Aprisionada

IV

Os Olhos do menino encontraram um pai, uma brisa gelada passou por eles, o menino puxou seu braço no sentido contrário e encarou o velho, ambos eram parecidos, o mesmo cabelo negro, pele branca como a neve e uma fina camada de barba sobre o rosto, os olhos do homem eram de um verde musgo a única coisa que os diferenciavam. Seus lábios estavam torcidos em uma linha rígida. Ele ergue-o as sobrancelhas para o filho incentivando a continuar, ou pelo menos dizer alguma coisa, mais Johan não o fez, porque antes mesmo que abrisse a boca, um cachorro enorme passou correndo por eles, ambos, pai e filho saíram de sua pequena discussão e observaram o animal, que agora de longe podia ser distinguido, um lobo. O animal correu para o fim do beco e dobrou a rua, os dois se entreolharam e correram na mesma direção que o animal, O bicho saltou entre bancas de frutas e pulou para os telhados, as pessoas começaram a gritar, não era normal alguém se transformar em um lobisomem no meio da cidade, Johan e seu pai saíram as pressas pelas ruas enquanto o animal pulava de telhado em telhado como se fosse um relâmpago, o pai de Johan se contorceu enquanto corria e então saltou no ar seu corpo se transformou com um espasmo e um perfeito lobo com pelo branco e olhos verdes musgo, coberto com armadura celestial no peito e nas patas saiu correndo pelas ruas. Johan acelerou o passo, ambos estavam indo para a praça central, ele não podia se transformar agora, sua transformação levava segundos e eles não tinha segundos, as pessoas esbarravam nele enquanto ele tentava cortar caminho para praça, ele viu seu pai se atirar contra o lobo acinzentada que a essa altura já havia voltado as ruas, mais ele era rápido, e ágil, e facilmente se esquivou, o pai de Johan bateu contra uma parede e mais pessoas saíram correndo. Quando finalmente o lobo alcançou a praça, um grande círculo com banquinhos e uma fonte, as coisas aconteceram muito rápido, as pessoas gritavam e corriam, o lobo ignorava suas atitudes e principalmente as investidas do pai de Johan que fora facilmente derrubado outra vez, o lobo tinha seus olhos fixos em algo, alguém. Ele atravessou a praça e investiu, investiu contra outro guarda do castelo que tinha uma laça empunhada em mãos, o guarda manejou o objeto contra o animal que esquivou e mordeu a lateral da lança com a mão do guarda junto, o bicho puxou violentamente arrancando sangue e a lança, que caiu no chão com um baque. A essa Altura Johan já estava no centro da praça, ambos estavam apenas a alguns metros de distância dele, mais ele não tinha reação, o lobo era simplesmente majestoso, forte, ágil e consciente, acima de tudo consciente, ele não era um habitante comum, ele era alguém com muita experiência, alguém que poderia até mesmo fazer parte dos guardas. Johan não viu seu pai, sabia que ele havia sido derrubado jogado em alguma outra parede. O Guarda recuou e então puxou algo do bolso, uma lamina de prata, e pulou sobre o lobo que o derrubou ao meio fio, pessoas ainda gritavam, e ficava difícil ver a cena enquanto pessoas passavam correndo trombando contra o corpo do menino. Ele se perguntou porque o guarda não havia se transformado, e então lhe passou pela cabeça que ele não tinha a mesma pratica que seu pai, e mesmo que tivesse ele corria o risco de ser interrompido no meio de uma transformação, ele precisava de espaço, ele se afastou ainda de costa no chão, os olhos fervendo, seu corpo deu o primeiro espasmo, mais não houve tempo, o lobo apenas investiu dessa vez forte e violento, para matar. Ele mordeu o pescoço do guarda, e o puxou, sangue jorrou para todos os lados, a pelagem do lobo ficou encharcada por sangue vivido, o corpo do guarda caiu inerte, os olhos de Johan se arregalaram, e então como se não fosse nada o lobo jogou a cabeça de lado e correu, correu para os telhados e desapareceu. O caos era geral, mais gritos e mais correria a cabeça do guarda rolou, parando em um amontoado de roupas brancas com detalhes azuis. Os olhos de Johan subiram e então ali, parada sobre a cabeça do guarda mutilado estava Juliet, seu rosto frio e inflexível, ela abaixou e então pegou a cabeça do guarda e a ergueu, sangue pingou em seu vestido, e respingou em seu rosto, os olhos azuis da menina cintilaram, ódio, e então ela rosnou, um rosnado alto e forte o suficiente para fazer com as pessoas que gritavam e corriam simplesmente se calassem. Todos os olhares estavam sobre ela, Elias estava parado quase escondido sobre as saias da menina, Juliet jogou a cabeça para ele que a pegou no ar, espalhando mais sangue. E então marchou em direção ao castelo acompanhado pelo menino que trazia a cabeça ensanguentada atrás dela. Enquanto a princesa passava, Johan notou que ela não estava sozinha, aparentemente a guarda toda estava a seu flanco, seu pai junto em frente ainda em forma de lobo, devia ter voltado ao castelo e chamado seus guerreiros, ou simplesmente havia ficado para trás e alguém o encontrou. Johan não soube ao certo, apenas virou-se lentamente entre a multidão ainda extasiada de choque e caminhou em direção as masmorras. Ele tinha coisas a tratar, e embora admitindo que a retaliação em público não havia sido agradável, seria ideal para que ele pudesse investigar aquilo do qual estava atrás.