A porta da pequena sala se abriu tão rápido quanto possível, mas mesmo com o movimento abrupto, a menina - ou mulher, dependendo do ponto de vista - não retirou os olhos da linha. Pregar botões realmente era um trabalho que detestava fazer. Porém, se era o que a tinham mandado fazer, faria.
Afinal, sempre existia um estágio pior.
Ossos do ofício. Deixou-se pensar, sem observar a face do rapaz a sua frente, incrédulo por ter sido ignorado. Não por maldade, ou desatenção. Conseguia sentir claramente os olhos verdes a fitando, procurando desesperadamente palavras para expressar o que sentia e, como se não bastasse, achava que merecia escutar cada fonema do que o modelo ousasse dizer.
Todavia, isso não a impedia de ter medo do que ia escutar.
Uma tosse seca e falsa surgiu, talvez nem mesmo o rapaz quisesse iniciar aquela conversa.
Levantou os olhos com cuidado, a cara irritada - ou apenas chateada, havia um bom tempo que ambas pareciam a mesma para Marina - do moreno era visível. Algo o incomodava, ela sabia o que era, mas não sabia se estava pronta para começar aquela conversa.
Infelizmente, ninguém esperou o seu preparo.
- Quando iria me contar?
Fodeu. A palavra, que nunca poderia ser recitada em voz alta, passou de forma tão rápida.
- O quê?
E, se fingimento rendesse prêmio, a estilista sabia que ganharia todos.
Que coisa feia de se fazer, Marina. Culpou-se.
Mas se culparia bem mais no final dessa conversa.
Sempre soube que um dia quebraria o coração de Adams, ou melhor, em algum momento acreditou que ambos tivessem um futuro, porém aquilo foi há tantos anos. A distância não tinha diminuído o sentimento do menino e talvez também não tivesse diminuído o seu, só que isso era um problema que a Marina do futuro teria que resolver, a do presente queria apenas controlar toda aquela situação.
Entregar um ponto final naquela história cheia de vírgulas.
- Não sei, eu acharia ótimo algo como: oi Adams, eu vou me casar.
E se deboche fosse matéria de universidade, Adams nunca teria abandonado a dele. Na verdade, provavelmente seria até chamado para ministrar as aulas. Soltou um longo suspiro, não estava em função de julgar ou criticar, não estava com direito ao menos de reclamar. Sofia tinha a alertado que o garoto teria um surto quando descobrisse, por um momento desejou que a chefe errasse mais suas previsões.
Contudo, a própria Marina sabia que o rapaz surtaria.
Ponderou sobre revidar o deboche, não era uma boa ideia.
Não estava ao menos perto de ser uma boa ideia.
- Não vai falar nada? - Tudo bem, ele estava estressado. Tinha certeza que estava estressado porque estava levantando suas sobrancelhas e mantinha a boca aberta na maioria do tempo.
Os hábitos, assim como os sentimentos, persistiram no modelo.
- Desculpa, pai - disse da forma mais brincalhona que conseguiu, infelizmente nem um nariz vermelho faria aquele diálogo ser engraçado. Existem coisas que não se pode romantizar ou minimizar, o seu casamento é uma delas. - Foi mal, eu até tentei falar com você, mas estava ocupado a semana passada inteira e não era o tipo de coisa que poderia se falar por telefone.
- Ah, então isso é o tipo de coisa que eu deveria descobrir olhando o Facebook da Isabella? Que bom saber.
Droga. Maldita interação digital. Porra, Isa! Amaldiçoou a amiga, desejando que ela simplesmente soubesse a hora certa de espalhar as informações da sua vida.
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Não me TOC [COMPLETO]
General FictionAdams Sales é um renomado modelo da grande São Paulo, filho de um dos principais nomes da indústria da moda, com todo o dinheiro - e beleza - que alguém poderia querer. Contudo, apesar de ter sido criado desde criança para manter o controle e, assim...