O Passado de Louis

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Louis

Há coisas na vida que são melhores se forem mantidas em segredo. O misterioso, o desconhecido, o proibido... frutos de um mesmo prazer. Engana-se quem pensa que os segredos ferem as pessoas. Isso somente acontece quando eles são descobertos. Afinal de contas, um segredo... deve permanecer secreto.

Alguns segredos valem a pena serem contados. Outros se colocam a espreita de serem descobertos. Eu cuido muito bem dos meus e somente me conhece quem eu permito. Há várias maneiras de se encarar o mundo. Conhecimento é poder. Não vou colocar esse poder nas mãos de qualquer pessoa.

Quando olho para Liam, eu vejo alguém que não sei até que ponto posso contar. Ele tem segredos por si só, que estão me atraindo e me seduzindo. É preciso cautela quando se brinca com a verdade. Eu segui os passos dele na igreja e agora eu tenho quase certeza de que posso confiar a ele o momento em que tudo começou para mim, sexualmente falando.

Liam e eu somos farinha do mesmo saco, até certo ponto. Ambos vamos para a mesma igreja e temos pais conservadores. Enganar não é a minha praia, mas ter segredos é a única opção. Para alcançar nossos desejos, devemos nos manter na escuridão. Até agora isso não pareceu ser um problema para ele... nem para mim. Então eu decidi conta-lo. Torna-lo mais próximo de mim.

"Li?" murmuro no meio do beijo que trocamos em seu porão, deitados no sofá com a televisão ligada e o jogo no pause.

"Hum?" ele continua me dando alguns beijinhos enquanto falo.

"Você quer ouvir minha história?"

"Hum", ele murmura e cola o olhar no meu. "Seu primeiro...?"

"Você sabe que nosso parceiro de missão dificilmente vem da mesma igreja que a nossa, não é?"

"Foi o seu parceiro de missão?" ele se anima e, pelo olhar, sei que está tentando se lembrar quem foi.

"Por isso eu não queria te contar", afirmo.

"Eu não prestei atenção..."

"E é por isso que eu vou te contar".

"Mais um cara da igreja?" ele ri cinicamente.

"Ele não é como nós dois".

"Por que não?"

"Ele fez isso por carência..."

"Sei", Liam não acredita. Eu também não...

No começo, eu não era tão depravado assim. É claro que eu sabia o que era sexo, mas como eu só poderia fazer depois do casamento, eu nunca pensava muito sobre isso. Toda vez que eu ficava excitado, eu começava a correr pela casa ou fazer exercícios pra tirar minha mente disso. Eu me sentia mal só por estar de pau duro.

Agora, algo que eu não poderia negar seria minha atração por garotos. Eu soube desde que era moleque, quando peguei meu pai assistindo pornô uma vez e gostei mais de olhar pro rapaz no vídeo do que pra mina. Garotas são legais, mas elas são muito delicadas, em sua maioria, principalmente as da igreja. Eu gosto de algo mais... bruto, digamos assim.

Então é complicado. Manter o segredo sobre minha homossexualidade na família é algo que irá perdurar minha vida inteira. Ninguém irá me aceitar. Nem eu mesmo me aceitava logo que descobri isso. Ficava me culpando toda vez que olhava com desejo para algum menino, toda vez que pensava em outro menino, toda vez que eu sentia tesão por causa de um menino. E aí eu rezava e pedia a Deus para tirar essa vontade de mim. Mas não era apenas uma vontade... é quem eu sou.

Se é verdade que é o demônio quem torna os homens homossexuais, então eu deixei o demônio habitar em mim, e eu abri as portas para ele justamente durante a missão; durante uma viagem que deveria ser sagrada e que deveria levar a palavra de Deus para outros povos. Foi aí que eu entreguei minha alma; meu momento mais vulnerável.

NIRRTY (Season 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora