ATEMPORAL (Romance Gay)

11 - DESPEDIDA (PARTE II)

Borboletas azuis cortavam o céu ensolarado de Arvoredo. Em diferentes tamanhos e bater de asas, elas pareciam estar seguras na direção que seguiam. Eram mais de cinquenta - com certeza - todas passando por prédios e vielas que marcavam a região metropolitana da cidade. As pessoas nas ruas não notaram aquele momento lindo e único que a natureza estava proporcionando. Desceram em uma espécie de fileira em direção a um jardim localizado na área externa de um enorme prédio branco, era a frente do hospital municipal da cidade.

Sentado em um banco, ao lado de uma mulher na espera do táxi, Yuri acompanhava aquele presente da natureza. O lindo jovem negro, que portava um longo cabelo macio e um belo par de olhos azuis acinzentados, sorria com o olhar e passava a mão sobre o peito, agradecendo a Deus (mentalmente) pela graça alcançada. Sua mãe enfim acordou do coma e, após duas longas semanas de exames, ela estava finalmente voltando para o seu pequeno e simples, mas aconchegante lar.

Após a notícia de que Esmeralda tinha acordado do longo sono, o jovem Yuri não perdeu tempo e dirigiu-se rapidamente ao hospital. Chegou cedo, mas só pôde enfim visita-la no final da tarde. Muitos choros, abraços e beijos marcaram presença nesse reencontro de almas. O momento foi tão marcante que as enfermeiras presentes no quarto também não conseguiram segurar a emoção. O adolescente que tanto batalhava pela saúde da mãe e que jamais tinha saído do seu lado esbanjava sorrisos e gratidão.

Bastaram-se três dias para que as principais notícias fossem dadas a ela. Yuri não deixou passar nada, contou sobre sua formação de ensino médio, sobre seus trabalhos e pequenos bicos que fazia, sobre a solidão que tinha ao dormir sozinho todas as noites em sua casinha e, também, dos momentos mais difíceis de toda essa travessia.

Sentindo-se culpada, Esmeralda pediu desculpas por ter "abandonado" o seu filho, mas Yuri negou e disse que ninguém poderia prever o futuro e que, mesmo passando por dificuldades, jamais desacreditou que esse reencontro fosse acontecer. Ali, juntos em um quarto, em meio às lágrimas e sorrisos fartos, não era mais a criança Yuri e sua mãe, naquele momento nascia o homem Yuri e sua mãezona guerreira. Uma pequena família, mas que planejava os próximos passos que dariam e que criavam novas e boas memórias. Dois corações valentes que faziam planos para o futuro.

Ƹ̴Ӂ̴Ʒ

- Então eles já estão em casa, hum?

Dizia a mulher no outro lado do telefone.

- Sim, minha senhora. Acabo de vê-los entrando na residência. Vieram de táxi e parece-me que ela não pode caminhar muito, estava andando lentamente e com a ajuda do garoto.

- Aquela cadela mulata deve estar fraca ainda... Melhor para nós, não é mesmo, meu querido? Fica mais fácil para nós darmos a cartada final que tanto precisamos... Não pudemos antes por causa dos problemas bastardos e da emissora, mas agora estamos livre pra fazermos o que queremos. – Sorriu com escárnio.

- Ah, minha bela senhora... Não sabes da felicidade que me tomas ao te ver assim... Feliz, fatal e cheia de planos. - Falou com uma voz sedutora o mordomo e fiel escudeiro da Senhora Napoleão, Ivan.

- E eu A-D-O-R-O colocar esses planos em prática. – risos. – Agora, meu querido, precisamos preparar tudo, hum? Eu quero dar o meu checkmate nos próximos dias. Você sabe que preciso comparecer ao evento daquele bastardo do Marcos Leão no sábado, não sabe? Então... eu quero essa mulher fora da minha vida antes disso. Portanto, meu querido Ivan, prepare tudo que sexta-feira irei finalmente degolar essa morta de fome... Entendeu-me?

De dentro do seu carro, Ivan fecha os olhos sentindo um prazer doentio percorrendo todo o seu corpo, após as palavras ditas pela Beatriz.

- Não se preocupe... Farei tudo do jeitinho que a senhora gosta.  – sorriu. – Mas... –Disse com uma voz agora mais grave. – E o rapaz? E o seu... Neto?