Capítulo 2

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Realmente eu não entendia por que olhava tão fixamente para aquela carta. Não sei dizer o que era, mas as palavras tão inocentes daquela garota me tocaram de uma forma inexplicável.

–Então tudo bem. Essas outras levarei para casa da mamãe.

Molly falava, mas eu sentia seu olhar sobre mim. Talvez, a tristeza e a saudade estivessem mais fortes do que pensei. Isso me deixou mais emotivo, era isso.

–Sabe que pode se abrir comigo, Alan. Sempre foi assim.

Realmente foi sempre assim. Foi no colo de Molly que eu chorei quando tudo chegou ao fim. Foi à ela que confidenciei que queria ficar noivo de Megan. Somente ela sabia de tudo sobre meus sentimentos, antes e agora. Ela só não sabia que contratei um detetive para tentar encontrar Megan. Suspirei e a encarei.

–Eu a quero de volta.

–Corra atrás. Se ela errou, tem direito a uma chance, embora eu nunca tenha acreditado que realmente tenha feito isso.

–Estou tentando. Eu contratei um detetive. Mas Megan simplesmente... evaporou.

–Como assim? E não me disse nada?

Fiquei em silêncio. Nem sei por que escondi isso dela.

–Seu idiota. Quer dizer que não encontrou vestígios da Megan? Ah qual é? Ninguém desaparece assim.

–Mas ela desapareceu.

–Nenhum dos antigos amigos sabem dela? Nem mesmo...

Torceu os lábios, deixando evidente seu desagrado ao se referir a ela. Molly nunca gostou da pessoa, tampouco da minha amizade com ela. E odiou ainda mais saber que ela era a diretora do hospital onde eu trabalho atualmente.

–Nem mesmo a Irene?

–Nunca perguntei a ela.

–E nem deve. Não confio nela.

–Ela sempre foi amiga, tanto minha quanto de Megan.

–Ah claro... a grande amiga que logo quis consolar você depois daquilo tudo. Ela sempre foi louca por você e sabe disso.

–Sim, eu sei. Mas ela sempre respeitou meu namoro com Megan. E quando ela quis me consolar... bem, acho que é isso que os amigos fazem não é?

–Sim. Tentam beijar alguém que está sofrendo por outra. Tentam levá-lo para cama.

Molly não se esquecia disso. Obviamente eu contei a ela que Irene realmente tentou algo comigo após o rompimento com Megan. Creio que fui até rude com ela, que sempre foi amiga. Mas eu fui franco ao dizer que nunca quis nada com ela. Nem mesmo sofrendo a dor da separação. Eu estava triste, machucado, mas, ainda assim, mulher nenhuma seria capaz de ocupar o vazio que a ausência de Megan causava em minha vida. E assim, ela parece ter desistido, apesar dos constantes convites para sairmos juntos.

–Vamos esquecer isso, sim? Mulher alguma ocupará o lugar de Megan.

–Você a ama demais. Eu sempre disso isso. E me espanta que tenha... poxa, ela estava grávida.

Fechei meus olhos com força, tentando inutilmente tentar não pensar naquilo.

–Molly... eu vi.

Lembranças

Eu estava feliz demais. Eu já tinha planos de pedir a Megan em noivado. Nós nos conhecemos quando eu estava com vinte anos, e ela dezessete e desde então começamos a namorar. Megan era simples, humilde e linda. Ela me encantava. Eu fui seu primeiro homem, e apesar de não ter sido a primeira, ela seria a única. Eu fui o irresponsável da relação, pois louco por ela, não me preveni. E também nem pensei na hipótese de uma gravidez. Eu segui com meu plano de ficar noivo e também com a ideia fixa de convencer meus pais a ajudá-la nas despesas com a faculdade particular. Eu sabia que Megan não tinha condições, afinal eram ela e a mãe vivendo da pequena pensão deixada pelo marido após sua morte. Mas estava disposto a implorar para que meus pais a ajudassem, afinal, eles a adoravam.

Milagre de Natal - contoOnde histórias criam vida. Descubra agora