Nos meses de junho e julho de 1963 a França foi abalada por uma erupção de crimes violentos. De um extremo ao outro do país, bancos e joalherias eram assaltados. Dois funcionários bancários foram mortos a tiros em cidades diferentes e a crise tornou-se tão grave que os agentes da Compagnie Républicaine de Sécurité (CRS) foram chamados e armados de pistolas-metralhadoras para guardarem as entradas dos bancos. Nem mesmo depois de três assaltantes terem confessado que pertenciam à OAS, a Polícia conseguiu descobrir por que motivo precisava aquela organização tão urgentemente de dinheiro.
Nos finais de julho a Polícia calculou que o montante dos roubos ascendia a mais de dois milhões de francos franceses, ou seja quatrocentos mil dólares. Entretanto chegou à secretária do general Guibaud chefe do SDECE, um relatório em que o seu agente em Roma o informava de que Marc Rodin, René Montclair e André Casson se haviam instalado no último andar de um hotel à saída da Via Condotti, guardados noite e dia por oito robustos e duros ex-membros da Legião Estrangeira. O general Guibaud deduziu que pretendiam apenas assegurar-se de que não seriam raptados. Só muito mais tarde compreendeu o verdadeiro significado de tais precauções.
Em Londres, o Chacal passou a última quinzena de Junho e as primeiras duas semanas de julho numa atividade cuidadosamente planejada. Entre outras coisas, leu quase tudo escrito por ou sobre Charles de Gaulle. Mas embora a leitura lhe proporcionasse um retrato completo de um orgulhoso e desdenhoso presidente da França, não respondeu às principais interrogações que formulava a si próprio: quando, como e onde deveria efetuar-se o atentado.
Assinou um pedido de autorização para proceder a um trabalho de investigação no Museu Britânico e começou a ler números atrasados do principal diário francês, Le Figaro. Uma ideia inspirada por um articulista num número de 1962 levou-o a estudar todos os anos da carreira de De Gaulle a partir de 1945. Como resultado desse estudo, ficou sabendo precisamente em que dia e local, independentemente do perigo pessoal que tal pudesse implicar, Charles de Gaulle, a figura mais cuidadosamente guardada do mundo ocidental, apareceria em público e se mostraria. A partir de então, os preparativos de o Chacal passaram da investigação para o planejamento prático. Considerou e rejeitou pelo menos uma dúzia de ideias antes de acertar, finalmente, no plano adequado.
O aparelho da SAS vindo de Copenhagen parou em frente ao terminal de Londres. No congestionado terraço de observação, o homem louro ergueu os óculos escuros para a testa e ajustou um binóculo. Era o sexto grupo de passageiros a ser submetido, naquela manhã, a tal observação. Quando o oitavo passageiro apareceu, o homem do terraço ficou ligeiramente tenso.
O passageiro proveniente da Dinamarca era um pastor de terno cinzento e cabeção. O cabelo grisalho penteado para trás dava-lhe o aspecto de um homem que se aproximava da casa dos cinquenta, embora o rosto fosse mais jovem. Era alto e tinha ombros largos e quase a mesma constituição delgada do indivíduo que o observava. Quinze minutos depois, o pastor saía do posto da alfândega com uma mala de viagem e uma pasta e abandonava o edifício, seguido de perto por Chacal, e tomaram ambos o mesmo ônibus da BEA para Londres. No terminal da Cromwel Road, o dinamarquês abriu caminho até a longa fila de táxis, enquanto o Chacal se dirigia para o seu automóvel esportivo, que se encontrava no estacionamento.
O dinamarquês entrou no terceiro táxi, que seguiu na direção de Knightsbridge. O carro esportivo seguiu-o. O táxi deixou o sacerdote num pequeno hotel da Half Moon Street. O Chacal estacionou e entrou no hotel cinco minutos depois. Teve de esperar mais de vinte e cinco minutos no átrio até que o dinamarquês descesse e entregasse a chave do quarto à recepcionista.
Quando esta a pendurou, o homem sentado na poltrona próxima verificou que o número da chave era o 47.
Passados minutos, quando a recepcionista se dirigiu ao escritório por trás da recepção, o Chacal subiu silenciosamente as escadas. Uma tira de mica flexível, que uma espátula de pintor tornava rígida, resolveu o problema de abrir a porta do quarto 47. Como descera apenas para almoçar, o pastor deixara o passaporte na mesa-de-cabeceira.
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O DIA DO CHACAL
Misterio / SuspensoONo dia 11 de março de 1963, o Tenente-Coronel Jean-Marie Bastien-Thiry, da Organização do Exército Secreto (OES), foi executado por um pelotão de fuzilamento. A última tentativa de assassinar o Presidente De Gaulle tinha falhado, e, como ela, desmo...