Trouble

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Zayn

E começa a semana de avaliações de recuperação. Passei bastante tempo estudando, tenho certeza de quase tudo da matéria. Até fiz umas anotações em papeizinhos para ficar decorando, algo que nunca fiz antes na vida. Dessa vez, não vou falhar. Preciso passar.

Fico nervoso ao chegar na escola e fico mais nervoso ainda ao ver os alunos que ficaram de recuperação também. A questão é: eles estão cochichando demais. Eles olham estranho pra mim quando passam, quase como se estivessem com medo. Fico sem entender o que aconteceu.

Ninguém fala comigo. Algumas pessoas literalmente se afastam quando chego perto. Eles estão conversando sobre algo e, quando olho em sua direção, eles param da falar e fingem que estão apenas parados sem fazer nada. Isso acontece no primeiro dia; no segundo; e quando chega no terceiro, eu fico de saco cheio e decido fazer alguma coisa.

"Ei, vocês dois", ando na direção de um casal que estava no canto do corredor me olhando estranho. O rapaz segura sua namorada assim que me aproximo. "O que tá pegando? Por que tá todo mundo estranho?"

"Nós sabemos o que você fez", responde o rapaz.

"Como você dorme a noite?" a garota balança a cabeça e ambos vão embora apressados.

"O que eu fiz?" cerro o cenho. O que está havendo? Corro para o banheiro ao sentir meu coração acelerar. Aquela vontade imensa toma conta de mim outra vez. Me sinto nervoso, me sinto ansioso... somente algo pode parar isso. "Não, não..." lavo meu rosto e respiro fundo tentando me acalmar. Tenho uma prova pra fazer agora. É só nisso que preciso focar.

No quarto dia, eu encontro o meu armário pichado. Há apenas uma palavra escrita em tinta vermelha: assassino.

Fico sem reação, completamente paralisado ali no meio. Olho em volta e todos estão voltados para mim. Todos estão falando sobre mim. Eles me culpam, me julgam, me chamam de assassino pelo que aconteceu com o meu pai, mas não sabem o que havia por trás. Não sabem tudo que minha irmã sofria por causa desse monstro. E, honestamente, não sei se importam.

Meus olhos se enchem de lágrimas e eu me sinto como uma aberração de circo. Saio correndo pela escola, passando por todos que ainda me apontam o dedo, e vou até o ginásio, que está escuro uma hora dessa. Nesse lugar, eu não aguento mais a dor. Eu deixo as lágrimas caírem, assim como o meu corpo.

Jogado no chão próximo aos assentos, eu choro copiosamente. Por que isso está acontecendo? Justo agora que tudo estava começando a dar certo. Justo agora que eu ia colocar minha vida nas rédeas novamente. Minha mãe, Safaa e eu viveremos juntos, como deveria ter sido desde o início. A ausência de Niall já não me causava mais tanto sofrimento. As drogas, eu havia deixado pra trás... mas agora, sinto tanta falta delas.

Respiro fundo após ficar um longo tempo chorando e tento me acalmar. Preciso dar o fora daqui. Sem condições de fazer prova hoje. Não vou nem passar pelo meu armário na saída. Eu devia limpar aquilo... mas espero que a diretora veja antes. Essa vai ser a minha única justificativa quando me perguntarem porquê eu não fiz a prova.

Vou até o parque de skate e fico aí o dia inteiro. Ando desanimado procurando trazer minha cabeça pro lugar. Escuto músicas para me distrair. Mas o que preciso de verdade é viajar, sair daqui. Há uma força enorme me arrastando pra isso, não importa o quanto eu lute contra...

Retorno para casa e não encontro ninguém. Safaa foi para o hospital com minha mãe. Hoje é dia de sessão de terapia. Faço um sanduíche e como desanimado. Nem sinto o sabor direito. A casa está silenciosa e vazia, assim como está dentro de mim. Não sou nada senão uma carcaça. Preciso me preencher com alguma coisa... Comida não dá certo. Amor não há. Dinheiro não adianta. O que sobra?

NIRRTY (Season 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora