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Eu não reconheço a voz que falava comigo, por isso o susto foi em dobro ao ser pega em flagrante. Sinto o suor escorrer pela minha testa. Se fosse o senhor Bauer, eu poderia dizer que procurava por Jason. O contrário, falaria que não encontrava o Bauer. Mas e quando não era nemum nem outro?

Engulo em seco e me viro para a voz feminino que me chamou e franzo o cenho ao encarar uma senhora baixa e gordinha, de cabelos grisalhos, grandes olhos azuis, bochechas cheias e rosadas. Ela me olhava com estranheza também, me examinando, a fim de saber o que faria comigo.

— Bah, eu não te conheço — ela diz se aproximando de mim. — Pelo menos não é a garota de antes. Mas explique-se, mocinha, o que fazia no quarto de Jason?

— Quem é você? — cruzo os braços por ter sido atrapalhada poruma senhora e ainda por cima estar sendo interrogada. Não fazia ideia oque meu grupo, principalmente Levi, acharia de mim em estar nestasituação. Por sorte, eles nunca saberiam. — Achei que não teria maisninguém nesta casa, além deles.

Ela ignora o meu comentário.

— O que pretendia fazer? — a mulher ergue uma sobrancelha paramim e abre um sorriso travesso. — Queria bisbilhotar o quarto de Jason,como a outra, para descobrir mais alguma coisa sobre ele? Se estátentando fazer isso, pode desistir, ele não deixa nada importante amostra.

Mas o que é isso? Quem é essa velha enxerida?

— Eu não estava fazendo isso — porque eu nem cheguei ao quartopara tal coisa... Eu não completo o pensamento. Mas ao escutar coisasem relação ao Jason, aquilo me deixou intrigada, pois pelo pouco contatoque eu tive com ele, o rapaz se mostrou bem reservado, além de briguentoe alcoólatra. Por isso, eu questiono, curiosa: — Quem é essa outramulher? A que você mencionou. A namorada?

— Jason está sendo concorrido e eu não fiquei sabendo? — elaexclama, animada, com essa ideia que tirou de sua imaginação, e maisuma vez, simplesmente não responde a minha pergunta. — Bah, quanto tempo eu fiquei longe daqui! Por falar nisso, você é a senhorita Shazy, aguria que o Roberto me informou que estaria hospedada?

Do que essa mulher está falando? Eu reviro os olhos, soltando umriso típico meu de incredulidade com as besteiras que sou obrigada aouvir e a julgo de cima a baixo. Seria ela a Silvana, cuja menção o senhorBauer fizera no café da manhã?

— Shazad — a corrijo. —E você é a Silvana?

Ela bate uma palma, mordendo os lábios, os seus olhos azuisbrilhavam pela forma que ela me olhava, eu até diria que pensava emalgo — possivelmente muito impróprio.

— Isso mesmo, minha querida — ela segura a minha mão e começaa me levar para longe do quarto de Jason, me guiando até a cozinha, eunão consigo interpretar se foi proposital ou não aquele movimento. —Perdoe-me pela intromissão, eu levei um susto, por nunca a ter visto e,também, nunca terem nos apresentados... Achei que era um ladrão oucoisa do tipo.

Eu faço cara de paisagem, pois ficou claro que ninguém mencionoude onde eu vim para ela por falar tal coisa. Solto um riso forçado ao terque retribuir o dela.Acreditava que o senhor Bauer tinha sigilo com os seus pacientes,mas até que ponto? Porque isso me fez questionar sobre até onde Silvanaconhecia do centro de reintegração.

A mulher desenrola o assunto sem eu ter respondido algo.

— Mas então, me conte tudo o que você gosta de comer. Às vezeseu também sou a cozinheira da casa. Até diria, por ousadia minha, serparte da família. Eu fui a madrinha do Roberto e ele o meu padrinho,quando eu me casei com o Frank. Uma pena você não ter conhecido oFrank, ele morreu alguns anos atrás, era um dos amigos mais próximosdo Roberto. Você teria gostado dele, porque ele sempre foi bem abertocom todos, simpático. Uma tristeza para todos nós, ele faz muita falta.Mas eu já estou bem.

O Alumiar do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora