a film by quentin tarantino {sugamon}

l.a. confidential 📼 [2]

Quando as oito horas da noite daquele dia deram as caras no relógio, Yoongi levou o mouse até o painel do computador, pronto para desligá-lo, mas suas intenções foram brutalmente interrompidas pela pilha de pastas que foram postas em sua mesa.

— O que é isso, Jimin? — perguntou ao colega, se virando na cadeira para encará-lo. — Eu tô indo embora, deu meu horário.

— Ordens lá de cima — o loiro apontou. — Não posso fazer nada.

Yoongi murchou, vendo o colega pegar o próprio casaco e a bolsa, terminando o expediente, enquanto ele ficava além do horário de novo. Jimin saía assoviando da redação enquanto tudo o que o outro poderia fazer era encarar os textos recém-colocados em sua mesa.

Min Yoongi tinha 27 anos, era um dos editores do THK, um jornal muito reconhecido na Coréia. Ele não gosta nenhum pouco de passar perto de pombos na rua, não gosta quando pingos de água caem em sua pele, nem de ficar sujo de Terra, e definitivamente odeia seu chefe.

Yoongi poderia, com muita facilidade, pegar um taco de beisebol e acertar a cabeça do temido Sr. Seo Jiyong, e ainda dançaria e cantaria em volta da "vítima", como Alex em Laranja Mecânica.

Ele estava completamente saturado, frustrado, no limite. Tudo havia piorado uns 67% após a última semana, e hoje, quarta feira, 31 de dezembro, sim, último dia do ano, seu chefe havia resolvido foder com seus planos.

Yoongi não era um funcionário ruim, e muito longe disso, era com certeza o mais competente de todo o prédio, nunca deixa um 'a' ser trocado por 'o', nunca deixara a mesma palavra aparecer mais que o necessário, nunca fez algo que envergonharia seus professores de literatura.

Então, por que Min Yoongi estava sendo castigado? Ah, eu te conto.

Então, semana passada, lá por terça feira, Sr. Seo, chegou à noite e ordenou que Yoongi o acompanhasse à um jantar. Min não queria ir, mas não relutou na hora, pois era um jantar de negócios, então estava dentro do aceitável.

Mas Yoongi é chato e tem mania de perseguição. Quando os 10 primeiros minutos de conversa não seguiran como deveria, ele já começou a ficar inquieto, pois os acompanhantes dos convidados não pareciam realmente sérios, e os convidados muito menos. Não era um jantar à trabalho!, porra!

O moreno jantou em silêncio, preferindo ficar alheio ao papo fútil e sem fundamento profissional. E até ali, estava tudo irritante mas suportável, somente até ali, já que as passadinhas de mão do seu chefe começaram a ser percebidas.

Ah, Min Yoongi ficou puto. Tinha um nojo danado daquele tipo de gente, e perceber que ele estava passando por isso o deixava cerca de 99% mais puto ainda. Mas não fez nada naquela hora, ele respirou fundo um bocado de vezes, ora ignorando os atos e ora os impedindo de forma taciturna.

Tentava se sentar de um jeito diferente; foi ao banheiro duas vezes, e nem assim o homem se tocou. Sr. Seo continuava persistindo, como se Yoongi fosse apenas um objeto que você pode mexer a todo instante.

Sabe o quão constrangedor é você ser posto nessa situação? Yoongi não era um garoto de programa, não estava à disposição, Sr. Seo não era um homem descomprometido, ele aliás era casado há 24 anos! E mesmo se não fosse! Merda, aquilo era ridículo!

Por isso, depois do jantar, na volta, quando o chefe enfiou aquela mão enrugada e suja sobre sua coxa, apalpando a região, Yoongi repeliu totalmente, agarrando os dedos do homem e os esmagando com a força.

— Eu corrijo textos por dinheiro, não sexo!

Ah, e pra quê? Desde então Yoongi tem ficado além do horário, corrigindo matérias que nem mesmo serão usadas no jornal.

E ele não podia fazer nada, pois não estava fácil conseguir um emprego naquela época. A crise dos Tigres Asiáticos havia até mesmo lhe impedido de assistir Lolita por falta de dinheiro; Só lhe restava fazer a merda que era pedida.

Quase nove horas, apenas quatro dos nove textos haviam sido lidos, e Yoongi sabia que esses mesmos textos já haviam sido corrigidos por outro editor — não havia uma só palavra do lugar, mas ele não podia ignorar, pois as câmeras viam tudo.

— Merda — soltou, passando as mãos pelo cabelo, tirou os óculos e esfregou as pálpebras, se sentindo cansado e machucado. Aquela era uma situação de merda, cuja nunca achou que passaria. Tombou a cabeça sobre a mesa, encarando a fileira irregular de folhas de papel.

Era o último dia do ano, ele precisava passar essa virada com sua avó. Precisava fazer os Yakgwa* e ir até a droga do hospital, ouvir e assistir a queima de fogos pela janela; Sua avó precisava lhe dizer que 1998 seria melhor que 1997, e mesmo não acreditando, Yoongi precisava dizer "vai sim, nana".

Min já perdeu tanto por conta dessa droga de redação, essa porra de jornal, e esse merda de chefe. Já havia se desdobrado tantas vezes nesse lugar por pessoas que no fim não lhe jogariam uma moeda se precisasse. Já havia revisado textos de outros editores que precisavam correr para ver seus filhos nascendo, acompanhar a namorada no cinema ou ir em um casamento de um primo distante.

Mas nesse momento, ele não tinha ninguém que faria isso por ele. Nunca teve, aliás.

Digo, até agora ele não comprou o álbum do Elton John, e ainda não pôde assistir MIB, não sabe do que se trata Boogie Nights, e o máximo que viu foi Titanic (mas esse nem vale, pois todo o mundo viu). E ele estava tão animado para assistir Gênio Indomável.

O pior de tudo, foi que Jackie Brown lançou no mesmo dia que Sr. Seo fez aquela porcaria. Além de estragar seu dia e lhe deixar se sentindo um merda, ainda tirou a estreia de um filme do seu diretor favorito. Quer dizer, as únicas coisas boas da sua vida e que ele gostava, a porcaria do seu trabalho fazia questão de tirar dele.

Isso sem contar os shows, os almoços com amigos, as matinês, e nem o DVD que seu primo comprou ele pôde ver como era.

Yoongi respirou fundo então, e fechou a pasta, desligou o computador, pegou a sua mochila, guardou o crachá e saiu por aquela porta dos infernos, deixando a redação. E que se dane, 1998 seria melhor, caralho.

Ele só esperava conseguir ver sua avó antes do ano acabar. A cada ano que se passava, ele temia ser o último.

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oIEE

obrigada pelas 100 views already e desculpa a late att!!!

*yakgwa: biscoitos de mel // é um prato meio que tradicional pras festas de fim de ano