Cap 32. Dois sorrisos

437 28 0
                                    

Naquela quarta cheguei em casa mais tarde por conta de uma reunião com os outros engenheiros do escritório. Encontrei Camila no meio da sala dançando uma espécie de dança do robô enquanto o Paçoca pulava em volta dela abanando o rabo. A televisão estava ligada em algum canal de música, num daqueles programa de top hits. O volume alto e empolgação com a dança não permitiu que ela notasse minha chegada, mas meu cachorro correu em minha direção assim que fechei a porta.

Paçoca pulava pelas minhas pernas até que eu me abaixei pra pegar ele no colo e dei beijinhos em sua cabeça.

- Oi filho! - Falei carinhosamente entre os beijos.

Camila notando minha presença, baixou o volume da tv e veio em minha direção sorridente.

- Oi, amor. – Disse antes de me dar um selinho.

Meu cachorro vendo que ela estava roubando minha atenção, latiu em sua direção. Camz o encarou estreitando os olhos, e balançou a cabeça com um ar de decepção.

- Traidor! O que houve com todo nosso amor, Paçoca? Você só me usa e joga fora, me troca pelo primeiro par de olhos verdes que aparece. - Camila o acusou exagerando no drama.

- Não é pessoal, amor. - Respondi rindo. - Tenho anos de vantagem. 

Dei mais um beijo no cachorro antes de coloca-lo no chão. Me aproximei novamente de Camila e beijei seu rosto, que abriu um sorriso radiante.

- Faz quanto tempo que você tem o Paçoca? - Perguntou olhando ele que agora deitava de barriga pra cima, ainda feliz com minha chegada.

- Uns 4 anos. - Me abaixei pra fazer o carinho que ele estava pedindo.

- Onde você o encontrou? - Continuou curiosa.

- Ele era o cachorro da Keana.

- E você o roubou?

- Sim. 

Levantei a cabeça ao ouvir o suspiro de Camila, ela odiava quando eu economizava as palavras, talvez porque ela, ao contrário de mim, conseguia falar por horas e eu nem mesmo precisava responder.

- Ele chegou filhote na casa da Keana e sempre que eu ia lá queria traze-lo comigo, mas não deixavam. Quando ele tinha mais ou menos um ano, ela pediu pra que eu cuidasse dele por um mês, enquanto viajava. Chegando lá em casa, Paçoca se apaixonou pela minha mãe. Sério, eles eram inseparáveis. Toda minha família se encantou por ele e nunca mais devolvemos. Keana ainda tentou o levar de volta umas 3 vezes, mas eu sempre ia lá e o sequestrava, até que desistiu de vez.

- Então você é uma ladra de cachorros? - Perguntou sorrindo.

- Na verdade, faço parte de uma quadrilha. Minha família toda teve participação nesse crime, minha mãe foi a mentora intelectual. - Me sorriso morreu um pouco.

Fui em direção a cozinha, inventei a desculpa que precisava de uma água. Quando voltei pra sala Camila estava desligando a televisão e andou rumo ao corredor, a segui animada, mas ela logo tratou de avisar

- Hoje vamos jantar no apartamento da Vero e da Lucy.

Vero tinha me avisado, mas eu não estava lembrando que era naquela noite, na verdade eu nem tinha falado do convite a Camila, que explicou ao ver meu olhar confuso.

- Elas sabiam que você não ia lembrar e provavelmente furaria, então me ligaram mais cedo.

Essa é vantagem de ter amigas que lhe conhecem de verdade.

Não demoramos muito a ficar prontas, eu coloquei um short preto e uma blusa também preta, estava calçando a sandália, quando Camila apareceu usando uma saia colegial quadriculada e uma blusa preta de mangas compridas, linda como sempre. Me ergui e notei que, por está usando saltos maiores, ela estava quase do meu tamanho. Sorriu e me deu um beijo, antes de começarmos a nos maquiar. Depois de algum tempo,  deixamos o apartamento. Não sem antes pedir carinhosamente pra que Paçoca não destruísse nada muito caro em nossa ausência.

Vero e Lucy não moravam muito longe da gente, então o caminho foi rápido. Fomos as últimas convidadas a chegar Alexa, Mani, Dinah e Ally já estavam lá e conversavam em alto e bom som, eu nem mesmo sabia como elas conseguiam se entender. Cumprimentamos todas e logo nos juntamos a conversa, Lucy serviu algumas entradas e as meninas bebiam vinho, Camila recusou e a segui na escolha, vinho sempre me deixava de ressaca e tinha trabalho no outro dia.

E estava me perguntando o porquê daquele jantar quando Vero me chamou pra ajuda-la a por a mesa. Nós duas sabíamos que eu era a pessoa menos indicada pra isso, então aquilo deveria ser só uma desculpa pra me contar algo.

- Eu vou pedir Lucy em casamento. - Me informou de cara.

- O que? Agora? Você vai casar? Ai meu Deus! - Falei surpresa, cuspindo a água que estava bebendo.

- ai meu Deus Laur, você tá bem? - Falou dando uns tapinhas nas minhas costas. - Hora errada? Acha que ela vai recusar? Me ajuda! - Sua voz subiu um tom.

- Não é isso, é claro que ela vai aceitar, nós já falamos disso antes. Vocês se amam. - Expliquei enquanto recuperava o folego. - É só que...

- O que o que? - Ela olhava ansiosa pra mim. - Não é a coisa certa?

- Lógico que é a coisa certa, Veronica. Não é isso...

- Então qual o problema? Meu Deus, porque insisto em seu sua amiga? Está me deixando mais nervosa ainda. - Mas ela já não tinha a preocupação de antes.

- É porque você vai casar. - Tentei explicar, mas ela me olhava sem entender. - Veronica Iglesias, minha parceira de crime vai casar. Espera, preciso sentar um pouco.

Minha amiga puxou uma cadeira, balançando a cabeça em descrença e me deu mais alguns tapinhas no meu ombro, tentando me consolar.

- Não vai mudar nada, você mesmo me disse isso.

- É o fim de uma era. - Olhei pro infinito enquanto bebia lentamente minha água.

- Agora você sabe o que senti quando soube que estava morando com Camila. - Disse me dando um olhar compreensivo.

- ai meu Deus, estamos envelhecendo. Daqui a pouco falaremos de filhos, Vero!

- Calma, Laur. Primeiro o casamento, relaxa um pouco aí.

Nós rimos uma pra outra, me levantei e lhe dei um abraço apertado.

- Você vai casar com a Lucy. - Constatei o óbvio e ela concordou emocionada. - Vocês nasceram uma pra outra, isso é mais de que certo.

- Nós estamos crescendo, Laur. E juntas, como combinamos na escola.

Não tive tempo de responder, Lucy e Ally apareceram oferecendo ajuda e a mesa foi colocada. Antes de nos servimos, Vero começou a falar para todas.

- Meninas, obrigada por terem vindo. A presença de vocês hoje é importante porque eu não consigo pensar em melhores testemunhas pra esse momento. - Focou seu olhar em Lucy antes de continuar. -  Você é a melhor coisa que me aconteceu. E apesar desse pedido está atrasado, porque você já é a minha vida desde o momento em que entrou na minha vida, eu preciso fazê-lo. Lucy, você quer casar comigo?

A mão de Vero tremia ao oferecer o anel a namorada. Não ficou sem reposta por muito tempo, Lucy levantou pra a abraçar e repetiu dezenas de vezes o 'Sim.' Apesar das lágrimas, naquele momento não existia no mundo nada maior do que o sorriso das duas. 

YellowOnde histórias criam vida. Descubra agora