A vida tem um jeito muito próprio de caminhar. Ela não pergunta por que, não procura razões. Ela apenas segue para todos em seu próprio caminho, intrinsecado com milhares, às vezes milhões de caminhos de outras vidas. E, normalmente, tudo o que podemos fazer é acompanhar esse ritmo e nos adaptar. A vida é uma coisa frágil que vive se arriscando.
E nesse caminho coisas grandes geram pequenas coisas e pequenas coisas podem gerar grandes furacões.
Um dia qualquer de Abril. Passando pela estação de ônibus da cidade e sendo obrigado a reduzir a velocidade do carro para evitar acidentes com os enormes veículos carregando dezenas de pessoas cada um na estrada. A vontade de seguir adiante sem reduzir era grande, mas o filho no banco de trás e a esposa ao lado por simplesmente estarem ali não deixavam. Não podia reclamar. Era o dia a dia da vida urbana.
A pressa para chegar na casa dos amigos para um churrasco com piscina e muitas cervejas (aniversário da filha do cidadão), entretanto também era uma constante em sua cabeça. Afastando-se do terminal de ônibus e numa rua menos movimentada torna a acelerar.
Bem, a graça da vida é que ela não faz perguntas e nem pede licença. Alguns podem chamar isso de lei de Murphy ou simplesmente dia sem sorte, mas esse com certeza não era um dia para cervejas.
-A gente já está chegando? - Pergunta o garotinho. Ansiedade típica de crianças em viagens longas, embora essa nem fosse tanto. Sobretudo crianças como aquela, de família de classe média baixa.
Haviam se mudado para longe anos atrás e se afastado das famílias de ambos para construir sua vida onde achavam que seria melhor, haveriam mais oportunidades de negócios e seria mais lucrativo abrir uma loja de artigos esportivos ali. Foi uma escolha que fizeram após o nascimento da criança. Teve seus pontos ruins também: Isso fez com que a casa a ser comprada tivesse um preço maior que na cidadezinha no interior, entretanto, advogado formado, poderia arcar com isso, sobretudo depois que a loja fosse aberta.
Nove anos depois, aqui estamos nós. Loja aberta, lucrativa e com alguns funcionários, porém, ainda apenas uma filial, nada grande e nem precisava ser. Não tinha essas manias. Porém, funcionando sem o chefe nesse domingo.
-Sim, já estamos chegando!
Com sorte, os amigos teriam levado suas crianças também. Conhecendo a mania de mostrar o que pode do amigo teria cama elástica ou pula-pula para as crianças, o que deixava os amigos livres para as cervejas, carnes e o bate-papo sobre futebol. Oh, é mesmo, tinha jogo mais tarde! Por deus, quem marca festa em dia de jogo? É melhor que o Carlos tenha levado o projetor e as caixas de som, isso é importante!
-Tem jogo hoje!
Muitas pessoas fazem isso. Pensam um turbilhão de coisas sobre determinado assunto e depois soltam muito pouco para começar uma conversa.
-Não diga, Claudio! Você e o Tortorelli vão se divertir muito hoje gritando com a televisão! - Ironizou.
-O projetor! Ele não vai carregar a TV até o salão de festa!
-Vocês não deviam estar pensando nisso hoje!
-O jogo é sagrado, amor! A festa da menina é que não devia acontecer hoje! Agora o Tortorelli se vira para resolver isso!
-Homens... - Murmurou.
Apesar disso, não tirava o sorriso da face. Finalmente teria um dia de descanso depois de uma semana cheia com a loja e o dia anterior cuidando da casa pelo dia inteiro. Que xingassem o projetor o quanto quisessem, quando se isolassem para ver o jogo. Não tinha importância. Ou tinha bem menos do que parecia.
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Mais que Memórias
General FictionAinda um garoto sofre um grave acidente onde perde os pais. É jogado para fora do carro antes da colisão e bate a cabeça contra o asfalto com muita força, o que trás graves consequências. Parte da sua coordenação motora fica fragilizada e ele "desa...