Capitulo 5

635 51 8
                                    

- Eu juro que se um besouro voar em mim, Harry, eu vou gritar. – Louis disse se encolhendo e olhando desconfiado para fora. Já eram mais de dez da noite, eles haviam ligado a luz de dentro do carro e estavam esparramados em seus bancos observando o lago á frente; enquanto comiam os últimos sanduíches. Eles precisavam muito achar algum lugar pra comprar comida no dia seguinte.

- Nenhum bicho vai entrar aqui se apagarmos a luz. – deu de ombros e viu Louis suspirar.

- Está bem, mas fique com pelo menos a luz do celular. – Harry tinha provocado Louis durante meia hora sobre como ele tinha medo do escuro: “19 anos e medo do escuro, eu não acredito Louis!” “Cala boca seu idiota, eu não tenho medo. É só que às vezes pode ser que apareça alguma coisa estranha no escuro.”.

Harry apagou a luz e deixou seu celular com brilho reduzido, aceso. Ainda bem que ele não havia esquecido o carregador de colocar no carro, porque mesmo que esteja sem sinal é sempre bom ter alguma coisa pra jogar e passar o tempo.

Os dois pensaram que iria ter pelo menos um pouco de tensão depois do que houve no lago naquela tarde, mas surpreendentemente eles estavam até mais confortáveis (e felizes... Porque afinal eles tiveram um orgasmo dããã).

- Então Harry... Como era sua vida do outro lado do Atlântico? – Louis perguntou, pegando Harry de surpresa.

Harry olhou pra ele, pronto para mudar de assunto e dizer que preferia não falar do que já passou, mas então encontrou Louis olhando diretamente para ele também.Ele estava sorrindo fraco, os cantos de seus lábios levemente erguidos. Sua expressão parecia calma, não como a de alguém que está desesperado pela resposta, por informação, mas alguém que realmente quer saber de algo por simples e boa vontade.

- Por onde eu começo...? – perguntou para si mesmo. – Eu morava em Holmes Chapel, uma pequena cidade pro norte de Londres, não muito longe da capital, daria umas duas ou no máximo três horas de trem. Eu tenho uma irmã, o nome dela é Gemma. Minha mãe se chama Anne e... – sua voz falhou, mas ele estava determinado á continuar. Harry podia sentir seu coração acelerado batendo em seu peito. – E meu pai se chama Des. Nós éramos uma família muito respeitada, uma das mais ricas e cultas da cidade, meu pai é sócio de banco e nos dava uma vida perfeita... Mas com isso vinham jantares chatos, encontros ridículos com garotas que ele dizia ser “o meu tipo” – fez o sinal de aspas com os dedos. – Era exigido de mais da gente sabe? Gemma sempre foi a melhor aluna que conseguia ser, saía com quem devia sair e fazia o que devia. Minha mãe nunca erguia o tom de voz, chegavam dias que ela ficava tão estressada que seu tom não saía do sussurro. Eu era sozinho. Antes minha irmã até ficava comigo um tempo... Mas quando entrou no colegial tinha que estudar dia e noite para entrar na melhor faculdade de economia do país. Um dia quando eu tinha 15 anos... – respirou fundo e tentou impedir sua garganta de fechar completamente, ele já podia sentir as lágrimas. – Quando eu tinha 15 meu pai me pegou beijando um menino. – Louis o observava atento. – Eu cheguei em casa e ele estava me esperando na sala de estar com uma cinta na mão, eu não sabia que ele tinha visto. Tentei negar... Mas ele tinha fotos e mais fotos... Acho que ele só não me matou porque os empregados ouviram meus gritos. Minha mãe não saiu do quarto, ele tinha trancado ela lá. Gemma já morava na universidade. Eu me lembro do tanto de sangue e... – enxugou cada lágrima que escorreu. Seu choro não era de tristeza, era ódio. – Depois disso tudo foi pelos ares. Meus pais finalmente se separaram, foi um escândalo enorme, todo mundo sabia e cochichava nas ruas. A última vez que eu o vi foi quando ele foi buscar sua ultima mala em casa... Ele cuspiu em mim e disse que eu não era mais filho dele, que estava cansado de olhar pra mim e iria me abandonar pra sempre. – riu sem humor e deu de ombros. – Minha mãe passou á me ignorar, ela estava em depressão. Gemma ligava uma vez por mês pra contar como ter mudado de economia para artes tinha sido a melhor escolha de sua vida... Niall foi embora da cidade... E eu cheguei ao fundo do poço. – sentiu Louis se ajeitar e encostar a cabeça em seu ombro e uma mão sobre a sua.

