Capítulo 3

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Mais uma vez eu sentia mãos pesadas me sacudindo os ombros. Jogado de bruços na cama, mas sei que dessa vez o cheiro de álcool exalava pelo quarto. A saída para meu desespero foi a mesma que muitos idiotas fazem: beber para esquecer. Esquecer o que? Eu não queria esquecer nada. Eu só queria uma maneira de trazê-la de volta para minha vida. Eu ansiava por isso. Entretanto, após aquele breve e desastroso encontro, eu entendi que não poderia ir com muita sede ao pote. Um breve instante olhando nos olhos de Megan, e eu tive a confirmação de que suas feridas eram piores que as minhas.

–Que inferno você fez, Alan? Esse quarto está fedido.

–Deixe-me em paz, Molly.

Resmunguei, sentindo minha cabeça latejar. Senti um tapa estalado e ardido em minhas costas.

–Levante essa cara sem vergonha daí agora mesmo. Eu mandei você descansar. Antes tivesse ido trabalhar, seu estúpido. Felizmente não é de trazer vadias para casa ou eu teria visto o que não quero.

Eu girei na cama, antes que Molly continuasse a dizer besteira. Abri os olhos e a vi arregalar os seus, provavelmente assombrada com minha aparência. É, eu sei...horas e horas chorando e bebendo... eu deveria mesmo estar um caco.

–O que diabos aconteceu com você?

Fechei meus olhos, sentindo a umidade em meu rosto e girei novamente na cama, ficando em posição fetal, abraçando meu próprio corpo.

–Fale comigo, Alan.

–Eu a vi.

–Quem?

–Megan.

–Oh meu Deus...

Molly se ajoelhou no chão, ficando em frente ao meu rosto.

–E ai? Conversaram? O que ela disse? Vocês...

–Ela me odeia.

–Não. Por que está dizendo isso?

Eu repeti as poucas palavras ditas por Megan, antes de fugir de mim. Contei também sobre seu envolvimento no caso do Derek.

–Mas como permitiu que ela fugisse? Deveria ter ido atrás dela.

–E acha que não tentei? Pelo menos eu sei que ela está aqui, Molly. Ela está tão perto...

–Ah meu pai... precisamos conversar direito. Por favor, Alan, tome um banho. Tire esse cheiro de álcool e estão pensaremos no que fazer.

Eu obedeci, me arrastando até o banheiro, após Molly sair do quarto. Agora eu conseguia ver sua imagem ainda mais nítida em minha mente. O remorso me corroia ainda mais. Apesar de muito simples, Megan sempre foi vaidosa. Sua pele e seus cabelos sempre estavam macios, brilhantes e cheirosos. Ela sempre tinha a aparência de quem acabava de sair do banho. E no entanto, ela me pareceu abatida demais, sem viço, como se não tivesse tempo ou vontade de cuidar de si mesma. Estaria passando por dificuldades? Arregalei meus olhos. Outra ideia pior ainda passou pela minha cabeça. Estaria casada? Em um relacionamento com alguém?

Não seria de se estranhar. Ela era incrível. A dor por pensar nisso foi tão forte que inclinei meu corpo para frente, apoiando uma das mãos na parede fria do banheiro.

–Deus! Não permita isso.

Desliguei a ducha e sequei rapidamente o corpo, enrolando a toalha em volta da cintura. E foi assim que me ajoelhei em frente a Molly, que bebericava um café no sofá da sala.

–E se ela estiver casada? E se tiver alguém em sua vida? O que eu farei?

Ela me encarou, e colocou a xícara sobre a mesa tão calmamente, que duvidei que soubesse mesmo de todo o sofrimento pelo qual eu vinha passando.

Milagre de Natal - contoOnde histórias criam vida. Descubra agora