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Apesar de estar ainda na cama, eu não dormi nem por um segundo. Fiquei olhando a noite inteira para a vela, que o rapaz, cujo nome deve ser Jason — se for essa a pessoa que Drew mencionou no dia anterior —, havia acendido. Consegui desconectar a minha mente dos meus temores, porém, aquilo ainda não foi o suficiente. Com os olhos cansados e inchados, eu saio da cama ao escutar um barulho baixo vindo o que parecia ser da cozinha.

No banheiro, jogando água gelada no rosto, eu desperto e todas as minhas preocupações com a minha família voltam com força a me consumir. Preciso me focar para encontrá-los, fugir deste fim de mundo... Mas como? Teria hoje que descobrir como Jason chegou até aqui e escapar. Contudo, aquilo poderia esperar por alguns minutos, pois o cheiro gostoso de café me invade e eu sou atraída para o coração da casa.

O senhor Bauer cozinhava habilidosamente o café da manhã, vejo a mesa já feita, com isso, paro no patente da porta observando o idoso, que ainda não havia notado a minha presença. Tentava entendê-lo o que o motivou tornar a sua fazenda em um centro de reabilitação, convidando estranhos para a sua casa e tendo que lidar com problemas alheios.

— Bom dia — anuncio a minha chegada, fazendo-o olhar para trás me vendo e abre um largo sorriso.

— Bom dia, dormistes bem? — ele indaga limpando as mãos em um pano. Eu estranho ao ouvi-lo chamar pelo meu nome, porque eu não havia propriamente me apresentado, mas eu me lembrava de que ontem, que o meu advogado e um outro homem, Pedro Almeida, o que cuidou de toda a papelada para dar os acertos finais com a minha entrada, trouxeram um relatório sobre mim.

Possivelmente não encontrariam muitas coisas ao meu respeito, pois em todos os crimes, Miguel criava novas identidades para nós, dando-nos nomes falsos e todo um histórico de uma vida passada nunca vivida. Eu só não sei o porque, desta vez, Levi permitiu que a minha identidade fosse quase a minha verídica — mudando apenas o meu local de nascimento, que nem ele sabe.

No meu caso, eu fui julgada como primeiro réu, uma vez que, minha ficha está limpa e eu nunca fui pega em outros crimes. Claro que já aconteceu de nos flagrarem no ato, porém, nunca conseguiram nos prender. Exceto o último. Má sorte? Eu não sei, contudo, tem pontos em abertos, que nem Miguel nem Levi teriam deixado abertas nessa história.

Por eu não responder o senhor Bauer, ele me analisa, semelhante a forma que Jason fez em nosso primeiro encontro e sugere:

— Deve ser difícil dormir em um lugar estranho...

— Já estou acostumada — respondo cruzando os braços, me fechando para ele. — Um mês na prisão, lembra? Ali pode ser o inferno para alguns, mas dependendo de onde veio, diria que se igualou ao paraíso.

— E de onde tu vieste?

— Não acho que isso seja da sua conta.

— Ela não te contaria nem se a vida dela estivesse em perigo — os meus pelos se arrepiam e meu coração se agita em meu peito, pelo susto ao ser pega desprevenida. Como eu não havia escutado os seus passos? O avô ri de seu comentário.

— Pode ser verdade o que diz, Jason — diz confirmando o nome para mim. Jason passa por mim, adentrando na cozinha, além de parecer uma segunda porta, como eu fazia no momento, e se serve de café. Muito café.

Estaria de ressaca de ontem a noite, para ter chegado tão tarde? Não duvidava.

Apesar do estômago roncando, eu não me atrevo a invadir o lugar com aqueles dois ali. Um era intrometido nos assuntos alheios — fora que beberrão — e o outro esperançoso e inocente demais. Uma combinação irritante para seis da manhã.

— Se conheceram ontem de noite? — Bauer pergunta a nós.

— Infelizmente — respondemos em uníssono, com isso, nos encaramos.

O Alumiar do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora