Toda ação tem uma reação

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Sabe quando as coisas não estão maravilhosas e você se sente feliz somente pelo fato delas não estarem péssimas? Pois bem, há muita gente que se contenta com o meio termo das coisas e, principalmente, o meio termo da vida. Rafael é uma dessas pessoas que não se questiona em estar no meio termo, ele simplesmente aceita e é feliz com isso. É bastante natural e, principalmente, justificável que uma boa parcela das pessoas sejam desta maneira. Vejamos: Ao longo da vida temos uma, duas, três amizades, etc. Esse número, logicamente, deveria apenas crescer. Fato é que a vida não é tão lógica e cedo ou mais tarde você percebe que enquanto você adora somar, ela prefere subtrair. O ser humano percebe isso conforme o seu crescimento, mas isso não se limita apenas a amizades. Como eu disse, a vida adora subtrair, mas não disse o que. Se pararmos para pensar, existem afirmações bem condizentes que explicam um pouco o que é a vida. São elas: "Toda ação há uma reação" e "Nada se cria, tudo se transforma". Pois bem, como posso comprovar o que estou dizendo? A resposta é fácil: quando você faz uma subtração, consequentemente também faz uma adição, pois se você subtrai felicidade, simultaneamente soma tristeza e, se subtrai tristeza, simultaneamente soma felicidade.

É um verdadeiro caos tentar interpretar plenamente o mecanismo que rege o funcionamento da vida. Para evitar infelicidades, fracassos e tristezas é que existem pessoas decididas a ficarem no meio termo, até mesmo porque, nem sempre é perceptível que o motivo da nossa rizada é relativo a algo que magoa alguém. Quantas vezes, numerosamente, já rimos de piadas bobas sobre loiras, pobres, etc.? Realmente é fato que a maioria das piadas do tipo não são preconceituosas, mas apenas uma fuga da realidade, na qual se espera que todos participem do momento de alegria. Infelizmente, ninguém escolhe com qual perfil sentimental deseja nascer, e por conta disso, muita gente quando cresce percebe que se tornou uma pessoa muito sensível e sentimental. Obviamente, se tivessem escolhas, optariam serem do tipo de pessoa que leva muita coisa na brincadeira. Não podendo decidir que rumo tomar o próprio sentimento, essas pessoas necessitam diariamente que os outros as respeitem merecidamente como desejam. Elas só querem que todos saibam disso e daquilo que não gostam de ouvir sobre si mesmas. Realmente é um direito muito nobre. Infelizmente poucos respeitam. O pior de tudo é que muitas pessoas continuam magoando umas às outras sem perceber ou, até mesmo, porque já está muito enraizado a perspectiva da beleza padrão, estilo padrão, comentários padrões, etc. É uma imensa dificuldade tirar essa raiz.

A sorte, é que o mundo tem voltas, e o que Rafael, mesmo não sendo a pior pessoa, subtraiu da vida de muitas pessoas foi adicionado como um enorme débito na sua durante um ano. O que o ajudou, é que ele soube perceber a transformação que estava acontecendo em seu dia-dia, e no final das contas, ele só teve a agradecer por tantas mudanças em sua vida.

Se por um lado Rafael se sentia feliz por ter se tornado uma pessoa melhor, por outro ele se sentia triste, já que sua adaptação social ainda não era tão autêntica a ponto de se sentir confiante para socializar sem se preocupar em extrapolar os limites de outra pessoa.

Uma coisa que você pode ter certeza é que as pessoas mais felizes são aquelas que sabem e fazem outras pessoas rirem, ou, em outra hipótese mais egoísta, são aquelas que se importam apenas com o sorriso de poucas, ou apenas uma pessoa, que não seja a si mesmo.

Rafael, não gosta da segunda hipótese, muito menos da primeira. Ele preferia uma terceira, que em particular, funciona para pouquíssimas pessoas: Se importava apenas consigo mesmo e isso lhe deixava feliz.

Durante toda a sua infância, ele foi um menino solitário. Sua única companhia era a sua mãe, Edilene. Era uma mulher miserável, que não tinha dinheiro nem pra cuidar do filho. Quando ficou grávida a única vez em sua vida, o que posteriormente desencadeou o nascimento de Rafael, não havia planejado nada. Por mais que as mídias já noticiavam o uso de preservativos, Dona Edilene, na época, não tomou cuidado. Com uma família tão miserável quanto a mesma, ela pensou muitas vezes em abortar, mas nunca o fez. Dona Edilene pensou mais à frente e achou que seria melhor abandoná-lo na porta de uma casa. Infelizmente, ou felizmente, os donos da casa a viram deixando a criança em frente a porta, e decidiram segui-la até a volta para a casa. Pouco depois dela entrar em sua casa, o casal de classe média alta bate em sua porta. Edilene fica um pouco apreensiva e decidiu não ver quem estava ali. O casal, então, pega a criança e deixa em frente à porta. Eles ameaçam denuncia-la, caso não cuide da criança.

Após alguns anos, quando Rafael tem seus 16 anos e um conhecido chamado Daniel, descobre uma verdade:

_ Sua mãe não ti queria quando era bebê._ Disse o amigo.

Essas palavras não vieram do nada. Elas surgiram pouco depois que Daniel recusou um convite para conhecer a casa de Rafael. Foi apenas uma justificativa, mas feriu bastante, o até então, amigo.

Obviamente, ele não quis acreditar naquilo tudo. O amigo até tentou fugir do assunto, mas uma coisa que Rafael nunca foi é ser burro. Ele com certeza soube que houve um motivo para a tal frase e após insistir uma explicação mais detalhada Daniel apenas disse:
_ Não quero mais falar sobre, pergunte para a sua mãe._
Foi um choque para o garoto, mas ele foi buscar a verdade. Durante uma longa discussão com a mulher que o colocou no mundo, acabou revelando que o informante disto tudo foi Daniel, o filho do casal que, no passado, ameaçou denunciar a mãe do amigo.

Se Edilene, até então, era grata pela ameaça que a fez cuidar do filho que aprendeu amar, naquele dia, também teve um motivo para odiar aquela "maldita" família. Ela realmente soube amar o filho, dava tudo o que precisava. Lembra quando eu disse que toda ação há uma reação? Pois bem, essa foi a reação de Edilene um dia tentar abandonar o filho, e a consequência de Daniel trazer toda essa tristeza para o amigo, foi afastar qualquer laço de amizade que podia ter com Rafael.

Houve uma imensa discussão no dia 08/10/2014. Dona Edilene não havia suportado toda a descoberta do filho e foi à casa de Jonas e Verônica, pais de Daniel. Infelizmente essa intriga entre famílias, foram apenas reações de atitudes tomadas no passado. Veja o ciclo:

Edilene tentou abandonar o filho – Anos depois o filho descobre e passa a odiá-la

Daniel conta uma verdade que machucaria o amigo – Daniel perde a amizade Rafael

Rafael conta todo o segredo para a sua mãe – Rafael perde a amizade de Daniel.

O casal não soube manter a boca fechada – O casal trouxe uma enorme tristeza para o filho.

Viu como tudo se conecta?

Enfim. O passado de Rafael já não importa mais. O que importa é se você lembra do que eu disse agora a pouco: "Nada se cria. Tudo se transforma". O garoto, até então adorável, decidiu transformar toda essa tristeza em mágoa. Uma mágoa tão forte, que decidiu se transformar em ódio. Rafael passou a odiar tudo e todos. Não somente odiou, como também perturbou muitas pessoas. Ele não era feliz e não gostava de ver a felicidade dos outros.

O tempo passou, e lá se foram quatro anos após a descoberta que Rafael havia feito nos seus 16 anos. A descoberta que mudou sua vida, hoje, era uma simples justificativa para ser a pessoa ruim que se tornou. Não havia razão para ele ser tão mal com as pessoas, até mesmo porque muita gente não fez parte do seu passado. Logicamente, ainda havia uma faísca do antigo garoto que já foi. Bastava apenas um simples papel e todo aquele fogo de vida que teve, incendiaria os males que o invadiram. O problema, de fato, é que Rafael preferia evitar qualquer coisa que acendesse seu antigo "Eu".

O que definitivamente resolveu esse problema, surgiu no dia 09/08/2018, às 23 horas da noite, quando Rafael, ao deitar em sua cama, sentiu seu corpo sendo tocado, mas não viu ninguém fazendo isto. Não foi um toque qualquer e ele tinha certeza do que se tratava: Era uma maldição! Naquele momento, ele não teve tempo para pensar, não teve voz para falar e muito menos fôlego para respirar tranquilamente. Buscou o ar em tudo que foi lugar, mas só encontrou migalhas quando puxou o fôlego com todas as forças do seu pulmão. Não foi atoa que sua inquietação acabou lhe deixando de olhos bastante arregalados durante toda a noite e se espantava a todo momento com o barulho dos gatos, do vento que soprava e até mesmo com o silêncio. Como não bastasse, ele teve que sentir outra vez a mesma sensação, mas dessa vez ele encontrou sua voz e gritou tão alto que despertou aquele som assustador que só uma coruja consegue fazer e acordou sua mãe de forma tão desesperada que ela já veio gritando e perguntando se estava tudo bem com o filho.

Não houve mais calma naquela noite para Rafael. Houve medo. Sua mãe estava apenas preocupada, mas ele estava desnorteado. Afinal, mesmo sabendo que era uma maldição, não sabia do que se tratava.

Ele já tinha 20 anos e alguns meses naquele dia. Já viveu muitas coisas e pensava que não tinha medo. Infelizmente pensar não é uma ação, muito menos uma proteção. Aquela noite, fez com que Rafael esperasse amanhecer para poder dormir. Será que, quando anoitecer novamente, ele vai conseguir dormir? Ou terá que esperar amanhecer novamente? Lamentavelmente pensar não protege.

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