— E você? Agora eu mereço um chute, mas você parece alguém que passa o ano novo chapado. Não que isso seja ruim? Ah, foi mal, eu falo demais as vezes. Não quis dizer de um jeito ruim.
Namjoon permaneceu o observando, e automaticamente seguindo cada gesto.
Namjoon era do tipo egoísta e covarde, quando reconhecia uma situação triste, logo fugia, não querendo se envolver. Porque simplesmente nunca tinha algo bom a dizer, mesmo que sentisse.
— Ah... — murmurou. — Você disse muita coisa ao mesmo tempo. Eu sou apenas um, Yoongi, não exija tanto de mim.
Não sabia se devia insistir na conversa sobre a avó do rapaz ou pular para a segunda parte. Normalmente, ele fingiria nem ter escutado, mas com Min Yoongi, cada ato descuidado parecia uma imensa sacanagem. Entretanto, era complicado, sabe? E se perguntar sobre a senhora incomodasse o rapaz? Namjoon não queria ver irritação naquele belo rosto, muito menos ser o motivo de tal.
O ódio de Namjoon pelo ruivo babaca cresceu uns 50 centímetros então. E talvez o ruivo da estação fosse apenas a representação figurativa da vida e suas armadilhas, Namjoon sentia ódio disso.
Respirou fundo, desviando o olhar do rosto de Yoongi para suas mãos agarradas à garrafa. — Eu queria te dizer algo bacana... e gentil. Mas... — pausou, mordiscando o próprio lábio, tentando pensar. Era um estúpido. — Ela... sei lá, sabe? Não importa, não importa se você foi ou não vê-la no ano novo, o que importa é que você esteve com ela o tempo todo. Ela deve estar lá na cama dela e eu aposto que compreende seu atraso. Eu tenho certeza que você é um bom neto, e não é estereótipo.
O menor bebeu um pouco mais do que deveria de uma vez só, e sentiu que quase havia se afogado numa garrafa de cidra. Tossiu algumas vezes – longe do bucal da garrafa, é claro – e entregou o objeto a Namjoon ainda com os olhos fechados de tanto tossir.
Limpou a garganta um pouco e tentou falar de novo.
— Ela pode nem estar mais viva pra entender alguma coisa. Talvez se eu chegasse lá no horário — pausa para tossir mais um pouco — ela já não estaria mais lá. Não dá pra saber. Ah, caramba. Eu sou muito chato. Tá vendo, a gente estava conversando normal e eu estraguei tudo. Desculpa. — Min encolheu os ombros, nervoso em olhar para Namjoon e nervoso em não olhar. Ele queria saber o que o garoto sentia. Queria saber se era pena, se era empatia, ou se só achava ele chato. Queria, mesmo conhecendo-o há pouquissimo tempo, entender todas as suas expressões.
Ele sentia que eram muitas.
Apanhando a garrafa, Namjoon soltou um suspiro longo. — Pelo menos você se dedicou. Hoje, você poderia estar indo curtir com amigos e ficar louco, chapado, como eu faria. Mas não... sua intenção era ir até ela, e você só não chegou a tempo, por um infortúnio. Você não estragou nada. Se quiser mudar de assunto, tudo bem... mas eu não me importo de te ouvir. — então bebeu um gole da cidra. — Eu não tenho nada relevante a dizer mesmo.
Vazio como um pacote de chips.
Min cansou de ouvir músicas. Parou o Walkman e desligou ele, enrolando os fones de ouvido no objeto.
O silêncio seguiu por mais alguns minutos agora. Ele tinha tanta coisa pra falar. Costumava nunca falar nada sobre isso, nunca, com ninguém. Sentia que aborreceria as pessoas. Que elas não saberiam o que dizer e só achariam que ele era um reclamão.
— Aposto que tem, Namjoon-ssi. — Finalmente levantou os olhos para o rosto do outro, querendo tirar aquela pequena carranca dali. — Você parece alguém que tem muitas histórias, e que já passou por muita coisa. É claro que a gente não precisa falar de você se não se sentir confortável, eu posso reclamar do meu chefe até o trem chegar. Mas... eu queria ouvir... você falar.
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a film by quentin tarantino {sugamon}
FanfictionSobre Namjoon, Yoongi, o lançamento perdido de Jackie Brown e a virada de 1998. [a @swagay and @misanthropya short-fanfiction]