Continuação

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Mme De Gaulle baixou a cabeça, mas o general soltou um gelado: -O que, outra vez? e virou-se para olhar pela janela. Marroux segurava o volante, que estremecia, lentamente controlou a derrapagem e aliviou a pressão no acelerador.

Em seguida, o Citron avançou em direção ao carro com o segundo grupo de homens da OAS. Atrás de Marroux, o automóvel da segurança estava ileso. A velocidade a que o cortejo se aproximava pôs o motorista do veículo da OAS que esperava perante duas possibilidades claras: intercepta-lo ou arrancar com meio segundo de atraso.

O homem optou pela segunda. Quando lançou o veculo para a auto-estrada, surgiu o segundo automvel. Watin despejou a sua pistola-metralhadora contra a traseira do carro sua frente, no qual distinguia o perfil arrogante de De Gaulle por trás do vidro estilhaado. Djouder, no segundo automóvel, tentava disparar contra os assassinos, mas o seu próprio motorista bloqueava-lhe a visão. Os dois motociclistas, que o segundo carro da OAS quase derrubara, recuperaram o equilbrio e aproximaram-se. Um segundo depois, os homens da OAS ficavam para trás, enquanto o cortejo desaparecia no cruzamento. Quando chegaram a Vil acoublay, o general DeGaulle desceu, sacudiu estilhaços de vidro da lapela e contornou o carro, para dar o braço à mulher.

- Ande, minha querida, vamos para casa- disse-lhe, e por fim proferiu o seu veredito contra a OAS: - Não sabem disparar como deve ser. E conduziu a mulher para o helicóptero que os esperava. Na pista, Franois Marroux permanecia sentado ao volante, o rosto cor de cinza.

Enquanto a imprensa mundial especulava sobre a tentativa de assassinato, a Polcia Francesa, apoiada pelo Servio Secreto e pela Gendarmaria, desencadeava a maior caa ao homem da histria francesa. Conseguiram a primeira pista em 3 de Setembro.

A saída da cidade de Valence, uma operação da Polícia deteve um automóvel no qual
viajavam quatro homens. Um deles não tinha documentos de identificação. Levaram-no para Valence, a fim de o interrogarem, e apuraram que se tratava de um desertor da Legião Estrangeira, Pierre-Denis Magade, de vinte e dois anos.

- É a respeito de Petit-Clamart? perguntou-lhe um dos polcias. Magade encolheu os ombros, desamparado, e perguntou: -Que querem saber?

E falou durante oito horas, enquanto os policiais o escutavam, estupefatos. Quando acabou o seu relatrio, revelou os nomes de todos os participantes no atentado de Petit-Clamart, e desencadeou-se a caça. Só escapou um: Georges Watin. Bastien-Thiry e os outros cmplices foram julgados em Janeiro de 1963.

Enquanto decorria o julgamento, a OAS reuniu as suas foras para outro ataque de grande envergadura ao governo gaul ista, a que o Servio Secreto Francês respondeu ferozmente. O Servio Secreto Francês, Service de Documentation Extérieure et de Contre-Espionage(SDECE), divide-se em sete grupos encarregados da espionagem fora da França e da contra-espionagem no interior. O Serviço Cinco, ou Serviço de Ação, era o núcleo da atividade anti-OAS. Da sua sede, perto da Porta dos Lilases, um subúrbio pobre do Nordeste de Paris, partiram cem homens duros para a guerra contra a OAS. Na sua maioria corsos. E Eram peritos na luta com armas ligeiras e no combate sem armas, karat e judô. Haviam frequentado cursos de rapto, interrogatrio e assassinato. Autorizados a matar no desempenho das suas missões, utilizavam frequentemente essa autorização. Alguns deles alistaram-se na OAS e infiltraram-se nas suas cúpulas. Conhecidos por Barbouzes, ou Barbudos, devido às suas funções clandestinas, eram odiados mais do que qualquer polícia pela OAS.

Nos últimos dias de luta pelo poder entre a OAS e as autoridades gaulistas em território argelino, a OAS capturou sete barbouzes vivos. Os seus corpos foram posteriormente encontrados, suspensos de varandas e candeeiros de iluminação pública, sem orelhas nem nariz.

A 14 de fevereiro de 1963 foi descoberta outra conspiração para assassinar o general De Gaulle, que no dia seguinte discursaria na coleMilitaire, no Champ de Mars. Ao entrar no edifício, o presidente deveria ser alvejado pelas costas por um assassino empoleirado no beiral do telhado do prdio adjacente. No obstante o inacreditável carter de amadorismo de que se revestia, a conjura irritou De Gaulle. No dia seguinte, o presidente convocou o ministro do Interior, Frey , que tinha a seu cargo a segurana nacional, desferiu um murro na mesa e disselhe:

- Esta história dos atentados já foi longe demais.
Ficou decidido dar um exemplo nas pessoas de alguns dos líderes conspiradores da OAS.

Em 25 de fevereiro, o ex-coronel Antoine Argoud, chefe operacional da OAS no exílio, foi apanhado no seu hotel de Munique por dois homens do Servio de Ação e levado através da fronteira francesa oculto em furgo de lavanderia. Os homens do Servio de Ação não tinham, porém, contado com uma circunstância: ao capturarem e encarcerarem Argoud haviam preparado o caminho para que o seu obscuro assistente, o pouco conhecido mas igualmente astuto tenente-coronel Marc Rodin, assumisse o comando das operações que tinham por objetivo o assassinato de De Gaulle. Foi um mau negócio, sob muitos aspectos.

No dia 4 de maro, o Tribunal de Justia Militar condenou Bastien-Thiry à morte. Quando lhe comunicaram a sentena, Bastien-Thiry sorriu e afirmou: -Nenhum pelotão de franceses erguerá as espingardas contra mim.

Enganava-se.

O DIA DO CHACALOnde histórias criam vida. Descubra agora