquece de que trabalha pra mim, Daryl. Não é assim que se trata o seu patrão. Não é nem assim que eu te trato, porra."

Daryl abaixou a besta, a contragosto. Continuou segurando firme, entretanto.

"Tá fazendo o quê aqui?", perguntou.

"Eu precisava do meu Daryl de volta. Te procurei no nosso lugarzinho, mas você não apareceu por lá. Te procurei na sua casa também, mas, surpresa!, você também não tem ido muito lá."

"Podia ter ligado", cortou Daryl.

"Eu quis me certificar, Daryl. Eu me preocupo com você. Eu quis dar um sacode no seu pai por você, mas parece que ele tava mais pra lá do que pra cá... ele já levou um sacode da vida, não é mesmo?" Negan riu. Daryl apertou a mão em volta da besta.

"O engraçado é que você ainda estava disponível pra mim. Tem alguma coisinha estranha nessa história, não tem não? Você atendeu minhas ligações, fez o que eu mandei, e ficou aqui. Trouxe até garotas pra cá", ele aproximou-se e cutucou Daryl com o cotovelo num gesto forçadamente descontraído. "Ela é bonita", comentou como se Carol não estivesse ouvindo. "Podia facilmente ser uma das minhas namoradas."

"Fica longe dela", Daryl grunhiu, sentindo a raiva comandar seus sentidos, e ergueu a besta novamente.

"Eu já falei", retorquiu Negan calmamente, "pra não apontar isso pra mim." Daryl não abaixou dessa vez. "Isso é uma conversa civilizada, por enquanto. Porque eu deixei ser. Lembre-se disso."

"Vai embora."

Negan abriu mais o sorriso. Ele estava muito próximo de Daryl, quase tocando a ponta da flecha, e num relance Carol percebeu porque ele estava tão calmo. Com qualquer movimento desavisado, se fosse rápido o suficiente, poderia afastar a besta, e abrir caminho para atacar Daryl. Então ela tinha que ser rápida o suficiente.

Sacou o punhal e colocou-se atrás de Negan, puxando-o pelo ombro para trás e posicionando a faca em sua garganta.

"Você ouviu. Vai embora", disse.

Ele riu baixo.

"Ela colocou as asinhas de fora! Gostei. Desculpa, moça, mas como eu devo ir embora com você pressionando uma faca no meu pescoço?"

"Você vai deixar o taco aqui", continuou Carol, sem se abalar, "vai sair em silêncio e não vai mais incomodar o Daryl. Ou a mim."

Ele hesitou. Então disse de repente:

"Nah. Prefiro as minhas opções", e Carol sentiu uma dor lancinante nos ossos da mão que segurava o punhal, soltando-o num reflexo. Só um instante depois é que percebeu que Negan tinha acertado a sua mão com o taco de beisebol, um filete de sangue escorrendo do pomo-de-adão do rapaz, onde a faca o tocara.

Então Daryl se lançou contra Negan, batendo na sua cabeça com a parte de trás da besta, e derrubando-o. Mas Negan era rápido e alcançou o taco de beisebol um segundo depois que ele tinha caído de suas mãos e usou-o para repelir a besta, atirando-a longe. Levantou-se, sem dar a menor impressão de ter ficado sequer tonto, e Carol viu que não eram páreo para ele. Mesmo que dessem cabo dele ali, agora, havia mais gente lá fora. Ele sabia o poder que tinha e queria fazer com que todos soubessem. Ela estava compreendendo agora.

Então o telefone de Carol tocou. A princípio ela nem percebeu. Mas a pausa dramática de Negan, erguendo-se com seu taco de beisebol sobre Daryl, o momento que ele queria que Daryl e Carol percebessem que seria o último antes de ele resolver fazer algo muito ruim com eles, esse momento fez Carol perceber muitas coisas.

Era uma ligação de Rick.

"Bem..." Negan começou. "Agora você me tirou do sério, Daryl."

Empurrou Daryl com uma força que nem parecia ter, e o fez cair com estrondo no chão. O telefone de Carol tocou mais uma vez. Ela atendeu.

"Carol? Mudança de planos..."

"Eu quis dar um futuro pra você, Daryl. E é assim que você me agradece..."

"Já explodiram?", perguntou num sussurro. Tinha se tornado invisível para Negan na cena novamente.

"Quê? Não, mas..."

"Vou te colocar no viva-voz. Não fale o nome de ninguém. E minta", disse o mais claro possível.

"O que...?"

Carol ativou o viva-voz.

"Já explodiram o arsenal do Negan?" disse em voz alta.

Negan virou-se para ela.

"Já", a voz de Rick soou, clara, ao telefone. "Não sobrou nada."

"O que...?" e pela primeira vez Negan pareceu desconfortável. Seus olhos brilhantes estavam assustados.

"Faz muito tempo?", voltou a perguntar Carol.

"Não. A casinha ainda tá queimando..."

"Que porra é essa?" ele alteou a voz.

"Obrigada. Bom trabalho", Carol desligou.

Negan a olhou com ódio, desnorteado.

"É um blefe corajoso, moça", tentou sorrir, mas só conseguiu um esgar bizarro.

"Eu não blefo. Eu iria embora daqui, se fosse você. Rápido."

Ele pareceu pensar por um segundo nas opções, e o taco balançou molemente em sua mão. A expressão em seu rosto só podia indicar que ele percebera que não eram mais suas opções. Então saiu do depósito rápido, deixando Carol e Daryl sozinhos com suas próprias escolhas amargas. Daryl foi correndo abraçar Carol, e ambos perceberam o que era quase perder um ao outro, e o quanto isso era horrível. Daryl a beijou novamente e, dessa vez, Carol soube que ele ia continuar ali.

Ela gemeu ao sentir a mão direita ainda doendo muito quando tentava movimentá-la. Soltou Daryl.

"Vamos sair daqui", murmurou. Ele assentiu.

A moto de Daryl estava escondida algumas quadras abaixo da associação, num ferro velho. Eles andaram até lá, surpreendendo-se que ninguém tivesse notado toda a movimentação por ali, mas Carol achou que era assim mesmo: várias coisas aconteciam debaixo do nariz das pessoas o tempo todo, e elas sempre preferiam acreditar que estava tudo bem a encarar a realidade.

Montou na garupa de Daryl, agarrando a cintura dele o melhor que podia com a mão machucada, e os dois seguiram em direção a vários problemas que ainda precisavam ser encarados.

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