Leva um segundo para nós reagirmos, após sermos surpreendidos pelo acaso, quando despertos, o homem olha ao redor a procura de uma arma para se defender de minha presença e eu faço o mesmo. Como eu estava próxima a cozinha, facilmente poderia correr até lá e pegar uma faca, no entanto, ele foi mais rápido e encontrou uma tesoura sobre a bancada, eu improviso — pegando o único objetivo que vejo a frente: almofadas coloridas.
Nós nos encaramos e falamos juntos:
— Como você me encontrou? — eu pergunto.
— O que você fez com o meu avô?
A sua indagação me faz ter um estalo e eu amaldiçoo o destino.
— Você é o neto do senhor Bauer? — o meu tom saiu tão debochado quando a expressão na face dele ao me ouvir falar. Eu continuo com as mãos erguidas, ameaçando-o com as almofadas e consciente de que elas não eram assustadoras.
— Não seria óbvio isso? Diferente de sua profissão, eu não invado casas alheias. — O rapaz estava a três metros de mim e eu temo pelo quê ele poderia querer fazer comigo. — O que você fez com o meu avô e como me encontrou?
A urgência em sua voz para descobrir o que aconteceu com o seu parente foi tão desesperada e sincera, que eu não tenho coragem em provocá-lo em sua agonia. Ainda mais sabendo de sua força — eu não queria apanhar novamente.
— Nada, ele já foi dormir — respondo observando o seu rosto e vendo-o soltar um suspiro, aliviado com a notícia, mas foi tão rápido que eu mal achei que fosse real. Será que ele também não gostava de mostrar o que sentia perto das pessoas?
Gostando ou não de se mostrar, ele, talvez involuntariamente, abaixa a tesoura, abrindo uma brecha pelos seus sentimentos e eu não perco a oportunidade.
Sem ele esperar, ataco a almofada amarela na sua face e avanço chutando seu estômago. A primeira parte deu certo, pois ele recuou, atordoado, porém, ao me aproximar, ele desvia, segurando a minha perna e me dá uma rasteira, por eu ficar somente com a perna de apoio.
Vou para o chão com o moço por cima de mim, por sorte ele sustenta o seu corpo antes de cair completo. Nossas respirações se misturam pelo pico de adrenalina repentina e nos encaramos.
— Está louca, mulher? — ele questiona, pasmo com o que aconteceu. Balança a cabeça e solta o ar.
— Era você quem estava me ameaçando com a tesoura — respondo empurrando o seu peito, mas ele não se move. — Quer sair?
— É seguro te deixar com as mãos livres? — Reviro os olhos, irritada, mesmo sabendo que ele estava certo.
— Totalmente — abro um sorriso cínico.
Ele me estuda antes de responder.
— Agora pouco atacou uma almofada em mim e espera que eu acredite que é confiável? E se fosse uma faca? — a pergunta fica no ar, enquanto nós bem sabíamos o que eu faria se a estivesse em mãos. O jovem, levemente irritado com minha transparência, revira os olhos, parecendo estar ainda mais desconfortável em ficar perto de mim, conhecendo esse meu lado impulsivo.
Por fim, ele se levanta e estende a mão para mim. Olho-o de cima a baixo, deixando com nitidez a minha antipatia. É sério isso? Contudo, quando a euforia do lado de dentro diminui, os céus voltam a nós castigar com seus relâmpagos e trovões, e no momento em que eu dou um tapa em sua mão para me colocar de pé, um trovão explode sua fúria sobre toda a fazenda e eu abraço instantemente o meu corpo, apavorada.
Eu não conseguia respirar. Mas não poderia surtar logo ali. Contando até dez, eu controlo a minha respiração e e me acalmo, ficando de pé. Ao subir o olhar, eu o encontro me estudando. Disfarço o medo estampado em meu rosto com um sorrio sarcástico e passo por ele, voltando para o meu lugar original.
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O Alumiar do Destino
RomanceLIVRO COMPLETO NA AMAZON O plano era simples: entrar e sair do banco com milhões de reais. Porém, ao serem perseguidos nas ruas de Bagé pelos policiais, os planos fogem do controle. E no meio dessa nova confusão, um desconhecido surge e atrapalha a...