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A minha cabeça latejava, mas eu não consegui dormir em por um minuto sequer. Pressiono mais uma vez a minha mão em minha testa, massageando até a tontura passar. Fecho os olhos no movimento e um suspiro escapa de meus lábios. Talvez tivesse sido uma péssima ideia socar a minha companheira de cela.

Não tinha culpa desta vez, a garota me provocava até eu perder a paciência, o pior que era de propósito. Enfim, eu não aguentei e bati o rosto dela na grade — mais de uma vez. Ficou tão desconfigurado por causa do nariz quebrado, os lábios costados e o olho esquerdo inchado, que eu tive pena. Porém, não muita.

Tudo o que eu queria era pensar e ela não me deixava em paz! Confesso que foi um ato drástico, ainda mais por minha impulsividade, mas o que eu poderia fazer? Aqui é cada um por si, a lei do mais forte que sobrevive. Além disso, como eu estava somente um mês na cadeia era vista por todas as detentas como "carne fresca", para a minha proteção se tornou necessário agredir todas que se aproximavam.

As dores — não somente em minha cabeça, mas em meu corpo também pelas brigas na prisão — voltam a me atingir em níveis catastróficos. Sentia o peito querendo se fechar a medida em que o quarto parecia diminuir cada vez mais. O ar estava acabando e não havia nenhuma luz ali.

O desespero toma conta de minhas ações e eu surto sentindo a respiração acelerar, a garganta se fecha e eu me sufoco em agonia. O suor escorria pelo meu rosto, costas, gelando a minha espinha. Eu bato inutilmente na porta, chamando para alguém me tirar dali. Grito e soco a porta mais uma vez naquele dia. O sedativo que me deram passou o efeito e agora tudo vinha a tona.

— Me tirem daqui! Eu quero sair! Me tirem daqui!

Ontem, quando me puseram aqui, eu tive a mesma reação, tudo por causa dele. Sempre foi assim, desde o primeiro momento. A dor nunca passava, o medo já enraizado pela experiência vivida, cada vez mais se aprofundava em minha alma, chegando a lugares obscuros.

— Eu vou morrer aqui... Eu vou morrer... — não sabia mais quantas horas estava ali dentro, contudo, quando fui levada para a ala da enfermagem, não haviam se passado duas horas.

— Cala a boca! — alguém do outro lado responde, batendo na porta para eu me calar.

Engulo em seco e limpo as minhas lágrimas, deixando as costas escorregarem pela porta e me agacho em posição fetal, balançando de um lado para o outro.