- Eu não posso nem imaginar como isso deve ter sido Harry. Eu sinto muito mesmo. – Louis sussurrou acariciando a mão de Harry com seu dedão.

- Três anos depois eu vim pros EUA... Pra Los Angeles. Eu tenho uma poupança muito grande, eles guardavam dinheiro desde que eu nasci, era travada e só seria liberada legalmente por mim quando fizesse 18 anos, então meu pai não conseguiu mexer no meu dinheiro. Foi aí que conheci o Liam. Ele era tão interessante, inteligente, bonito e... Tudo que eu precisava. Ele me deu carinho, um lar, beijos, noites e abraços... Mas com o doce sempre vem o amargo. – as memórias estavam voltando com força, assim como as lágrimas, mas ele não conseguia parar. – Apenas seis meses depois que começamos á morar juntos, ele saiu para beber no sábado á noite. Eu esperei acordado. Quando eram quase quatro da manhã ele entrou furioso em casa não sei por que, chegou ao quarto e gritou comigo, disse que tinha certeza que eu tinha ficado só pra poder levar meu amante pra dentro da casa dele. Não tinha amante nenhum e eu tentei dizer isso... Foi nessa noite que ele me bateu pela primeira vez. – sentiu Louis se agitar, como se não tivesse gostado nem um pouco do que tinha ouvido. – Me pediu desculpas no dia seguinte, me beijou e jurou não fazer mais... Essa promessa durou um mês. Ele saiu no sábado, voltou me bateu e depois me fez dormir com ele. Eu me acostumei á esse ciclo. Liam era tão maravilhoso longe da bebida, eu não podia sacrificar tudo por apenas um dia da semana em que acontecia... Ele me fez acreditar que eu era chato, insuportável, grudento... E talvez eu seja tudo isso... Então me expulsou de casa dizendo que estava cansado de mim. Dirigi sem rumo até meu carro quebrar e eu acabar na sua vila... O resto você já sabe. – concluiu se controlando para não começar á soluçar, todas as lembranças horríveis pareciam ecoar em sua mente, vozes, gritos, a tristeza, solidão... A dor.

Louis ergueu a cabeça de seu ombro, assim que se encararam, Harry pôde ver mesmo no escuro que seus olhos estavam brilhando com lágrimas também.

- Eu não posso acreditar nisso Harry. – colocou uma mão no braço de Harry e apertou levemente. – Eu não entendo como alguém teve coragem de machucar, de tocar em uma pessoa como você. Você não é errado por não gostar de garotas, você não é insuportável, ou grudento, e muito menos uma pessoa da qual você pode se cansar. Eu te conheço á apenas, o que? Uma semana? Menos? Mas eu sei que poderia continuar nesse carro com você por décadas, porque eu sinto que ainda tem tanto pra conversarmos, brincarmos e... Quando eu te vi na rua, na primeira noite, eu senti que precisava te conhecer, precisava estar com você. É estranho, mas é a verdade. Obrigado por confiar em mim e contar sua história, eu juro que nunca vou dizer á ninguém. – já era o terceiro abraço deles naquele dia, mas esse foi muito mais íntimo que todos os outros, até mesmo o do lago.

Pela segunda vez Harry se pegou perguntando á si mesmo: É possível “casa” não ser um lugar fixo?

Depois de enxugarem suas lágrimas decidiram fechar as portas e dormir. Desejaram boa noite, mas os dois demoraram a dormir.

Louis sabia que Harry era como um livro, e ele queria muito poder ler todas as suas páginas, e depois poder guardar o livro com ele, porque com certeza seria seu preferido.

Fanfic A Ray Of HopeOnde histórias criam vida. Descubra agora