O relógio de parede marcava 16h45 quando o entregador dos correios chegou. Trazia um pacote do tamanho de uma caixa de sapato embrulhado em papel pardo na mão esquerda e uma expressão de mal-estar no rosto.
— Boa tarde. Entrega para o senhor Barreto.
Mena desviou os olhos dos papeis que organizava. Ergueu-se mais por educação do que por necessidade e contornou sua mesa indo na direção do recém-chegado.
— O Professor Barreto não está. Sou a secretária dele... O senhor está bem? Parece meio...
Ia dizer pálido, mas na verdade o rosto do homem mostrava um tom amarelo doentio. Apesar da temperatura amena, sua testa estava porejada de suor e o peito da camisa do uniforme, molhada.
O homem derrubou a caixa sobre a mesa e cambaleou. Mena conseguiu amparar a queda parcialmente. Usando o corpo como uma escora, aproximou-se a tempo do sofá de espera, onde o homem desabou. Foi para o corredor pedir ajuda, mas não havia ninguém ali. As aulas haviam terminado no dia anterior e o vigilante que deveria estar ali sumira.
Voltou correndo e encheu um copo com água. Quando passava na direção do bebedouro, ao olhar o homem, notou que ele parecia melhor. Ou, pelo menos, melhorando. Entregou o copo. A mão do homem ainda tremia um pouco, mas o suor na testa havia diminuído.
— Desculpe, dona. Não sei o que aconteceu... Desde que desci do carro no estacionamento não estou muito bem.
O homem bebeu o copo de água com goles curtos, respirando fundo enquanto o fazia.
— Nossa! Parecia uma mistura de resfriado, dengue e anemia... Cruz Credo! Devo ter te assustado muito, né?
— Um pouco, sim.
— Mas já estou melhor — entregou o copo e levantou com certo esforço.
Tirando um papel amarrotado do bolso traseiro da calça, entregou-o para a secretária.
– Assine aqui, por favor. Onde está marcado de caneta. Nome e R.G.
A secretária obedeceu, mas lançou um olhar preocupado ao entregar o papel.
— Tem certeza de que está bem? Pode ficar mais um pouco se precisar...
— Não, não. Estou me sentindo melhor mesmo. Deve ter sido uma bobeira... Depois procuro um médico e faço alguns exames... Coisa da idade... Bom, obrigado pela ajuda.
Quando saía, olhou rapidamente para a caixa. Sentiu um arrepio percorrer sua nuca, mas não soube por quê.
Mena foi até o corredor e o observou caminhar até a rampa que levaria ao hall dos elevadores. Talvez o homem tivesse abusado da sorte e, em vez de esperar pelo elevador, resolveu vir pelas escadas. Nem todo mundo estava preparado para subir nove andares. Aquele mal estar podia ter sido a maneira do corpo dizer "corta essa".
Todos os outros departamentos já haviam encerrado, mas o professor Titular do Departamento de História Antiga resolvera ficar até mais tarde. Olhou para a caixa caída sobre a mesa. Havia o endereço e o nome do remetente. Um tal José de Arimatéia havia enviado a encomenda de Porto Velho.
O que seria? Ergueu a mão e aproximou o dedo em riste para tocar a fileira de 12 selos postais. Sempre fora fascinada por selos, chegou a ter uma coleção quando era adolescente. O dedo tocou o selo. Ela o recolheu rapidamente. Sentiu uma onda de repulsa percorrer seu corpo. Mas não foi o selo. Tocar o pacote foi como tocar algo desagradável, algo ruim...
Lembrou-se do dia em que uma lacraia subiu por sua perna enquanto tomava banho. Trincou os dentes. O telefone tocou:
— Departamento de História, sala do Professor Titular Barreto.
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Contos de Terror
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