Relatos da Hora Morta

A Menina Demônio

Tomei coragem e vou contar mais uma estória. Não posso deixar de negar que tenho medo de relembrar o que aconteceu. Tenho medo que ela volte e me atormente mais uma vez.

Sei que foi um sonho, mas a sensação foi tão real! Fiquei apavorada! 

Como sempre, estava em um sonho comum, descansando meu corpo e minha mente, até que aquilo aconteceu de novo. Paralisia do sono. Sempre o meu pior pesadelo. Quando estou nesse estado, consigo perceber que estou presa em sonho. Impossível de se mover, mas dessa vez não. Algo terrível estava brincando comigo. Estava apenas me levando para uma armadilha devolvendo meus movimentos.

Sempre durmo de lado, e foi assim que despertei no meu infeliz estado paralítico. Olhava para todas as direções que conseguia e vi que estava sozinha. Tentei me mexer. Nada, Tentei gritar, nada. Parecia que quando tentava me mexer, meu corpo ficava dormente, fraco. Tentei com todas as minhas forças e aos pouquinhos fui me livrando da cama. Fiquei feliz, pela primeira vez estava funcionando.

Tenho medo desse estado porque é cem por cento de certeza ter algo ruim envolvido. Nunca era coisa boa. Fui em direção à porta e segurei a maçaneta. Foi muito difícil girá-la para abrir a porta. Tentei inumeras vezes e ficava cada vez mais nervosa. Coração batendo a mil,  com medo do que iria me acontecer. Tudo o que eu queria era escapar daquele quarto. Daquele estado. Sabia que algo muito ruim iria me acontecer caso demorasse muito para acordar.

Depois de muita dificuldade eu consegui abrir a porta. Gelei com a imagem que vi assim que escancarei a porta. Era minha casa, isso não havia mudado. Mas era algo que me fez perder as forças mais uma vez e um medo, horror enorme invadiu o meu ser. Tudo escuro. Só dava  para ver algumas silhuetas e mesmo assim enxergava muito pouco. Não sabia mais o que fazer. Foi como meu cérebro parasse suas atividades. Agora eu tinha certeza que o mal viria atrás de mim. O que fazer? Ficar ou correr? Para onde eu iria no escuro? Eu sabia que não teria chances de fugir e aquilo me pegaria.

À minha frente tinha um pequeno corredor com um banheiro de frente para a porta do meu quarto. Não iria para lá, cilada na certa. Virei a direita. Era uma sala de jantar com abertura para o corredor da escada e mais a frente, a sala de estar. Resolvi correr para lá. Tomei folego e fui correndo. A primeira coisa que fiz foi acender as luzes da sala. Mas elas não se acenderam. Tentei várias vezes e nada. só ouvia o "click, click, click" das minhas mãos mexendo com rapidez no interruptor. Estava tudo escuro e nem pelas janelas conseguia enxergar a noite. Era como se a casa estivesse presa no nada. Nem céu, nem rua, muito menos os vizinhos eu conseguia ver.

Sem querer eu fiz uma coisa que não queria. Olhei para trás. Uma das piores coisas é você olhar para trás e não ver nada, mas saber que algo está a sua espreita. Só esperando para te assustar. E foi aí que eu vi. Na porta do meu quarto. Um vulto branco me olhando. Pela primeira vez eu vi a forma bem definida do espírito. Era uma menininha usando um vestido que ia até a canela, como se usava antigamente. Devia ter uns dez anos de idade. Estava com apenas a metade do corpo para fora do quarto, como se estivesse me vigiando escondido. Só pensei em ir para o quarto dos meus pais, que era a porta da esquerda em relação ao meu quarto. 

Depois de decidir ir para lá, tudo foi muito rápido. Saí correndo em direção a sala de jantar novamente e o pior aconteceu. A menina voou da onde estava para cima de mim, com os dois braços esticados para frente e as mãos, como se fossem garras, mirando meu pescoço. Parei de correr e gritei de pavor. Ela veio muito rápido para cima de mim e quando suas mãos tocaram meu pescoço, ela sumiu e eu acordei imediatamente.

Sentei na cama com uma velocidade enorme, a respiração ofengante, quase hiperventilando, coração acelerado e com muito medo da cena que acabava de presenciar. Foi horrível! Tão real! Apesar do medo, comecei a passar as cenas na minha cabeça. A menina tinha no rosto uma expressão de ódio que eu jamais havia visto, chegava a deformar seu rostinho infantil. Infelizmente nunca vou me esquecer dela e daquele rosto medonho. Tenho medo de lembrar de seu espírito, ela me encontrar e me assombrar novamente.

Por que isso sempre acontece comigo?

Maldita hora morta!