Henry

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"Tudo à sua volta pode ser apenas passageiro se você não olhar com atenção.."

                                          Quinta-feira

Eu desejava apenas descansar depois dessa conferência, estava exausto e queria uma boa cama por um bom tempo. Estava na última palestra quando vieram me avisar que teria um coquetel de encerramento à noite. A vontade que tinha de ir era nula, mais eu sabia que precisava estar presente nem que seja de corpo.

Fui para o hotel em que estava hospedado e decidi me arrumar logo pois cheguei em cima da hora e se deitasse era capaz de acordar só na próxima geração.
Tomei um banho gelado pra acordar e enquanto água caia em meu corpo pensei que tinha tudo e ao mesmo tempo não tinha nada. Eu ouvia e tratava traumas das pessoas, mais no final de tudo não tinha ninguém pra cuidar de mim e eu não sei como eu lidaria com isso..

Sempre fui fechado e na minha, criei um mundo só meu e quando me sentia ameaçado era evasivo para espantar qualquer intruso que tentasse entrar nele. A consequência disso é que sempre estava desligado das verdadeiras sensações sentidas por pessoas comuns. Fazia o que amava e sentia prazer nisso, lutei muito pra chegar onde cheguei e talvez eu nunca me entregue totalmente à alguém, até porque essa vontade ainda não surgiu..

Sai do banho enrolado na toalha e fui para o closet escolher uma roupa. Enquanto me vestia com meu terno de três peças azul marinho, travava uma batalha árdua entre ir e deitar nessa cama enorme e apagar por dias, meses, anos.. Quando o telefone toca me tirando dos meus devaneios.

— Alô?

— Meu menino que saudade de você, por onde anda?    - minha mãe logo disse.

— Oi mãe estou em São Paulo em uma conferência me preparando para um coquetel, mais viajo amanhã de madrugada de volta, e a senhora como está?     - respondi enquanto tentava colocar a gravata.

— Estou bem, filho estou ligando para saber quando vem me ver e almoçar comigo?!   - minha mãe com seu jeito doce respondeu.

— Ah mãe, pretendo ir assim que chegar. Pode ser no sábado tenho saudades do seu purê mãe.  - falei com água na boca de vontade.

— Venha meu filho, farei pra você aí já tratamos de falar sobre quando vai me dar netos, já estou na hora de ser avó.  - a mania da minha mãe de me arrumar mulher e filho era enlouquecedora.

— Combinado mãe sábado estarei aí, e falaremos sobre o que quiser apenas faça meu purê?!  - respondi já me limitando ao assunto netos.

— Te espero meu menino até sábado, boa festa pra você e já arrume a mãe do meu neto. Amo você beijos..!!

— Também te amo mãe, farei o possível.

Desliguei o telefone e ele pesou uma tonelada em minhas mãos, eu olhava pra ele como se ele fosse criar pernas e cabeças. Odiava passar tanto tempo sem estar com minha mãe, logo ela que só tinha a mim. Prometi cuidar dela quando passei a entender que nunca teria pai, mais ela foi forte e guerreira em me criar e me fazer o homem que sou hoje.

Olhei no relógio e vi que estava atrasado para o tal coquetel, revirei os olhos peguei a chave do carro, minha carteira e sai do meu quarto com o pensamento de conversar e conhecer pessoas sem análise nenhuma.

Cheguei no local todo iluminado, com carros de luxos e limusines estacionadas, realmente estava cheio. Dei meu nome para a moça da recepção e adentrei ao salão vendo vários grupos de pessoas e casais conversando animadamente. Fui direto ao garçom pra pegar uma bebida para dar uma animada e procurar minha mesa. Sempre parava e cumprimentava alguns conhecidos da área mas não me estendia na conversa.

Sentado na minha mesa depois de dois copos de whisky e à exatos 20 minutos já queria ir embora. Fechei meus olhos e gemi frustrado querendo estar em outro lugar que não ali. Ao abri-los reparei que a pista de dança estava cheia e tocava uma música animada. Olhei mais atentamente e vi uma mulher alta e magra com seus cabelos negros amarrados em um coque na cabeça, com um vestido preto justo no seu belo corpo, observei ela dançar, seu corpo balançar conforme a música soava, de olhos fechados entregue ao que queria sentir naquele momento, a melodia. Fiquei intrigado com a reação dela em apenas dançar tão entregue e decidi ir até ela.

Quando me levantei para fazê-lo reparei em um homem chegando por trás e a abraçando. Ajuntei minha falha tentativa de conhecer alguém e fui embora para o hotel e o meu mundo, que era de onde eu não deveria ter saído.

Assim que cheguei fui tirando a gravata e o palitó, abrindo a camisa e jogando tudo no chão. Eu queria e precisa me libertar, me sentia sufocado.

Deitei na cama e bufei irritado pois queria não ter saído desse quarto hoje e dormido muito, quem sabe assim tivesse evitado o fiasco que fui essa noite. Agarrei os travesseiros e fechei meus olhos prometendo a mim mesmo que iria viver minha vida e para de tentar me envolver, uma hora iria acontecer e eu esperava estar preparado para isso, se não iria fazer o que sei fazer de melhor, fugir para preservar o mundo que criei.

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