A história do Davi.

66 6 2
                                    

Eu estava aqui na escola agora a pouco e acabei de esbarrar com esse meu ex- aluno e lembrei do que aconteceu com ele. O nome dele é Davi e atualmente já deve ter mais de dezoito anos. A história dele comigo aconteceu em 2014, ele era daquela turma do barulho que tinha o Fernando, a garota grávida entre outros. 
    No ano em que eu cheguei à escola  fui avisada que um aluno havia perdido o controle na sala de aula e jogado as cadeiras para cima e quebrado os dois ventiladores. Disseram-me que ainda restavam as marcas no teto do ocorrido no ano anterior a minha chegada.  

    Não souberam me explicar direito quem era o aluno responsável pela crise nervosa. Assim, pela descrição do indivíduo eu passei muito tempo achando que esse garoto agressivo era o Davi. Eu pouco me aproximava dele. Acho que eu tinha medo. Talvez aquela informação pré determinada tenha influenciado nesse afastamento.

    Mas o tempo foi passando e eu pude perceber que ele era um garoto frágil e doce. Não deixava nunca de fazer as atividades propostas e jamais faltou uma aula de português.
     Ele não tinha muitos amigos. Era  tímido e especial. Dava para notar que merecia uma atenção diferenciada dos professores já que tratamento médico a essa altura do campeonato seria complicado de conseguir.
 
     Muitos meninos de outras turmas tinham o hábito de implicar com o Davi. O bullying é uma triste realidade na escola pública. Ele permanecia tranquilo. Não dava bola para eles. No entanto, os apelidos eram constantes. Ele era xingado com as piores ofensas.

     Já era final do ano quando ele passou a ir para a escola com um fone gigantesco no ouvido. Davi esperou o ano inteiro para ganhar esse presente de  aniversário. Só que seu fone colorido causou muita inveja em diversos alunos, principalmente entre os agressores. Durante as aulas ele deixava o acessório pendurado no pescoço, estava tão feliz com seu presente que não queria ficar longe dele em momento algum.
      Naquela tarde, eu fiquei sabendo que uns meninos bateram muito no pobre coitado do meu aluno. Eles queriam o fone dele e o menino de maneira alguma abriu mão do seu presente.
     E por isso, os agressores foram cruéis com ele. Um pedaço do seu couro cabeludo foi arrancado, tamanha violência ele sofreu. Um corte gigantesco na testa, olho roxo. Ficou jogado no chão da escola sangrando feito um porco após o abate. Além disso, pisotearam seu fone que despedaçou em mil pedaços.

     Sua mãe veio à escola busca-lo. Foram até a delegacia prestar queixa e depois Davi recebeu os cuidados médicos. A denuncia no entanto, não deu em nada. Os agressores nunca foram punidos.
     Lembro , ainda, que a direção da escola prometeu um novo fone para que o sofrimento do menino fosse aliviado. Mas, ele nunca chegou. Ou melhor, até veio porque fiquei muito magoada com a situação é comprei um de cor azul e ainda melhor do que aquele que ele tinha. Porém, as marcas no coração do garoto Jamais puderam ser apagadas.

Histórias que ouvi na escola.Onde histórias criam vida. Descubra agora