Aquilo nunca teria um fim.

~~~

Mais tarde, quando a euforia se esvai e eu já não tinha lágrimas para chorar, um guarda bate na porta, avisando que eu tinha uma visita. Franzo o cenho, porque não estava esperando naquela tarde ser uma anfitriã e convidar quem quer que fosse para o chá. A essa hora, o meu grupo já deveria ter me encontrado e achado um jeito para me liberar. Quem sabe, esse foi o meio.

Eu me animo com a notícia e não deixo transparecer a surpresa por sair no meio de uma solitária. Eu teria que ficar dias ali.

— Abre a porta S10 — o homem pede pelo rádio e logo ela é destrancada.

A luz do corredor me atinge e eu pisco para me ajustar com o seu brilho. Não deixo de reparar que o guarda jovem, o mesmo que veio me avisar da visita, nota o meu estado problemático, por isso eu o encaro, passando uma mensagem clara e objetiva: Abre a boca e perderá a língua.

Felizmente ele não comenta nada ao meu respeito e começa a me guiar pelos corredores. Passamos por guardas mulheres, que faziam a troca de turno e o cheiro doce de creme corporal, perfume e desinfetante, de algum carrinho de limpeza mescla com o odor do ambiente, penetrando em minha narinas, me acompanhando por todo o caminho. O último se torna mais forte do que os outros e logo percebo quem fedia era eu — não o lugar.

Ergo a roupa laranja que fui obrigada a usar e logo afasto de mim, o odor era insuportável. Se as roupas estavam assim, eu então não passava de trapos. Já conseguia imaginar o meu cabelo castanho escuro ondulado oleoso e sem corte algum. Ainda mais porque eu também entrei em uma briga, e meu cabelo quem perdeu a batalha — cortaram-no sem ângulo, o que provavelmente o deixou cumprido em uma parte e curto em outra.

Minha pele estava mais seca do que o normal, mas era de se esperar pela ótima refeição que engulo diariamente. Sentia falta da salada e uma picanha mal passada. Fora os doces e todos aqueles açúcares viciantes.

Não precisava de um espelho para saber que haviam olheiras em meus olhos castanhos claros, certamente bem escuras e profundas pelas noites que não dormi. Por sorte, mas brigas, meu nariz foi salvo, mas meus lábios eu sentia o sangue seco.

Eu ganharia fácil todas as brigas nas quais eu me envolvi, no entanto, 5 garotas eram demais para mim, ainda mais quando todas vem para cima de uma vez!

— Bah, você deve ter um anjo da guarda para conseguir sair de uma solitária! — o rapaz exclama usando uma gíria típica gaúcha, tentando puxar assunto comigo, mas eu apenas o olho de canto. Sua feição era de surpresa por eu, que cheguei a um mês, já tendo privilégios nesse nível. — Sabe, não é fácil convencer o diretor a abrir exceções. Mais ainda quando é a detenta que mais causa brigas.

— Que sorte a minha então.

Eu digo ao chegamos no local. Era uma sala grande com várias mesas de metal fixas ao chão longe uma das outras, os bancos também já estavam presos. Meu olhar vaga pelo ambiente e vejo que não havia tantas detentas recebendo visitas. Quando meus olhos param em um homem com vestes formais e uma maleta em mãos, logo soube quem havia me chamado.

O homem mais velho estende a sua mão para mim, cumprimentando-me, porém, eu apenas o olho de cima a baixo. Nunca o vi na vida, um completo desconhecido. O que ele queria comigo?

— Bom, vamos as apresentações, o meu nome é Antônio Carlos Ferreira, o seu advogado — o sujeito esquisito tenta descontrair o clima estranho, mas ele precisava entender que eu nem o conhecia para facilitar. Ele estende a mão na direção a cadeira e diz: — Por favor, sente-se.

— O que você quer comigo? — cruzo os braços depois de sentar ereta.

— Estou aqui às ordens de Levi — ao escutar esse nome, eu sobressalto o corpo para frente, sendo pega completamente desprevenida. Então ele estava bem? Estava vivo?

— Onde ele está?

O advogado puxa os lábios em um meio sorriso, mas não me parecia um bom sinal, os seus olhos sobem para mim e eu já tenho a minha resposta.

— Eu sinto muito... Falei com ele no mês passado, após você ser presa. Ele me contratou para eu te tirar daqui. O seu caso é um pouco mais complicado de conseguir liberdade imediata, com isso, teremos que ir ao tribunal.

Processo as informações e pergunto:

— Quando eu serei julgada?

— Aqui uma semana. Eu consegui por meio de contatos adiantar seu julgamento — e foi então que o homem abre a maleta e mostra papéis com todos os indícios de minha culpabilidade em meus crimes. Ele acrescenta: — Temos algumas opções para te tirar daqui, mas saiba que o seu caso está nas mãos do tenente André "Drew" Schmidt.

Ele para por um segundo e olha para mim, um misto de pena e solidariedade passa por ele em sua expressão, coisa que eu não entendo na hora, contudo, ele limpa a garganta e muda sua posição voltando ao homem advogado que ele se tornou.

— Vamos começar, Shazad?

Franzo o cenho e aperto meus olhos de leve com a insinuação de meu nome. Eu não havia lhe dito, o que provava que Levi contou a ele sobre mim. No fundo, eu tinha uma pulga atrás da orelha, mas se Levi quem o chamou, eu confiaria. Anuo, tomando a minha decisão e começamos a estudar o meu caso.

O Alumiar do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora